Confiança é a palavra-chave neste momento na Efacec, que está neste momento a trabalhar para recuperar a confiança de clientes e fornecedores depois de uma nacionalização, seguida de tempos incertos que culminaram na venda ao fundo alemão Mutares.
Da fábrica da Maia para o mundo, o "made in Portugal" da Efacec está de volta em força. A companhia sediada em Matosinhos, distrito do Porto, prevê duplicar as suas receitas este ano.
A empresa portuguesa que atua na área da energia estima fechar o ano com 300 milhões de euros de volume de negócios face ao ano de 2023 em que atingiu os 150 milhões de euros.
Uma das suas armas para aumentar o volume de negócios é o segmento da mobilidade elétrica, e a companhia vai lançar hoje o seu novo carregador para carros elétricos, o QC180.
O novo carregador foi desenvolvido por 140 trabalhadores da companhia que investiu 18% das receitas nos últimos anos na investigação e desenvolvimento de novos produtos.
"Vamos atacar sobretudo em mercados europeus exigentes: Espanha, França, Holanda, Alemanha, Noruega, Suécia, Dinamarca", acrescentando que a empresa também aposta em vários países do leste europeu "Roménia, Hungria, Polónia" que também pretende apostar no "Médio Oriente", "Emirados Árabes Unidos, Qatar e o Kuwait". "São mercados onde já temos uma base instalada, onde já temos uma boa presença, uma relação com alguns clientes que queremos engrandecer, crescer e até melhorar", revelou ao Jornal Económico o chief technology officer da Efacec, Nuno Silva.
O peso da mobilidade elétrica nas receitas ficou abaixo dos dois dígitos em 2023, mas a empresa espera que este peso aumente para 15%-20%, com o crescimento do volume de negócios.
Já o EBITDA deverá ficar "marginalmente positivo", estando no 'vermelho' desde 2020. Este ano deverá ficar longe dos valores negativos registados nos exercícios anteriores: -39 milhões em 2021 e -91 milhões em 2022 (as contas de 2023 ainda não foram divulgadas).
"Temos a nossa cadeia de valor restabelecida, as relações com os clientes estão regularizadas, o ecossistema de parceiros e fornecedores está regularizado, as nossas unidades de produção têm todas as condições para cumprir os contratos; temos uma carteira de encomendas muito robusta e muito interessante em termos de composição. Em termos de gestão de risco, as encomendas são de baixo risco e de alto valor acrescentado, segundo Nuno Silva.
"Vai ser um ano de regresso à normalidade. O regresso a resultados algo positivos, marginalmente positivos", afirmou em relação ao EBITDA. O crescimento terá lugar nos vários segmentos de negócios: transformadores, aparelhagem para subestações e redes de distribuição, transportes, automação, mais mobilidade elétrica: "isto irá compor o que temos em pipeline este ano".
"Estamos a trabalhar para conquistar novos negócios. E temos claramente algumas encomendas de referência em países onde temos um histórico muito grande para mostrar a qualidade e a competitividade dos nossos produtos, como Alemanha, França, Espanha, Reino Unido. Este ano temos claramente um compromisso grande dos clientes que nos suportaram, em Portugal também que é muito importante para nós. Já nos Estados Unidos temos um histórico também grande, é um país com inúmeras oportunidades. Há muito espaço para a Efacec e a Europa do Norte também é super importante para nós.
Sobre o novo carregador, o gestor destaca que "esta é uma das soluções que nos fazia falta, na qual nós investimos durante o último ano em que tivemos aqui um período de alguns meses de testes exaustivos para garantir a qualidade e a performance do produto e que agora vai para o mercado com alguns alguns vetores de diferenciação: desde logo, a diferenciação tecnológica e funcional. Desde logo, a potência de 180 kilowatts, que permite cargas simultâneas, disponibiliza até 350 amperes por cada tomada no seu cabo que possibilita uma ligação remota para a gestão de cada um dos carregadores e de uma solução ainda maior e também das necessidades de manutenção. Tem terminais de pagamento direto por cartão de crédito, cumprindo assim com as novas e mais modernas normas. E tem ainda uma interface que consideramos ser fluída e bastante intuitiva. Esperemos que não só os nossos clientes que operam a infraestrutura, mas também os utilizadores finais, vejam aqui uma solução de facilidade. E o último ponto é também uma diferenciação ao nível do design", explicou ao JE.
Além destes mercados, os Estados Unidos também são um "mercado primordial", mas a Europa vai ser o mercado primário para este carregador porque a Efacec "tem outras soluções" para o mercado norte-americano, dando o exemplo do contrato fechado este ano para o fornecimento e instalação de 132 carregadores QC45 no estado do Utah.
Apesar de já estar presentes em todos os mercados já mencionados, a companhia quer "alargar" a sua "pegada e número de clientes", nomeadamente na "Polónia, Roménia e Hungria", onde tem o "potencial" de crescimento, a par de "Espanha, França, Alemanha e os países nórdicos".
Apesar de os motores a combustão interna ainda dominarem o Médio Oriente, vários países já estão a iniciar a sua caminhada rumo à mobilidade elétrica. "Este mercado está a ser desenvolvido e é impossível contornarmos. E isso acontece em todos os lados, com algumas diferenças, nomeadamente na velocidade de penetração de mobilidade elétrica. Mas até nestes países se vê uma penetração muito interessante de veículos elétricos. Portanto, as necessidades de apoio à infraestrutura de carregamento dos elétricos é muito atual e é muito premente aqui".
A empresa prevê ainda lançar este ano uma "nova solução ultra-rápida de ainda maior potência de carregamento" de 400 kilowatts.
Em termos de encomendas, o gestor aponta que a Efacec tem "ambições muito grandes" e que tem vindo a "interagir com alguns parceiros de referência", estando a "trabalhar para conseguir já capitalizar nestas parcerias com encomendas e o prenúncio é muito bom". "Esta data de lançamento prende-se com a nossa necessidade de garantia absoluta de que a nossa cadeia de produção e o nosso ecossistema de cadeia de abastecimento está preparado, está regularizado e capaz de entregar este novo produto e todos os outros que temos no devido tempo, de acordo com as necessidades dos clientes", acrescentou.
Nuno Silva destaca que a empresa tem vários tipos de contratos: "no Médio Oriente vendemos a solução inteira: desde os vários carregadores que foram instalados através de um parceiro. O cliente tem a nossa plataforma de gestão e ainda a nossa app para a interface com os clientes e para identificação dos clientes. Temos mais alguns projetos de referência, com esta solução holística. Temos outros projetos mais híbridos: entregamos a plataforma, a solução, os carregadores e o próprio cliente tem a sua força de trabalho e instala. Nos projetos mais simples, vendemos apenas o carregador e fica do lado do cliente a integração na solução e o comissionamento".
Sobre a aposta na investigação e desenvolvimento, "nos últimos anos foi feito aqui um esforço para consubstanciar esta estratégia e conseguirmos, mesmo num contexto mais adverso do qual a empresa vinha, mas de manter uma aposta na inovação para manter o investimento em desenvolvimento de produtos para que mal tivéssemos as condições, conseguíssemos efetivamente dinamizar o nosso portfólio no mercado com novas soluções. E o QC180 é um exemplo. Fizemos um grande esforço para não diminuir demasiado o nosso investimento em desenvolvimento de produto, garantindo que o nosso portfólio se mantinha atualizado e com novas e de forma evolutiva, sendo que agora a nossa expectativa é que nos foquemos exatamente nas soluções que trazem valor, que criam valor e que diferenciam a empresa", segundo o gestor.
Sobre o segmento da mobilidade elétrica, Nuno Silva diz que é uma "área em que claramente a Efacec aposta todo o seu futuro, em que tem ambições muito grandes e que consideramos que temos não só o perfil e uma boa relação com os clientes como potencialmente temos um uma força de trabalho, pessoas com competências que são verdadeiramente comprometidas e distintivas e que nos levarão de facto a ter o sucesso que esperamos". "Sendo uma unidade cujo período de vida dos produtos, desde a sua encomenda até ao seu fabrico, é muito curto, foi uma unidade que teve um impacto grande. Contudo, pelas limitações que vivemos também é a unidade que mais rapidamente pode evoluir: esperamos que nos próximos dois anos supere os 15%-20% do volume total de negócios", acrescentou.
"Da Maia para o mundo. 'Made in Portugal' com muito orgulho. São produzidos cá e grande parte do ecossistema de fornecedores também é português", rematou Nuno Silva.