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Cimeira do G20: chegou a vez dos “invisíveis”

O presidente do Brasil lançou oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza na cerimónia de abertura da cimeira do G20, marcada pela decisão dos EUA de autorizarem os ataques profundos à Rússia.

 

O presidente brasileiro, Inácio Lula da Silva, lançou oficialmente a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza durante a abertura da Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo do G20, esta segunda-feira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A cerimónia contou com a presença, entre outros, dos presidentes Joe Biden (EUA), Olaf Scholz (Alemanha), Xi Jinping (China) e Emmanuel Macron (França), além dos demais líderes das maiores economias do mundo e de países convidados. Contudo, todos os presentes estavam fixados no facto que estava a marcar a atualidade: a decisão de Biden de permitir que armas dos EUA sejam usadas para ataques profundos à Rússia por parte do exército da Ucrânia – e o consequente aumento da tensão.

De qualquer modo, na apresentação do projeto, Lula da Silva citou um dado da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO): 733 milhões de pessoas estão subnutridas em 2024. O presidente brasileiro reforçou que são mulheres, homens e crianças cujo direito à vida, à educação e à alimentação tem sido negado e ressaltou que, num mundo onde são produzidas seis biliões de toneladas de alimentos por ano, além de um gasto militar na ordem dos 2,4 biliões de dólares, “a fome é inaceitável”.

“A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenómenos naturais; são produto de decisões políticas que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade. Compete aos que estão aqui a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a sociedade. Este será o nosso maior legado. Porque não se trata apenas de fazer justiça; essa é uma condição imprescindível para construir sociedades mais prósperas e um mundo de paz. E o Brasil sabe que é possível com a participação da sociedade civil”, afirmou Lula, conforme citado por comunicado do seu gabinete.

Segundo o presidente do Brasil – que lidera rotativamente o G20 – pessoas que sempre foram consideradas invisíveis estarão ao centro da agenda internacional com a ajuda da Aliança, que já conta com a adesão de 81 países, 26 organizações internacionais, nove instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e organizações não governamentais. O programa conta com um portal dedicado a levar informações técnicas, detalhadas e atualizadas sobre a Aliança Global, atuando como facilitador para quem tem interesse em fazer parte da organização. O site conta com versões em português e inglês, onde é possível aceder à agenda de eventos, notícias recentes e instruções para participar, bem como documentos fundamentais da Aliança, como a Declaração de Compromisso. Também está disponível uma chamada Cesta de Políticas, um instrumento da Aliança Global que fornece um menu de programas e instrumentos políticos, rigorosamente avaliados, que podem ser adaptados a contextos nacionais ou subnacionais específicos.

 

A Guerra, para além da fome

Com o ministro dos Negócios Estrangeiros já no Brasil, o dia ficou marcado pela notícia de que os EUA levantaram a proibição do uso de armas oriundas da sua indústria contra a Rússia. A decisão, inesperada, surge como resposta – segundo alguns analistas – à evidência de que o presidente eleito, Donald Trump, não irá manter o nível de ajuda à Ucrânia a que os democratas se obrigaram.

A decisão pode ajudar Kiev a defender a posição na região russa de Kursk, tomada como alavanca em qualquer negociação de guerra, mas pode chegar tarde demais para mudar o curso da guerra, disseram analistas citados pela Reuters. Analistas militares afirmaram que o impacto no campo de batalha, onde a Ucrânia está em dificuldade há meses, dependeria de quais limites permaneceriam. Mas, embora a mudança possa fortalecer a operação de Kursk, é improvável que seja uma viragem no caminho da guerra. "A decisão chega tarde e, como outras decisões nesse sentido, pode ser tarde demais para mudar substancialmente o curso dos combates", disse Michael Kofman, membro do Carnegie Endowment for International Peace.

Também não há como saber quanto tempo a nova política vai durar – até porque a decisão foi criticada por Richard Grenell, um dos conselheiros de política externa mais próximos de Donald Trump – que tem criticado a escala da ajuda dos EUA a Kiev. De qualquer modo, o presidente eleito ainda não se referiu diretamente ao assunto.

Há vários meses que a Ucrânia pressiona pelo fim da proibição, argumentando que a sua incapacidade de atingir áreas dentro da Rússia, em particular bases aéreas militares, era uma grande desvantagem. Como era de esperar, a Rússia diz que a Ucrânia não pode disparar os mísseis contra alvos dentro da Rússia sem a ajuda direta dos aliados da NATO e que a decisão significa que os Estados Unidos estão diretamente envolvidos no conflito.

Os primeiros ataques ucranianos podem acontecer nos próximos dias e provavelmente serão realizados usando foguetes ATACMS, que têm um alcance de até 306 km, informou a Reuters. Uma autoridade de defesa da Europa Central disse à agência que os ataques dariam a Kiev maior amplitude na defesa contra ataques aéreos, mas não mudariam decisivamente o conflito a favor da Ucrânia. Até porque a Rússia já moveu muitos aviões para fora do alcance das armas ocidentais instaladas na Ucrânia.

Segundo as agências noticiosas, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, que já está no Brasil, não deverá, pelo menos oficialmente, falar sobre o assunto. Segundo a agência TASS, em uma notícia posterior à tomada de posição emanada de Washington, a porta-voz do Ministério, Maria Zakharova, afirmou que Lavrov falará em sessões sobre o combate à desigualdade, fome e pobreza, bem como sobre a reforma das instituições globais. E acrescentou que o ministro está a programar realizar uma série de conversas bilaterais à margem do evento.

De qualquer modo, a resposta de Moscovo “será apropriada e firme”, disse Maria Zakharova. "O uso de projéteis de longo alcance pelo regime de Kiev para ataques ao nosso território significará o envolvimento direto dos EUA e seus satélites no combate contra a Rússia, bem como uma mudança radical na essência e natureza do conflito. Nesse caso, a resposta da Rússia será apropriada e tangível", observou.

"Ainda não está claro se essas notícias são baseadas em fontes oficiais". Uma coisa é óbvia: no meio dos fracassos do regime de Kiev, os seus manipuladores ocidentais estão apostando na escalada máxima da guerra híbrida desencadeada contra a Rússia, tentando atingir o objetivo ilusório de derrotar estrategicamente Moscovo. No entanto, não importa o quanto Zelensky e seus amigos esperem por isso, não há 'arma milagrosa' capaz de afetar o curso da operação militar especial", disse Zakharova, citada pela TASS.

Recorde-se que o presidente russo, Vladimir Putin, disse a 12 de setembro que a possível decisão de usar mísseis ocidentais de longo alcance contra a Rússia significaria o envolvimento direto dos Estados Unidos e de outros países da NATO no conflito na Ucrânia. E que isso mudaria tudo.