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EDP enfrenta rival espanhola em leilão offshore nos EUA

Quando concluído, projetos vão ter a capacidade de fornecer um milhão de famílias americanas. As empresas que vencerem o leilão vão ter de investir entre 13,5 mil milhões e 15 mil milhões para construir os três gigas.

Oregon é um estado norte-americano com poucas referências para Portugal. Uma das suas exportações mais famosas para o mundo são os Portland Trail Blazers, equipa que milita na NBA e que chegou às finais no início dos anos 90 liderada pelo lendário jogador Clyde Drexler.

Mas vai ser nas águas deste estado no noroeste dos EUA, banhado pelo Oceano Pacífico, que a EDP Renováveis vai a jogo num leilão eólico offshore que vai ter lugar a 15 de outubro, através do consórcio Ocean Winds, em parceria com os franceses da Engie.

Os 3,1 gigawatts vão ter capacidade para abastecer os lares de um milhão de famílias quando estiverem operacionais.

São duas áreas com quase 800 km2 na costa sul do estado: Coos Bay a mais de 50 km da costa; e Brookings a quase 30 km.

O leilão é o sexto offshore lançado pela administração Biden e o segundo a ter lugar nas águas profundas do oceano Pacífico.

E quanto é que vai ser preciso investir para construir toda esta potência? Uma fonte do sector energético revelou ao JE que o valor de investimento necessário para construir os 3 gigas marítimos atinge um valor entre os 13,5 mil milhões os 15 mil milhões de euros, tendo em conta os valores do benchmark, sendo de prever que os três gigas fiquem divididos por várias empresas.

A Ocean Winds vai contar com concorrentes de peso neste leilão, como a Avangrid Renewables, detida pela espanhola Iberdrola, grande rival da EDP na Ibéria, mas com um poder de fogo superior: registou um EBITDA acima de 14 mil milhões em 2023, face aos cinco mil milhões da EDP.

Segue-se a espanhola BlueFloat Energy (parceira da Greenvolt para o futuro leilão eólico offshore em Portugal),  a irlandesa Mainstream Renewable Power e a norte-americana South Coast Energy Waters.

O Bureau of Ocean Energy Management (BOEM), autoridade federal, já leilou cinco áreas na costa da Califórnia para desenvolver projetos eólicos offshore flutuantes, tendo já aprovado seis projetos na costa leste do país.

A administração Biden tem planeados até uma dúzia de leições offshore até 2028, esperando atingir 30 gigawatts até 2030, o equivalente para abastecer 10 milhões de famílias durante um ano.

A construção deverá ter lugar durante cinco anos a partir de 2025.

bid mínimo na área de Brookings é de quase 6,7 milhões de dólares, atingindo os 3 milhões na área de Coos Bay, sendo necessário prestar uma caução de 2 milhões de dólares.

Contactada pelo Jornal Económico, a EDP Renováveis rejeitou fazer comentários sobre o leilão do Oregon e sobre os projetos em curso nos EUA.

A Ocean Winds conta com vários projetos em desenvolvimento nos EUA: SouthCoast Wind no Massachusetts, com 2,4 gigawatts, com tecnologia fixa; Bluepoint Wind ao largo de Nova Jersey, com 2,4 gigas, com tecnologia fixa; Golden State Wind na Califórnia com dois gigas.

A operação na América do Norte pesou mais de 30% no EBITDA recorrente da EDP Renováveis em 2023, com a Europa a ser responsável por quase 60% do total de 1.845 milhões de euros.

O mercado norte-americano é crucial para a estratégia da EDP/EDPR. A OPA lançada pelos chineses da CTG sobre a totalidade do capital da empresa, em 2016, foi travada depois de a Casa Branca de Donald Trump ter chumbado a operação.

O aviso de Washington chegou via páginas do Jornal Económico: “Opomo-nos absolutamente a esse negócio. Ora, a EDP está localizada nos Estados Unidos. Em nenhuma circunstância os chineses vão controlar o que a EDP tem nos Estados Unidos, o terceiro maior produtor de energia renovável”, disse George Glass, então embaixador dos EUA em Portugal, na entrevista publicada no JE a 15 de março de 2019. Mais: ameaçava desmantelar a EDP nos EUA, se a CTG tentasse prosseguir a operação. O que nunca aconteceu. O óbito da OPA foi declarado a 15 de março de 2019.

Sobre o regresso de Trump à Casa Branca, o CEO da EDP Miguel Stilwell d’Andrade já disse que “o crescimento das energias renováveis nos EUA tem sido conduzido pelos estados. Não é preciso nenhuma licença federal”.

Apesar das perspectivas mais otimistas da companhia, há analistas que estão a deixar alertas sobre os riscos que Donald Trump representa para os investimentos verdes nos EUA.

A consultora Wood Mackenzie acredita que a vitória de Donald Trump vai colocar em risco um bilião de dólares de investimentos em energia e apoio às energias renováveis.

A consultora acredita que Trump na Casa Branca vai colocar em práticas medidas que reduzem os apoios à energia renovável, à compra de carros elétricos e a tecnologias de captura de carbono. O objetivo? Promover a produção de combustíveis fósseis.

Por seu turno, um estudo da Bloomberg Intelligence (BI) aponta que Donald Trump poderá colocar em causa o programa IRA, criado pela administração Biden.

Dos 433 mil milhões de dólares em apoios, empréstimos e créditos fiscais, uma fatia significatica de 370 mil milhões poderá estar em risco.

“Uma vitória de Trump poderá ameaçar o crescimento estimulado pelo IRA, especialmente no sector da energia verde. Apesar de um cancelamento total ser improvável, podem estar na calha cortes aos incentivos fiscais”, disse a BI.

Outra das dúvidas é sobre a energia eólica offshore. “Uma administração Trump seria negativa para a indústria eólica offshore. A questão é até que ponto. Estamos a ver linguagem de Trump que sugere uma resposta mais retaliatória”, disse em maio à “Bloomberg” Timothy Fox, da empresa de research ClearView Energy Partners.

O candidato republicano disse este ano num evento privado de angariação de fundos no estado da Florida que odeia centrais eólicas, segundo a “Bloomberg”.

Mapa das duas áreas que vão ser licitadas no leilão. Fonte: Bureau of Ocean Energy Management (BOEM)