A confiança dos empresários alemães continua a deteriorar-se, numa altura em que se voltam a adensar as preocupações com uma possível recessão na maior economia do mundo e que paira no ar a ameaça de um avanço hostil do UniCredit sobre o segundo maior banco comercial da Alemanha, o Commerzbank. O executivo liderado por Olaf Scholz já se manifestou contra a operação de controlo desencadeada pelo banco italiano, que aumentou a participação para cerca de 21%, e diz que apoia a “estratégia de independência” do banco alemão. Já o UniCredit sinaliza a "crença de que uma forte união bancária dentro da Europa é essencial para o sucesso económico do continente", numa alusão à estagnação do bloco do euro pressionado com os temores da recessão da Alemanha, que regista uma queda da confiança empresarial, ampliando os sinais de recessão.
Com o banco italiano a defender que reforça a solidez do sistema financeiro europeu, referindo que "assegurar o crescimento e a competitividade dentro do setor bancário alemão é crítico para a economia alemã e para a Europa como um todo", Berlim teme pelo papel do Commerzbank e pelos possíveis despedimentos de trabalhadores excedentários.
As preocupações do chanceler alemão adensam-se agora com os dados desta terça-feira, que mostram que a atividade empresarial alemã contraiu em setembro pelo ritmo mais acentuado em sete meses, colocando a economia no caminho para registar um segundo trimestre consecutivo de queda na produção.
A confiança dos empresários alemães continua a cair e adensam-se as preocupações com a performance do motor industrial europeu até final do ano. Agora foi o índice Ifo a cair, marcando assim o quarto mês consecutivo de queda, com o subindicador referente à situação económica atual a registar a maior contração.
O índice compilado pelo Instituto Ifo caiu de 86,6 em agosto para 85,4 em setembro, ficando abaixo das expectativas dos analistas, de 86,0 pontos. O índice referente às expectativas de médio-prazo caíram meio ponto para 86,3, enquanto o relativo às condições económicas atuais recuou dois pontos para 84,4.
Esta leitura foi divulgada no dia seguinte à dos índices de gestores de compras (PMI) de setembro, que voltou a recuar, desta feita pelo quinto mês consecutivo. O indicador composto tocou mínimos de fevereiro, enquanto a indústria registou a leitura mais baixa do último ano.
Este cenário é condizente com as dificuldades económicas vividas no motor industrial europeu, que, segundo vários analistas, tem vindo a tornar-se cada vez mais no “homem doente da Europa”, lembra Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. Um bom exemplo é o sector automóvel, onde as marcas alemãs eram líderes, mas têm visto a sua posição ameaçada pela concorrência chinesa.
“No fundo, é um pouco o que se trata na UE - temos uma manta de retalhos”, resume.
Scholz garante oposição a operação do UniCredit
Depois do anúncio pelo UniCredit de que estava a tentar aumentar a sua posição no Commerzbanz para 21%, o próprio chanceler alemão veio criticar a operação, falando numa “operação hostil” e manifestando a sua “oposição clara” à consolidação. Em resposta, o banco suíço defendeu que a consolidação do sector bancário alemão “é crítico para a economia alemã”.
Paulo Monteiro Rosa concorda que a operação seria positiva do ponto de vista do robustecimento financeiro germânico, mas reconhece que a posição do Governo é também compreensível, sobretudo dada a expectável redução de pessoal que a operação significaria no Commerzbank.
“O UniCredit em princípio fará uma contenção de custos que poderá passar por uma redução de pessoal, que é um dos fatores que os alemães alegam”, explica, lembrando que “não é só o Governo, é também a alguma da oposição” a manifestar-se contra a consolidação. Por outro lado, o Commerzbank acaba por atuar “quase como um banco público, que emprega, que tem uma parte social”, o que torna a postura do governo liderado por Olaf Scholz mais compreensível.
Simultaneamente, “a operação tem sido feita com instrumentos derivados, o que também pode ser um travão”, acrescenta, embora a decisão final caiba sempre ao Banco Central Europeu (BCE).