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Bruxelas quer criar 'megafábricas de IA' para recuperar competitividade europeia

A iniciativa consta da 'Bússola da Competitividade', documento que delineia a política económica europeia para os próximos cinco anos e que visa aumentar o investimento inovador no Velho Continente face à concorrência norte-americana e chinesa.

A Comissão Europeia quer avançar com uma estratégia unificada para a inteligência artificial (IA) ao nível comunitário como uma das formas de promover a competitividade do bloco, a principal prioridade económica da nova legislatura. A iniciativa faz parte da ‘Bússola da Competitividade’, documento que delineará a estratégia económica europeia para os próximos cinco anos e que será apresentado esta quarta-feira, e visa criar as condições para o estabelecimento das primeiras ‘megafábricas’ de IA no continente.

No documento a que o JE teve acesso e que será apresentado com algumas semanas de atraso devido a uma pneumonia que afetou a presidente da Comissão, Bruxelas advoga pela criação de uma Estratégia Continental para a IA, uma “iniciativa que almejará alavancar todos os benefícios da agregação de redes a um nível europeu”. A estratégia surge como resposta à dominância norte-americana neste setor altamente disruptivo e com capacidade para relançar a competitividade industrial europeia, argumenta a Comissão.

“Aproveitando a rede existente de classe mundial de supercomputadores da EuroHPC, esta iniciativa procura estabelecer as primeiras ‘megafábricas’ de IA na Europa, impulsionando o seu poder de computação e tornando-o acessível a pesquisadores, start-ups e indústrias para estas treinarem, desenvolverem e melhorarem os seus modelos de IA”, lê-se no documento que será apresentado esta quarta-feira.

A EuroHPC, ou Iniciativa Europeia Conjunta para a Computação de Alta Performance, recorde-se, é uma parceria público-privada da UE que visa agregar os recursos dos vários Estados-membros neste setor para desenvolver uma rede pan-europeia de supercomputação de maior escala.

Por outro lado, a Comissão define ‘fábrica de IA’ como “um ecossistema dinâmico que promove a inovação, colaboração e desenvolvimento no ramo da IA, […] servindo como centros de avanço e promoção da IA em vários setores, como a saúde, indústria, clima ou finanças”.

No final do ano passado, a UE anunciou a intenção de avançar com as primeiras sete fábricas deste tipo, uma delas com Portugal envolvido. Cinco delas envolvem a instalação de novos supercomputadores, enquanto o projeto de Barcelona (ao qual Portugal se juntou a par da Roménia e Turquia) verá o sistema EuroHPC atualizado.

Como muitos outros aspectos da Bússola, um dos objetivos desta iniciativa é aumentar a capacidade de atrair investimento para a Europa, que necessita de 800 mil milhões de euros anuais para fechar o diferencial para os seus principais concorrentes, os EUA e a China, segundo o diagnóstico de Mario Draghi.

Nesta mesma linha, a desregulamentação será outra das prioridades, também em linha com as recomendações do antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE). Bruxelas fala mesmo num “esforço sem precedentes” ao nível nacional e comunitário para desenhar “leis mais simples” e eliminar burocracia, sendo a simplificação legislativa um dos dois princípios em que assenta esta política económica.

O outro princípio é o da coordenação, de forma a alinhar objetivos e políticas a nível nacional e assim ter uma alocação mais eficiente dos recursos.

Nesta linha da simplificação, Bruxelas irá avançar com uma nova classificação para empresas médias, ou seja, que já não cumprem os requisitos de uma PME, mas que não se qualificam como uma empresa ‘grande’. Na prática, estas terão um regime “à medida” que as livrará de uma série de reportes e diligências atualmente pedidas pelas instituições europeias e que, avisam as associações empresariais, criam um fardo considerável para a sua situação financeira.

A juntar a isto, todas as empresas verão uma diminuição de 25% nas obrigações de reporte e burocracia, redução essa que será de 35% para as PME.

Estas políticas de simplificação serão combinadas com a promoção de um mercado de capitais único, uma das formas de promover mais investimento na UE, com uma plataforma comum europeia para a obtenção de matérias-primas críticas ou com uma política de defesa e investimentos no setor mais musculada, lê-se no documento.