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Capital de risco investe mais 9,3 mil milhões em soluções de mobilidade

Em 2024 foram investidos 50,2 mil milhões de euros em capital de risco para soluções ligadas à mobilidade, 22% de crescimento face ao ano anterior, revela o relatório Mobility Investment Radar 2025, da consultora Oliver Wyman, em exclusivo ao JE. É o segundo valor mais elevado de sempre.

O financiamento de capital de risco para soluções de mobilidade, ao nível mundial, atingiu os 50,22 mil milhões de euros, em 2024, o que significa um incremento de cerca de 9,3 mil milhões de euros, ou 22%, face ao ano passado, revela o sétimo relatório Mobility Investment Radar 2025, da consultora Oliver Wyman, em exclusivo ao Jornal Económico (JE).

Estes números atestam também a saúde deste tipo de investimento. Isto porque trata-se do segundo valor de financiamento mais elevado de sempre, ficando somente atrás dos 81,84 mil milhões de euros de 2021.

"A evolução do capital de risco em mobilidade durante 2024 confirma que o setor entrou numa fase de maturidade, na qual os investidores privilegiam modelos de negócio sólidos e escaláveis, em detrimento de um elevado número de operações. Observa-se uma concentração do capital em tecnologias consolidadas, como a condução autónoma, a eletrificação ou os serviços de mobilidade partilhada, refletindo uma aposta em soluções capazes de transformar o ecossistema urbano", disse o Sócio de Private Capital na Oliver Wyman, Martín Sánchez.

O relatório tem por base quatro categorias tecnológicas: serviços de mobilidade, mobilidade sustentável, soluções conectadas e autónomas e soluções de venda e pós-venda.

A área da sustentabilidade foi a que gerou mais investimento por parte de capital de risco, em 2024, ao atingir os 16,9 mil milhões de euros. Seis das 10 empresas que receberam mais financiamento operavam no setor dos veículos elétricos ou na melhoria da capacidade de carregamento.

Apesar da mobilidade ter sido a área que mais financiamento de capital de risco recebeu, a verba ficou 21% abaixo do valor alcançado em 2023, assinala o relatório.

A assinalar também o crescimento expressivo no financiamento alocado para a categoria dos veículos conectados e autónomos, em 2024, que foi o dobro, face ao ano passado. O relatório diz que isso se deveu aos recentes avanços na inteligência artificial (IA), especialmente na China.

No global foram alocados 15,7 mil milhões de euros na categoria de veículos conectados e autónomos.

"Isto foi impulsionado por um financiamento substancial para as maiores e mais estabelecidas empresas ligadas a veículos autónomos nos Estados Unidos e pelo entusiasmo geral dos investidores com o futuro dos veículos autónomos, tanto nos Estados Unidos como na China. Embora os Estados Unidos tenham alguns dos maiores players de inteligência artificial e veículos autónomos, a China tem um ambiente muito mais desregulado para testes de veículos autónomos", refere o relatório da Oliver Wyman.

Número de rondas de financiamento desceram mas valor médio subiu

O Mobility Investment Radar de 2025 mostra também que apesar do número de rondas de financiamento, na mobilidade, ter diminuído 30%, em 2024, face ao ano anterior, verificou-se um aumento de 75% por ronda, para os 73 milhões de euros.

O relatório assinala que os 73 milhões de euros por ronda de investimento é o "valor mais elevado de sempre", superando o valor médio alcançado por ronda de investimento em 2021, ano onde se conseguiu o valor global mais elevado de capital de risco para o setor da mobilidade.

"A média mais elevada de capital investido em cada ronda de financiamento reflete a magnitude da despesa de capital que empresas mais maduras necessitam de fazer para escalar tecnologias como os veículos elétricos, as baterias, e a produção de veículos autónomos", explica o relatório.

O Mobility Investment Radar deixa também uma preocupação. O relatório considera que à medida que o setor da mobilidade amadurece o financiamento pode "tender a fluir" para negócios mais estabelecidos. "As rondas de financiamento estão a se reduzir em número, mas a assumir valores mais elevados, e vão em direção a empresas com modelos de negócio provados e que demonstrem uma viabilidade de longo prazo", conclui o relatório da Oliver Wyman.

"Outro problema tem sido a falta de uma estratégia de saída, com uma atividade insuficiente das IPO (operação que permite às empresas abrirem o seu capital com a entrada em bolsa) face às taxas de juro mais elevadas dos últimos dois anos após a pandemia da Covid-19. Esta situação impediu que empresas mais maduras abrissem o seu capital [em bolsa] e libertassem recursos para startups em fase inicial. A restrição das opções de financiamento, especialmente para as rondas Série A e B, pode sufocar a inovação, fazendo com que muitas ideias promissoras de empresas emergentes tenham dificuldade em chegar à comercialização. Isto reflete critérios mais conservadores dos investidores", diz o relatório.

EUA dominaram rondas de financiamento

Ao nível regional as Américas, em especial os Estados Unidos, dominaram as rondas de financiamento, ao receberem quase 56% da verba total de financiamento de capital de risco em 2024. 17,3 mil milhões de euros foram alocados para a sustentabilidade e para os negócios ligados à mobilidade conectada e autónoma.

As Américas mobilizaram 26 mil milhões de euros de financiamento, em 2024, ficando quase 54% acima dos 16,9 mil milhões de euros do ano passado.

A Ásia mobilizou 14,8 mil milhões de euros de financiamento, uma quebra de 4%, face ao ano anterior. Em termos de quota a região atingiu os 32%. Já a Europa representou 13% do total global de financiamento de capital de risco para soluções de mobilidade. Isto representou um crescimento de 6%, face ao ano anterior, para um montante de 6,5 mil milhões de euros.

A subida europeia foi influenciada em grande medida por Espanha e França, assinala a edição de 2025 do Mobility Investment Radar, enquanto que no Reino Unido o investimento caiu 1,49 mil milhões de euros.

Mas mesmo com a quebra no investimento, o Reino Unido surge como o líder europeu em veículos autónomos, com as startups locais a conseguirem angariar 930 milhões de euros em financiamento em 2024.

Nos negócios ligados à mobilidade conectada e autónoma as Américas mobilizaram um financiamento de capital de risco de 8,6 mil milhões de euros, seguindo-se a Ásia (5,7 mil milhões de euros) e a Europa ficou-se pelos 1,3 mil milhões de euros.

Na Ásia, a mobilidade sustentável viu o financiamento de capital de risco cair 42%, em 2024, e os investimentos feitos em tecnologias de condução autónoma e conectada subiu 127%. Nas Américas o crescimento foi de 130%. Neste continente, a China foi o local que conseguiu angariou o maior volume de verbas com 9,7 mil milhões de euros.

Relatório vê 2025 como crucial para condução autónoma

O relatório considera que 2025 deve ser crucial para a condução autónoma.

Sobre a área da condução autónoma o relatório diz que embora o volume de investimentos no setor tenha aumentado, a ênfase tem sido colocada em tecnologias que "já estão em fase de maturação e também em modelos de negócio que estejam comprovados" em empresas de veículos elétricos, conectados e autónomos, em vez do financiamento ser alocado em startups "com ideias ainda não testadas".

O relatório adianta também que a nova escala comercial em empresas de mobilidade mais maduras "está a desbloquear o que se pode transformar em grandes ecossistemas, incluindo fornecedores upstream de hardware e software para veículos elétricos e autónomos, para suportar estas tecnologias em expansão".

No que diz respeito à mobilidade o relatório da Oliver Wyman refere que o foco nos próximos anos "parece ser menos em revolucionar" a forma como as pessoas se deslocam, mas sim em alcançar "escala comercial para tecnologias já implementadas em projetos-piloto em todo o mundo, como veículos autónomos, veículos elétricos e Mobilidade Aérea Urbana".

A Oliver Wyman sublinha que a antecipação de uma nova onda de IPO "pode suportar" a injeção de capital no mercado. "Dadas as taxas de juro mais baixas, isso poderá acontecer ainda este ano", considera o relatório.

Investimento em software para veículos autónomos tem disparado

O relatório diz ainda que desde 2022 o investimento em software baseado no desenvolvimento de veículos autónomos tem crescido a uma taxa anual de 70%.

É ainda referido pelo relatório da Oliver Wyman que em 2024 a categoria dos serviços de mobilidade teve um crescimento de 89%, contudo o relatório assinala que a base de partida, do ano anterior, era baixa. "Muito do novo dinheiro investido nesta área foi para o desenvolvimento de serviços de transporte por aplicação e partilha de veículos nos mercados emergentes", onde se inclui também os serviços de transporte em veículo descaracterizado (TVDE).

A categoria de venda e pós-venda de veículos registou uma subida de 9%, em 2024, para os 4,46 mil milhões de euros, assinala o relatório da Oliver Wyman.