O emprego em Portugal voltou a bater recordes no segundo trimestre, subindo 0,8% em cadeia até quase 5,1 milhões de pessoas, um novo máximo desde que o INE começou esta série estatística, em 2011. Esta subida foi motivada exclusivamente pelos serviços, que mais do que compensaram as perdas nos sectores primário, secundário e da construção, embora o turismo e restauração, já com uma falta estrutural de mão-de-obra, tenha sido o único ramo terciário que registou perda de trabalhadores.
Os dados do INE mostram nova subida do emprego em termos absolutos, com o terceiro trimestre a fechar com uma população empregada de 5.099,9 mil pessoas. Tal corresponde a uma taxa de emprego de 56,3%, um aumento de 0,3 p.p. em relação ao trimestre anterior, com responsabilidade exclusiva do sector terciário.
Para João Cerejeira, economista e professor universitário, são números “notáveis” que sublinham como “a economia portuguesa tem mostrado uma dinâmica de criação de emprego assinalável”. Com o emprego a continuar a crescer “e a taxa de desemprego neste nível, pode-se afirmar que esta é a taxa de desemprego natural da economia portuguesa”, continua.
A taxa de desemprego desceu 0,7 pontos percentuais (p.p.) para 6,1%, isto apesar das subidas nas leituras mensais entre abril e junho.
Ainda assim, o detalhe mostra algumas dinâmicas que vale a pena explorar. Em primeiro lugar, destaca a análise da Randstad Portugal, este crescimento foi “verificado apenas no sector dos serviços, com exceção para o sector do alojamento, restauração e similares (registou uma diminuição de 2,1%)”, um resultado curioso num ramo que se queixa de uma falta de mão-de-obra estrutural.
Um possível motivo, avança João Cerejeira, pode residir nas fracas condições climatéricas no segundo trimestre em Portugal, o que afeta, por exemplo, o turismo de praia, um dos mais relevantes no panorama nacional. Como tal, “convinha perceber no próximo trimestre se foi uma questão sazonal”.
Também na construção, o economista e especialista em trabalho estranha a variação homóloga nula e o recuo de 0,8% em cadeia, sobretudo “num sector onde aparentemente há falta de trabalhadores e os salários estão a subir”.
“É estranho que não se consiga criar emprego neste sector. Pode haver um problema de qualificações da mão-de-obra ou até de oferta, pode não haver pessoas interessadas”, completa.
Em sentido inverso, o ganho de 55 mil trabalhadores na administração pública, repartidos entre serviços administrativos e educação, pode representar mais uma fonte de pressão na despesa, caso estes postos correspondam a um efetivo crescimento da função pública.
“Isto pode ser despesa estrutural, que dificilmente pode ser comprimida se houver problemas em termos de défice”, lembra João Cerejeira. “Convém perceber se é emprego temporário ou é mesmo alargamento dos quadros da administração pública”.