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É a água, Estúpido!

Perante um recurso que se vai tornar escasso, a Humanidade pode não vir a ter outro caminho do que recorrer à tecnologia para sobreviver.

Quando, em 1992, James Carville, o criativo e estratega da campanha presidencial de Clinton contra Bush, afixou na sede de Clinton a frase “Its the economy” estava certamente longe de imaginar (ou não) que esta frase havia de se tornar o centro da campanha e talvez o mote que havia de levar à vitória dos Democratas e à famosa frase de Clinton: “Its the economy, stupid”.

É certo que esta frase (estupidamente simples...) fazia parte de um conjunto de três, nas quais os estrategas de Clinton se deveriam focar: "change vs. more of the same" (mudança vs. mais do mesmo) e "don't forget health care" (não esquecer a assistência médica). Mas foi de facto esta frase que marcou a campanha e, passados 25 anos, ainda é uma referência para inúmeros artigos.

Vem isto a propósito do tema tão em voga da “Água” e, por isso, podemos, por uma certa analogia, dizer que um dos temas centrais na economia e da sociedade do século XXI é, de facto, a água, ou melhor a falta de água que irá assolar o Mundo nos próximos séculos.

É verdade, a grande riqueza dos séculos XXI e XXII (se a Humanidade lá chegar…), não é o petróleo (o famoso “ouro negro”), nem tão pouco o lítio (que até faz o Presidente Xi Jinping ter insónias), mas sim a água.

Todos os recursos são finitos e, por isso, por definição a água é finita. É certo que o planeta Terra parece ter uma capacidade quase infinita de regeneração, mas não. Tudo é finito e o ser humano já provou, no passado, que tem uma capacidade feroz para acelerar estes processos.

Assim, tal como tem vindo a ser debatido em vários fóruns da especialidade, as alterações climáticas vieram para ficar e a questão da água (ou falta dela…) também.

Nesse sentido, a Humanidade precisa de lançar rapidamente um Programa Mundial de eficiência “aquática” que assente em três pilares: i) mais eficácia e eficiência na sua utilização e consumo; ii) reutilização de “diferentes” tipo de águas; e, por fim, iii) o desenvolvimento de soluções tecnológicas de última geração que permitam “obter” água através de diferentes fontes.

É aqui que entra uma tecnologia que tem vindo a ser desenvolvida há alguns anos e que permite a utilização da água do mar para utilização humana. A tão famosa dessalinização que desperta horrores nos mais céticos, e nomeadamente também nos “ambientalistas”, mas que permite fornecer, já hoje em dia, água a milhares de pessoas em todo o Mundo.

Uma coisa parece certa. Perante um recurso que se vai tornar escasso, a Humanidade pode não vir a ter outro caminho do que recorrer à tecnologia para sobreviver. Felizmente, a inteligência humana consegue desenvolver conhecimento sobre matérias cada vez mais complexas e consegue, já hoje, de forma muito eficaz e eficiente, proceder não ao milagre da multiplicação dos pães, mas à dessalinização da água.

Vários países já recorrem a este processo há vários anos. Veja-se os casos paradigmáticos de Israel e da Arábia Saudita (obviamente que por razões muito específicas), mas veja-se também o caso mesmo aqui ao lado de Espanha, que já tem dezenas de dessalinizadoras, e mesmo Portugal tem uma na ilha de Porto Santo desde os anos 80.

Assim, parece-nos oportuno que mais do que rejeitar liminarmente este tipo de tecnologias, os Governos procedam a estudos técnicos aprofundados que permitam, cada vez mais, ter conhecimento sobre este processo, porque vamos mesmo precisar dele.

É certo que é um processo com consumos energéticos, é certo que é um processo que gera resíduos. Mas a mesma tecnologia que permite a dessalinização da água, também permite baixar o custo de produção, a eficiência energética do processo e a “transformação” dos resíduos em matérias-primas secundárias.

A terminar fica ainda uma nota. Já agora, que a Europa não cometa com a água o mesmo erro crasso que cometeu nos últimos anos quando deixou, deliberadamente, deslocalizar para a Ásia a produção industrial de todo um conjunto de bens e de equipamentos, assim como ficar dependente de cadeias de abastecimento e de matérias-primas com origem em países de forte instabilidade política.