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Eleições no Paquistão: resultados vão manter caos político e económico

O país com quase 250 milhões de pessoas está à décadas sob forte tensão económica e política. Quem quer que venha a ganhar as eleições terá que gerir esse caos e tentar manter os militares a uma distância recomendável: muito perto.

Ao todo, 128 milhões de pessoas (num país com uma população de 241 milhões) inscreveram-se para votar nas eleições de 8 de fevereiro para escolher 266 representantes parlamentares – entre mais de cinco mil candidatos que pertencem a uns incríveis 167 partidos políticos registados no Paquistão (ou então são independentes, o que também pode acontecer). Cerca de 44% dos eleitores são jovens, mas tradicionalmente as abstenções ultrapassam os 50%.

O partido Tehreek-e-Insaf (PTI), do ex-primeiro-ministro Imran Khan, foi impedido de usar o seu símbolo eleitoral (um o taco de críquete) – num contexto em que os seus membros se queixam amargamente de repressão por parte das autoridades. Khan, acusado de diversos crimes (corrupção, abuso) é há anos um foco de instabilidade e as autoridades acusam-no de tentativa de fomentar golpes de Estado sempre que surge ligado a qualquer manifestação partidária.

Num país destroçado, uma crise económica não podia faltar: a inflação é de quase 30% e a moeda perdeu mais de 50% de seu valor em relação ao dólar nos últimos dois anos. O FMI assinou um acordo (em julho) de prestação de auxílio de três mil milhões de dólares – mas alguns analistas consideram que – tal como sucedeu por exemplo no Líbano – é dinheiro atirado ao lixo. Só por acaso, e a dar crédito à “Al Jazeera” (que costuma tê-lo), as eleições custarão cerca de 850 mil euros, o que é quase um terço do empréstimo! Convém recordar que, em média, 12,5% do orçamento vai para gastos militares.

Entretanto, o ambiente político é de grande opacidade. Imran Khan foi condenado a prisão em pelo menos três casos diferentes, e o ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif - que já esteve preso e depois partiu para o exílio – regressou e é agora um dos principais candidatos a formar o próximo governo.

Nawaz Sharif é assim candidato a um quarto mandato enquanto líder da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N), depois de um tribunal ter anulado a condenação por corrupção de que chegou a ser alvo. O líder do partido, Shehbaz Sharif, irmão do candidato ele próprio primeiro-ministro entre abril de 2022 e agosto de 2023, assegura que a Liga se prepara para ganhar as eleições.

Nawaz Sharif, de 73 anos, não conseguiu concluir nenhum dos seus três mandatos anteriores devido à interferência do exército nos assuntos políticos do país. Aliás, com uma sociedade profundamente polarizada e incerteza face ao futuro, muitos analistas veem as eleições como um referendo sobre o envolvimento dos militares na política.

O Paquistão tem uma posição estratégica entre Afeganistão, China, Índia e Irão (com que recentemente trocou escaramuças) e a porosidade das suas fronteiras com o regime taliban é um dos ‘pontos fracos’ do regime – seja ele qual for.

As eleições de quinta-feira foram adiadas diversas vezes, oficialmente para redefinir as circunscrições após o último censo – mas os analistas dizem que isso aconteceu para que o Exército conseguisse preparar o terreno e obter um resultado favorável. Aliás, Imran Khan atribui os seus problemas com a Justiça ao exército e às armadilhas de que é alvo por parte dos serviços secretos.

As análises políticas e apontam para que nenhum dos dois principais partidos conseguirá uma maioria absoluta – o que tornará o país ainda mais ingovernável. A equação é conhecida – restando apenas saber-se se o exército é uma das incógnitas ou não. Mas décadas de história parecem indicar que nenhum político consegue governar o país se tiver os militares contra si. e isso não vai alterar-se.