O Center for Sustainable Finance da Católica-Lisbon em parceria com o IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação vai capacitar profissionais e empresas, em particular PME, para as finanças sustentáveis.
Guia Prático de Sustentabilidade para Empresas – Perspetiva Financeira, assim se designa o curso, tem como objetivo dotar as empresas portuguesas de conhecimento e ferramentas práticas para acederem a novas oportunidades de financiamento verde e melhorarem o seu posicionamento competitivo num contexto económico cada vez mais orientado para critérios ESG.
É intensivo e presencial e combina conceitos fundamentais de finanças sustentáveis com exercícios práticos e estudos de caso reais, oferecendo uma abordagem aplicada e orientada para a ação. Realiza-se a 11 de novembro, entre as 10h e as 17h, na Católica Porto Business School em Lisboa, decorrendo as inscrições até dia 6 .
São destinatários preferenciais do curso PMEs (pequenas e médias empresas) que estejam a iniciar o caminho na "integração dos princípios da sustentabilidade na sua estratégia financeira e de gestão". Pretende-se que que compreendam o enquadramento legislativo europeu (como o Pacto Ecológico Europeu, a Taxonomia da UE e a CSRD/VSME); avaliar o nível de maturidade da sua empresa em matéria de sustentabilidade; elaborar um Relatório Voluntário de Sustentabilidade alinhado com as novas exigências do mercado e dos financiadores; desenvolver um plano de ação personalizado, com acompanhamento individual após a conclusão do curso.
3 Perguntas a... Ana Lagoa
COO (Chief Operations Officer) do Center for Sustainable Finance da Católica-Lisbon explica ao Jornal Económico os desafios que se colocam às empresas nesta área e os ensinamentos que podem colher nesta formação realizada em parceria com o IAPMEI.

- Que desafios concretos enfrentam as empresas portuguesas na integração da sustentabilidade nas suas finanças?
O maior desafio para as empresas portuguesas é perceber o impacto estratégico da sustentabilidade no seu próprio modelo de negócio. Muitas ainda a encaram como uma obrigação regulatória ou um custo adicional, quando na verdade se trata de uma transformação estrutural e inevitável do mercado. A transição exige incorporar variáveis ambientais, sociais e de governação (ESG) nas decisões económicas — o que implica mudar processos, mentalidades e modelos de negócio. Mas este processo é exigente: faltam dados fiáveis, recursos técnicos com literacia financeira sustentável e capacitação interna. Além disso, a complexidade do novo enquadramento europeu — com normas como a Taxonomia, a CSRD ou VSME — coloca desafios operacionais, sobretudo às PMEs, que têm menos meios para responder a requisitos de reporte ou recolha de informação ESG.
Por isso, o verdadeiro desafio hoje é de integração estratégica: transformar a sustentabilidade num fator de competitividade, e não apenas de conformidade. As empresas que conseguirem fazê-lo mais cedo terão uma vantagem clara no acesso a financiamento, mercados e talento.
- Há dados ou estudos recentes que sustentem a necessidade de capacitação nesta área?
Os números são claros: Portugal tem um tecido empresarial composto maioritariamente por PMEs, e estas enfrentam grandes lacunas na integração de práticas ESG. Segundo dados recentes da OCDE, apenas cerca de um terço das empresas portuguesas definem metas de emissões e menos de metade realizam auditorias energéticas, valores abaixo da média da União Europeia. Paralelamente, 81% das empresas já sentem o impacto físico das alterações climáticas, mas só 54% investem em medidas de adaptação ou mitigação, e 13% do investimento total é dedicado à eficiência energética - segundo a EIBIS (EIB Group Survey on Investment and Investment Finance).
Estes dados demonstram uma necessidade urgente de capacitação técnica e financeira: sem conhecimento e formação, as empresas não conseguem medir o seu impacto, alinhar-se com as novas exigências europeias nem aceder ao financiamento verde disponível. É precisamente este o propósito do Guia Prático de Sustentabilidade: traduzir a complexidade regulatória em ferramentas práticas para o dia-a-dia empresarial, conjugando conceitos fundamentais de finanças sustentáveis com exercícios práticos e estudos de caso reais, numa abordagem aplicada e orientada para a ação.
- Qual a importância estratégica da formação e que papel tem a academia na transição verde das empresas?
A formação é o primeiro passo para transformar a sustentabilidade de conceito em prática de gestão. As empresas só conseguem alinhar-se com a transição verde se compreenderem o impacto económico e estratégico destas mudanças. A academia tem aqui um papel essencial: traduzir a complexidade regulatória e técnica em conhecimento aplicável, formar líderes capazes de integrar critérios ESG nas decisões financeiras e apoiar as organizações a criarem valor de forma sustentável e competitiva.