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Cimeira do G20 garantiu uma declaração 'politicamente correta'

Omissa nos capítulos da justiça social e das desigualdades, pouco explícita em relação à guerra na Ucrânia, o facto de haver uma declaração final parece ser uma vitória diplomática. em novembro do próximo ano, no Rio de Janeiro, há mais.

Desafiando algumas previsões mais radicais, os líderes do G20, reunidos em Nova Deli, Índia, conseguiram ‘costurar’ uma declaração final consensual. Como o fizeram? Sendo necessariamente vaga, deixando de lado alguns problemas (como a guerra) e preferindo temas onde a convergência é mais simples, como o clima, a luta contra as alterações climáticas e a versão costumeira da justiça para o globo.

Narendra Modi, o anfitrião, anunciou que os líderes mundiais concordavam com uma declaração conjunta, Moscovo saudou-a pelo seu "equilíbrio" e só o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia a criticou por não mencionar a invasão da Rússia.

Nova Deli tem andado na corda bamba diplomática entre o Ocidente e sua tradicional aliada, a Rússia, e tem resistido aos esforços dos Estados Unidos para condenar a invasão. Nada que não se tivesse passado antes – mas desta vez com o acrescento de um facto incontornável: a ausência de Xi Jinping, o presidente chinês, que nunca tinha falhado uma cimeira do G20.

O facto de a cimeira ter lugar na Índia – país que mantém um diferendo com a China – ajudou à ausência, mas não chega para a explicar: Pequim observa a plataforma dos 20 com cada vez maior distanciamento face às suas opções estratégicas. E sabe que o G20 sem a China não será a mesma coisa.

Mesmo assim, houve outras vitórias geopolíticas. Uma delas foi a entrada da União Africana no G20 como membro de pleno direito. A sua admissão "sinaliza um passo muito positivo para o tipo de reformas que sempre defendemos em relação à reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a reforma de várias instituições financeiras multilaterais globais", disse Anrtónio Guterres, o secretário-geral da ONU que também viajou para a Índia.

A declaração de Nova Deli anunciou a criação de um Centro de Inovação de Hidrogénio Verde, a triplicação das energias renováveis até 2030 e a criação de uma aliança global de biocombustíveis.

No domingo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, que substitui Putin na cimeira, declarou que o encontro “foi um sucesso" e agradeceu aos países do Sul Global por manterem uma posição consolidada sobre a Ucrânia. Mas a maioria dos analistas optou por considerar a cimeira pouco criativa em termos da luta contra as alterações climáticas e omissa em relação às desigualdades económicas – que em ocasiões anteriores mereceu destaque especial.

A próxima cimeira do G20 será no Rio de Janeiro em novembro de 2024, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a assumir a presidência. Nesse papel, o Brasil terá alguma influência na agenda. E pela primeira vez, a União Africana terá assento na cimeira, representando 55 países, incluindo alguns dos mais pobres do mundo. As posições políticas de Lula da Silva são bem conhecidas, o que leva alguns analistas a anteciparem que talvez as questões de desigualdade, da pobreza e da reforma das finanças globais sejam ‘empurradas’ para a agendo do próximo ano.