A atividade industrial na zona euro continuou a cair no mês de outubro, dando continuidade à recessão no sector secundário europeu, muito à custa da fragilidade germânica. Internamente, o governo alemão parece estar mais próximo de colapsar do que nunca, juntando à crise económica uma provável crise política fruto de um Orçamento do Estado (OE) não aprovado pela coligação ‘semáforo’.
O índice de gestores de compras (PMI) para a zona euro até subiu em outubro, saltando 1,0 ponto para 46,0, o que continua a ser, ainda assim, uma leitura consistente com um cenário de queda da produção e abrandamento do sector. O caso mais preocupante continua a ser o alemão, onde o índice até subiu ligeiramente, mas continua em terreno bastante negativo, com uma leitura de 43,0 pontos.
É o valor mais baixo entre as principais economias do bloco europeu e novo sinal negativo que adensa as preocupações com uma possível recessão este ano (tal como em 2023), uma possibilidade agravada pela tensão a envolver atualmente o governo liderado por Olaf Scholz. O OE para 2025 já prometia muita discussão e incerteza, e, à entrada para uma semana decisiva, as perspetivas não são as melhores.
Mergulhada numa crise estrutural após anos de desinvestimento em indústrias chave – do qual o melhor exemplo é a Volkswagen, que anunciou recentemente ir fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez na sua história –, a economia germânica é uma das mais visadas pelo ‘Plano Draghi’, com vista à reindustrialização europeia.
É precisamente na resposta a estas fragilidades sistémicas que a coligação no poder começa a mostrar fraturas. Por um lado, os Democratas Livres do ministro das Finanças, Christian Lindner, que defendem uma abordagem liberal, com redução de impostos e dos gastos públicos; por outro, os Verdes do ministro da Economia, Robert Habeck, defensores de uma política mais intervencionista.
As diferenças entre as visões dos dois partidos tornaram-se ainda mais evidentes na sexta-feira, quando o partido de Lindner avançou unilateralmente com um documento de propostas orçamentais na sua linha liberal, incluindo uma série de cortes em programas e objetivos ambientais, sugestões que não caíram bem no campo do partido dos Verdes.
Menos impostos sobre as empresas, abolição do adicional de solidariedade, prolongamento dos horários de trabalho e da idade mínima de reforma, redução de subsídios ambientais e sociais são algumas das medidas emblemáticas do documento apresentado no final da semana passada pelos Democratas Livres.
Na mesma linha, as propostas do atual ministro das Finanças escudam-se na cláusula nacional relativamente ao saldo orçamental e nas novas regras orçamentais europeias para retirar qualquer margem de manobra, refere a análise do banco ING.
Perante este cenário, uma aprovação do OE torna-se bastante improvável. “O governo alemão entrou numa nova fase de uma crise política de fogo lento que pode bem ser o último passo antes do eventual colapso da coligação”, escreve Carsten Brzeski, líder global de macro do ING, isto apesar de Lindner se ter comprometido a aprovar a proposta governamental.
“Na teoria, um compromisso é possível, mas um compromisso sem uma ‘perda de face’ política parece cada vez mais improvável. No entanto, mesmo que Lindner se retirasse da coligação de governo, tal não desencadearia automaticamente eleições. Na realidade, só o presidente federal pode anunciar novas eleições se um chanceler perder um voto de confiança no parlamento. Uma alternativa a eleições antecipadas pode ser um governo minoritário até às eleições (em setembro de 2025)”, detalha o analista.
O voto do parlamento alemão na generalidade sobre a proposta de OE realiza-se a 14 de novembro.