Dez mil soldados a marchar nas ruas de Pequim. Novas armas para mostrar ao mundo. Recados para Donald Trump e os líderes mundiais. Houve tanques, drones, caças e bombardeiros, e também mísseis nucleares de longo alcance.
A parada militar do Dia da Vitória - que celebra o fim da invasão japonesa da China em 1945 - contou com a presença de líderes de 26 países, com destaque para os líderes russo, norte-coreano e iraniano, mas também os da Sérvia e Eslováquia.
“A nação chinesa é uma grande nação que nunca é intimidada por quaisquer bullies [agressores]", afirmou Xi Jinping, no que muitos especialistas acreditam ser uma referência direta à retórica inflamada de Donald Trump para com a China.
"O grande rejuvenescimento da nação chinesa é imparável”, disse o presidente chinês em discurso citado pela “CNN”, defendendo a construção de um exército de “classe mundial”.
O presidente chinês, também secretário-geral do Partido Comunista, tem conduzido a modernização do Exército de Libertação do Povo (ELP), o exército do país, na última década.
Donald Trump reagiu à parada militar dirigindo-se ao presidente chinês e aos outros líderes. “Por favor, deem os meus sinceros cumprimentos a Vladimir Putin e Kim Jong Un, na vossa conspiração contra os Estados Unidos da América”.
Entre o armamento revelado encontram-se armas laser, drones aéreos e subaquáticos, caças e mísseis nucleares com a capacidade de percorrer 5.500 kms.
Uma das estrelas foi o caça J15-DT, concebido para operar em porta-aviões, e o míssil intercontinental lançado de submarinos. A ideia de Pequim é ter uma tríade de mísseis nucleares que possam ser lançados do ar, mar e terra.
Esta demonstração serviu para "dar que pensar aos EUA, Europa e vizinhos da China, caso decidam desafiar os interesses chineses", disse ao "Guardian" o analista Drew Thompson.
Já o professor Ying-Yu Lin, da Tamkang University em Taiwan, destacou que Pequim aprendeu várias lições com a invasão russa da Ucrânia e o uso massivo de drones, algo impensável em conflitos anteriores.
Para a professora Jennifer Parker, da Universidade de New South Wales em Camberra, as paradas militares têm muito de espetáculo, podendo não corresponder à capacidade real. No entanto, aconselha a não subestimar as capacidades chinesas. "Eles têm um exército muito capaz e penso que devemos estar muito preocupados".
“Xi Jinping fez da modernização militar uma das suas prioridades pessoais e tem puxado muito por melhorias do exército. Esta parada é uma oportunidade para mostrar os avanços do ELP durante a sua liderança”, afirmou o analista Brian Hart, do China Power Project at the Center for Strategic and International Studies, citado pela “CNN”.
Outra novidade foram os 'lobos robôs', que podem desempenhar funções como reconhecimento ou transportar munição, que funcionam à base de Inteligência Artificial (IA).
Por seu turno, o analista Wen-Ti Sung destacou que "Pequim está a enviar uma mensagem. Mesmo se os países ocidentais continuarem a sancionar a Rússia devido à guerra na Ucrânia, Pequim não tem medo de ficar ao lado dos seus amigos".