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BRICS querem lançar plataforma de comércio conjunto

Reunindo quase metade da população mundial e mais de 40% do petróleo bruto global, a intenção é a de o agregado se aproximar da criação de uma moeda comum. Em outubro, em Kazan, realizar-se-á mais uma cimeira, que já conta com 10 países.

O grupo de países com mercados emergentes, reunidos sob a designação BRICS, está a trabalhar ativamente para desenvolver uma plataforma de liquidação em moedas nacionais para o comércio mútuo, afirmou esta segunda-feira, em Nizhny Novgorod, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.

Na abertura da reunião à porta fechada do Conselho de Ministros dos membros do bloco (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão), o ministro confirmou a tomada de decisão de medidas concretas para melhorar os mecanismos financeiros. “Está em curso um trabalho ativo para implementar as decisões da Cimeira de Joanesburgo em 2023, em particular em termos de melhoria do sistema monetário e financeiro internacional e de desenvolvimento de uma plataforma para liquidações em moedas nacionais no comércio mútuo”, disse.

Recorde-se que, na cimeira ocorrida na África do Sul no ano passado, foram lançadas as bases para a criação de uma moeda única que servisse de esteio ao desenvolvimento do comércio entre todos os Estados envolvidos. A plataforma surge como um primeiro passo nesse sentido – apesar das dificuldades que decorrem da criação de uma moeda comum. Na sequência da cimeira, o economista João Duque mostrou-se, em declarações ao JE, muito cético quanto à capacidade de os BRICS conseguirem criar uma moeda comum. Tanto mais, disse na altura, que a moeda não serviria como padrão para as relações económicas fora do contexto dos BRISC, o que obrigaria à gestão de sistemas paralelos que aumentariam em muito a complexidade do comércio.

Lavrov, segundo noticia a Prensa Latina, também detalhou que, de acordo com as instruções dos líderes emitidas na África do Sul, os ministros dos Negócios Estrangeiros prestam especial atenção ao acordo sobre as modalidades, para estabelecer a categoria de Estados Parceiros da associação.

E acrescentou que estão a ser desenvolvidas iniciativas essenciais para a Rússia, país presidente dos BRICS em 2024, como é o caso do sector dos transportes, da criação de vários grupos de trabalho sobre clima e desenvolvimento sustentável, medicina nuclear e a associação médica.

Tem havido um aumento constante do número de países que demonstram interesse em aderir aos BRICS, destacou Lavrov, ao mesmo tempo que previa debates intensos na sessão do Conselho com a participação de 20 países. Inicialmente compostos por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os BRISC são uma aliança de mercados emergentes e países em desenvolvimento. Após a incorporação da Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão a partir de 1 de Janeiro de 2024, o bloco conta agora com 10 Estados-membros, que representam quase metade da população mundial e mais de 40% do petróleo bruto global em termos de produção e de reservas – um dado que confere ao agregado uma importância que o resto do mundo não pode deixar de considerar.

Os ministros das Relações Exteriores do agregado concordaram com a redação de uma declaração conjunta, que será distribuída no final do encontro esta terça-feira, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, à agência TASS. "Na reunião em Nizhny Novgorod, os ministros das Relações Exteriores do BRICS concordaram com uma declaração conjunta", disse.

Esta é a primeira reunião ministerial do BRISC após a expansão da associação, em 2023. No próximo mês de outubro, mais especificamente entre 22 e 24 na cidade de Kazan, a Rússia – enquanto país a presidir ao agregado – irá realizar mais uma cimeira ao nível dos chefes de Estado e de governo.

Como seria de esperar, Lavrov não se furtou, durante o encontro, a comentar o panorama internacional, tendo declarado que os últimos acontecimentos no cenário global revelaram a verdadeira face do Ocidente, que pretende impor a sua ordem ao mundo. "Os recentes eventos internacionais tiraram as máscaras daqueles que, até agora, reivindicavam verbalmente quase o direito exclusivo de determinar os chamados valores universais anunciados como uma ordem baseada em regras", disse o chefe da diplomacia russa.

Lavrov observou, citado pelos jornais locais, que os defensores desse conceito estão a tentar impor normas e mecanismos de interação que beneficiam apenas o Ocidente, substituindo o diálogo equitativo por coligações que se apropriam do direito de falar e agir em nome de todo o mundo. E especificou: os Estados Unidos e seus aliados não desistem de tentar manter o domínio e de retardar os processos objetivos de multipolaridade que estão a ser moldados. "Empunham instrumentos económicos como arma, tentando, por meio de sanções e chantagem financeira, influenciar a escolha de modelos de desenvolvimento e parceiros comerciais", concluiu Lavrov.