A vice-primeira-ministra e ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland, renunciou ao lugar depois de reconhecer diferenças com o primeiro-ministro, Justin Trudeau. Freeland publicou sua carta de renúncia nas redes sociais, admitindo que as diferenças relativamente a Trudeau "sobre o melhor caminho para fazer avançar" a situação económica do país, que há meses está a passar por inesperadas dificuldades. "Após muita reflexão, concluí que o único caminho honesto e viável é renunciar ao gabinete", acrescentou.
A agora ex-ministra das Finanças reconheceu que Trudeau lhe ofereceu outro cargo no governo e acrescentou que manterá o seu lugar no Parlamento – pretendendo recandidatar-se à reeleição nas próximas eleições.
Sabe-se que Trudeau – que tem enfrentado forte oposição do seu próprio partido relativamente a algumas decisões políticas – estava a pensar procedeu a uma remodelação do gabinete. Segundo os jornais canadianos, a decisão a vice-primeira-ministra colheu-o de surpresa.
Há meses que a imprensa vem noticiando que Trudeau quer convencer Mark Carney, ex-governador-geral do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra, a assumir a pasta das Finanças, o que dá cota dos desentendimentos com a agora demissionária. O problema é que as questões económicas que afligem os canadianos são antigas e Trudeau não tem conseguido dar-lhes uma resposta satisfatória. Para tentar aplacar a ‘ira’ dos canadianos, o primeiro-ministro pretende introduzir de imediato reformas profundas em algumas áreas fundamentais da governação económica – e um novo ministro é uma forma clara de dar indicação de que as alterações são mesmo para cumprir. Segundo os analistas, foi isso que levou a ministra da Finanças a considerar que não podia continuar no executivo.
Refira-se que o Partido Liberal, de Trudeau, está 20 pontos atrás do Partido Conservador nas sondagens sobre as intenções de voto. É certo que as eleições só estão previstas para o final de outubro de 2025, mas a sobrevivência do executivo está longe de estar assegurada até essa altura.
Tudo piorou no início do verão, quando o partido do primeiro-ministro perdeu uma eleição suplementar para um lugar do parlamento, considerada reduto dos liberais. Primeiro-ministro desde 2015, Trudeau disse na altura que não tinha intenção de renunciar, apesar das evidências crescentes de que o eleitorado está cansado do seu mandato e de ‘seu’ Partido Liberal.
O desaire eleitoral provocou um renovado ânimo dentro do Partido Liberal e fez regressar apelos antigos a uma mudança de liderança. O próprio partido, ou uma parte dele, pondera até que ponto é que, uma década depois, Trudeau continuará a ser, por alturas das próximas eleições, um ativo para as suas hostes. Para todos os efeitos, o primeiro-ministro, que lidera o partido há mais de uma década, já disse repetidamente que quer disputar a quarta eleição federal. Em julho, duas ex-ministras, Catherine McKenna e Jody Wilson-Raybould, pediram a saída de Trudeau. Wayne Long, um deputado liberal de New Brunswick, também pediu publicamente a sua renúncia. "Para o futuro do nosso partido e para o bem do nosso país, precisamos de uma nova liderança e de uma nova direção", escreveu Long. "Os eleitores falaram alto e bom som que querem mudança. Concordo."
Só para piorar, os analistas dizem que Mark Carney é uma forte possibilidade de se constituir como uma alternativa a Trudeau – o que coloca uma eventual subida a ministro noutra perspetriva: pode ser um ‘golpe’ do primeiro-ministro para ‘comprar’ o seu apoio.