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Bunkers à prova de tudo chegam a Portugal

A construção de abrigos ganha força na Europa, com empresas a oferecer desde bunkers modulares de superfície a luxuosos abrigos subterrâneos, equipados para garantir a sobrevivência a longo prazo. Portugal, Itália, Alemanha e Reino Unido destacam-se neste novo nicho de mercado, que alia segurança, conforto e inovação tecnológica.

Os “preppers” modernos – pessoas que fazem planos para sobreviver a um cataclismo – preparam-se para uma ampla gama de cenários, incluindo conflitos nucleares, desastres climáticos, colapsos financeiros, guerra cibernética, crises alimentares ou pandemias.
O foco está na tecnologia de sobrevivência, incluindo o uso de energia solar, sistemas de purificação de água e até mesmo criptomoedas para manter a segurança financeira. As redes de apoio e as comunidades online tornaram-se essenciais para a troca de informações e o movimento tem vindo a ganhar terreno na Europa, inclusive com a construção de bunkers.
Hoje em dia, estes abrigos (que se desenvolveram no período da Guerra Fria) não são apenas construções de guerra. Estão equipados com sistemas modernos para garantir a sobrevivência em cenários de longo prazo. A construção pode demorar quatro meses, custa 200 mil euros e é capaz de resistir a qualquer tipo de ataque.
Rui Ribeiro, fundador da empresa Solid Bunker, construiu até ao momento cinco abrigos para empresários. São comercializados três tipos de bunker: de superfície (a partir de 50 mil euros), Modular (a partir de 60 mil euros) e o Solid (até 200 mil euros). Além de fontes de água e energia independentes, têm capacidade de regeneração de ar, kits médicos e de sobrevivência, televisão e câmara para o exterior.
Antigo emigrante em França, o empresário garante que trabalha com material militar e diz que segue as normas que a Suíça aplica à construção de abrigos. “Em Portugal não existe licenciamento para este tipo de construção. O ideal é o bunker ficar a 10, 20 ou até 50 metros de profundidade”, diz ao Jornal Económico. O empresário afirma ainda que vende equipamentos para pessoas que estão a fazer abrigos subterrâneos por conta própria.
Com as tensões geopolíticas a subir de tom, o número de estruturas tem vindo a aumentar na Europa. Miguel Rosário, CEO da empresa Portugal Bunkers & Shelters, confirma a tendência do negócio. “Neste momento, estamos a construir dois abrigos subterrâneos e um de superfície. Mas todos os dias vendemos máscaras antigás e filtros para animais e crianças”, afirma o responsável. Aqui, os preços das salas de pânico e bunkers podem variar entre os 16 e os 100 mil euros. “Em alguns prédios, os condóminos estão interessados em transformar um dos pisos inferiores num abrigo, com portas blindadas e sistema de purificação de ar”, acrescenta Miguel Rosário.
A falta de redes extensas de bunkers criou um nicho de mercado para abrigos pessoais em países como Itália, Espanha, Alemanha, Suécia e Reino Unido. “No atual contexto, os governos, bem como os cidadãos, devem considerar os riscos crescentes, melhorando a preparação e a resposta às emergências atuais e futuras. Exemplos disso podem ser ataques convencionais ou não convencionais durante uma guerra, ataques terroristas, desastres naturais ou explosões em indústrias perigosas com risco de contaminação”, defende Miguel Rosário, CEO da Portugal Bunkers & Shelters.
Nestes países, as versões mais básicas (geralmente com menos de 10 metros quadrados) custam entre três e cinco mil euros por metro quadrado, mais ou menos o preço de um estúdio moderno ou de um apartamento de um quarto numa cidade europeia de média dimensão.
As principais caraterísticas incluem uma estrutura central de betão armado (paredes com 30 centímetros de espessura), portas blindadas à prova de radiação e um sistema de ventilação. No segmento mais caro, um bunker de 140 metros quadrados com confortos de “casa real”, como uma sala de estar e um televisor de 40 polegadas, pode custar um milhão de euros, disse à Euronews a empresa italiana Il Mio Bunker.
No Reino Unido, a Burrowed vende “bunkers pré-fabricados de luxo” que custam até 181 mil euros e têm um comprimento máximo de cerca de 16 metros. Estão dotados de uma porta estanque, um aquecedor elétrico, um tanque de água doce, uma cozinha completa, camas de arrumação e um gerador de energia solar, entre outros luxos.
O sueco Victor Angelier, fundador da Nuclear Bunker Company, afirmou que os seus clientes estão interessados em abrigos privados porque não se sentem suficientemente seguros com a “segurança do governo”. “Não há espaço suficiente para o número de civis”, referiu, acrescentando que a maioria dos seus clientes são da Polónia, Suécia e Países Baixos.
Já a Alemanha está a elaborar planos para expandir rapidamente a rede de abrigos e bunkers à prova de bombas, segundo o mais alto responsável do governo pela proteção civil, que alertou que o país precisa estar preparado para um possível ataque da Rússia nos próximos quatro anos. “Por muito tempo, acreditou-se amplamente na Alemanha que a guerra não era um cenário para o qual precisássemos de nos preparar. Isso mudou. Estamos preocupados com o risco de uma grande guerra de agressão na Europa”, disse Ralph Tiesler, chefe do Escritório Federal de Proteção Civil e Assistência em Desastres (BBK) ao jornal “Süddeutsche Zeitung”.
Nos EUA, prevê-se que o mercado de abrigos anti-bomba cresça de 137 milhões de dólares (cerca de 117 milhões de euros) no ano passado para os 175 milhões de dólares (150 milhões de euros) em 2030, de acordo com um relatório de pesquisa de mercado da BlueWeave Consulting.
Os bunkers “superluxuosos” da Atlas Survival Shelters contam com uma série de recursos de alta tecnologia: escotilhas à prova de bala, portas herméticas, tubos de ar e salas de descontaminação. Ainda assim, não abrem mão do estilo, com bancadas de granito e pisos de carvalho. Um túnel de fuga é padrão nos modelos maiores, que podem ultrapassar os 200 mil dólares (171 mil euros). “São feitos para funcionar como uma biosfera”, disse Ron Hubbard, CEO da empresa, ao “The Wall Street Journal”.
O crescimento deste mercado reflete não apenas o aumento das tensões globais, mas também uma mudança cultural: a sobrevivência deixou de ser apenas uma preocupação de governos ou militares e tornou-se uma prioridade para cidadãos comuns, especialmente aqueles com meios financeiros para investir na sua segurança.

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