O governo chinês anunciou uma série de medidas para estimular um mercado imobiliário há muito em crise, incluindo a possibilidade de as autoridades locais comprarem casas para as disponibilizarem a preço acessível, bem como a eliminação de várias restrições do lado financeiro. O objetivo será colocar as bases para evitar um desastre de maior escala com um colapso do sector, onde os sinais negativos têm sido abundantes, com os mercados a reagirem com otimismo após trimestres de expectativa por um pacote de estímulos deste género.
Pequim anunciou as medidas na sexta-feira, 17 de maio, após vários trimestres de expectativa dos mercados e analistas quanto a estímulos face a uma situação que ameaçava tornar-se catastrófica. Recorde-se que os últimos anos viram falências de gigantes imobiliárias com balanços na ordem dos milhares de milhões de dólares, como a Evergrande e a Country Garden, além de uma queda no investimento imobiliário e preços das casas.
Uma das principais novidades prende-se com a possibilidade de os governos locais avançarem para a compra de casas para as disponibilizarem posteriormente no mercado de arrendamento ou compra a preços acessíveis. Esta estratégia replica as desenhadas no passado pelos governos japonês ou norte-americanos, apontam os analistas.
“Nas cidades com um grande inventário de imobiliário residencial, o governo pode avançar com a compra de algumas unidades a um preço razoável e usá-las como alojamento a preços acessíveis”, afirmou o vice-primeiro-ministro He Lifeng em conferência de imprensa citado pelo France Presse. Não foram, contudo, avançados números para quantas casas seriam adquiridas.
Segundo a Capital Economics, serão 500 milhões de yuan (63,8 milhões de euros) facilitados pelo banco central para a conversão de unidades não vendidas em habitação social e outra linha de igual montante para financiar o mercado, duas medidas que, em conjunto, “poderão impulsionar as vendas de casas novas por 10%”, estima o think-tank.
O anúncio quanto às medidas de estímulo surgiu no mesmo dia em que foram conhecidos novos dados macro vindos da China, mostrando que os problemas no imobiliário persistem. Os preços das casas novas recuaram 0,6% em cadeia em abril, ou 3,5% comparando com igual período do ano passado, enquanto o investimento imobiliário recuou 9,6% em termos homólogos.
Além desta alteração, Pequim irá relaxar algumas restrições financeiras nos créditos à habitação. O mínimo quanto ao valor de entrada para aquisição da primeira habitação desceu de 20% para 15%, um dos valores mais baixos na história económica chinesa, e de 30% para 25% no caso da segunda habitação.
Também o limite inferior para os spreads no crédito à habitação deixa de vigorar a nível nacional, outra medida que deverá estimular a procura. Por outro lado, os juros associados aos créditos à habitação provenientes de um fundo de previdência imobiliário irão descer em 0,25 pontos base (p.b.) para quem compra casa pela primeira ou segunda vez.
Para Rosalea Yao, analista da Gavekal citada pelo ‘New York Times’, “os legisladores chineses estão deseperados por impulsionar as vendas”, dado o elevado inventário residencial do país, que chegou a 782 milhões de metros quadrados em abril. Já os analistas do HSBC falam “num ponto de inflexão iminente” no mercado após as políticas anunciadas pelo governo central, falando num “efeito significativo caso as medidas sejam implementadas corretamente”.