A cotação da onça de ouro (28,3495 gramas) estabeleceu novos recordes, esta segunda-feira, 1 de abril, atingindo 2.262,19 dólares (cerca de 2,104.95 euros) no mercado à vista e 2.265,6 dólares (cerca de 2.108,11 euros) nos contratos de futuro, mantendo uma tendência de valorização sustentada iniciada em meados de 2018 e que se afirmou no último ano.
Desde novembro, altura em que o ouro fechou um mês, pela primeira vez, acima dos 2.000 dólares norte-americanos (cerca de 1.863,4 euros, ao câmbio atual), o valor da onça 13,35%. Desde o início do ano, a valorização é de cerca de 9%.
A cotação do ouro reage à política monetária definida pela Reserva Federal norte-americana (Fed) e à evolução do dólar, que é um fator determinante para a formação do seu preço.
“As subidas do ouro estão a ser impulsionados pelas expectativas à volta do momento em que os juros nos EUA [Estados Unidos da América] deverão começar a ser reduzidos, e que se espera que esteja para breve”, explica ao Jornal Económico (JE) Henrique Tomé, analista da corretora XTB. “Os dados macroeconómicos mais recentes sobre a inflação saíram em linha com as expectativas dos analistas e voltaram a evidenciar que as pressões sobre os preços estão de facto a abrandar na maior economia mundial, o que pode ser visto como um antecipador para as restantes economias”, acrescenta.
Os analistas continuam a prever que a Fed corte as taxas de juro no início do verão, ainda que o presidente da autoridade monetária norte-americana, Jerome Powell, não se tenha comprometido, na semanada passada, com uma data e tenha sublinhado que a Fed não quer apressar a descida do preço do dinheiro.
“O comportamento das yields [taxas de rendibilidade] no mercado secundário também está a apoiar o ouro, ainda que o dólar americano tenha vindo a recuperar alguma força ao longo dos últimos meses”, refere Henrique Tomé, considerando que, “se a perspetiva em torno da baixa da taxa de juro se materializar deverá pressionar o dólar e beneficiar o ouro”.
A valorização do ouro é suportada, também, pelas compras diretas dos bancos centrais, que diversificam as suas reservas, esperando que o abrandamento da inflação abra caminho a taxas de juro mais baixas.
A China também tem tido uma influência significativa no mercado, pela procura no retalho por parte dos investidores, mas igualmente pela ação do banco central. A valorização do “metal amarelo” regista-se num quadro de valorização do dólar, o que costuma impactar negativamente a evolução do ouro, o que indicia que existe uma procura real.
“Este movimento ascendente deriva não apenas das perspetivas de uma redução dos juros nos EUA, assim como na zona euro, mas especialmente da forte procura pelo metal precioso, nomeadamente por parte da China, que tem vindo a transformar as suas reservas soberanas de dólares norte-americanos para ouro”, diz Mário Martins, administrador da corretora ActivTrades Brasil, ao JE.
A tudo isto, acresce a instabilidade geopolítica, com duas guerras relevantes em curso – com a invasão russa da Ucrânia e pelo conflito entre Israel e o grupo islamita palestiniano em gaza –, de que beneficia o ouro como valor de refúgio.
“A instabilidade geopolítica a que se tem assistido também tem apoiado as valorizações no ouro, no entanto, tem vindo a diminuir com o passar do tempo”, considera Tomé. “Contudo, caso as tensões voltem a escalar é de esperar que o preço do ouro aprecie”, avisa.
O dólar tem-se valorizado este ano, especialmente no último mês, como mostra o índice DXY, que compara a divisa norte-americana com um cabaz de seis outras moedas – euro, franco suíço, iene japonês, dólar canadiano, libra esterlina e coroa sueca –, em que subiu 2,4%, superando, esta segunda-feira, os 105 pontos.