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Bradley Schurman: "Portugal tem liderado atração de investimento estrangeiro e trabalhadores"

Bradley Schurman, fundador e diretor executivo da Human Change, sublinha o bom trabalho que Portugal tem feito ao atrair investimento estrangeiro e trabalhadores qualificados, mas lembra várias políticas que o país deve seguir para aumentar a longevidade saudável dos portugueses.

Portugal apresenta-se como um dos países mais envelhecidos do mundo, o que dá uma importância acrescida à questão da longevidade saudável e dos seus impactos na economia. O JE teve oportunidade de falar com Bradley Schurman, fundador e diretor executivo da Human Change, que sublinha o bom trabalho que o país tem feito na atração de investimento estrangeiro e trabalhadores qualificados, cujas contribuições ajudam à sustentabilidade dos sistemas de reforma, mas ilustra várias políticas que o país deve seguir. O orador na conferência 'Idade Maior', organizada pela Brandkey a propósito do lançamento da primeira consultora para maiores de 60 anos, fala na ideia de aposentação como um "conceito social desatualizado", lembrando que alterações nos esquemas de pensões irão trazer algumas "dores de curto prazo".

Com a esperança de vida a continuar a crescer, mas as populações com resistência a aumentar a idade da reforma, como aguentarão os sistemas sociais?

A mudança demográfica, que inclui tanto as taxas decrescentes de fertilidade, como a maior longevidade, não foi algo que nos apanhou de surpresa – é uma tendência “lenta” que se vem manifestando há décadas. Isto permitiu aos líderes diferir esta crise por décadas, aproveitando-se da atmosfera política em que ganhos de curto prazo influenciam significativamente mais a política do que os impactos de longo prazo nos programas de proteção social e na economia. É difícil imaginar um cenário em que os sistemas sociais a economia não colapsa com o peso de uma população envelhecida sem reformas.

Está na altura de equacionar um novo modelo para abordar a questão da reforma?

Há algumas opções para reformas atualmente, incluindo aumentar a idade de reforma, condições de recursos na elegibilidade e benefícios ou subir impostos – nenhuma destas popular. Os líderes terão de tomar decisões difíceis e haverá dores no curto prazo. Vidas ativas mais longas tornar-se-ão normais e voltaremos ao paradigma histórico de as pessoas trabalharem até não poderem mais. Não sendo universalmente popular, a imigração pode aliviar parte da pressão. Mais cidadãos a trabalhar e a pagarem impostos aumentam a sustentabilidade dos programas atuais. Portugal tem sido um líder nisto, atraindo investimento estrangeiro e trabalhadores, incluindo milhares de americanos que chamam agora a este país ‘casa’.

Portugal é dos países com perspetivas de maior envelhecimento nos próximos 50 anos no mundo. Que aspetos são fundamentais para manter a qualidade de vida numa população envelhecida?

Portugal está a envelhecer, é uma nova realidade que não vai desaparecer. Como se adapta é a questão. O primeiro aspeto passa por perceber que a reforma é um conceito social desatualizado – as pessoas não se tornam, por magia, velhas quando ficam elegíveis para pensões. O segundo é compreender que a aposentação é má para o país, ao roubar a economia de consumidores e contribuintes. Em terceiro lugar, é preciso abraçar a ideia de que o trabalho é bom para pessoas de todas as idades – quem trabalha mais anos tende a ter mais saúde financeira, física, mental e cognitiva. O quarto aspeto passa por entender que as empresas não têm outra escolha senão adaptar as suas práticas de contratação, passando a considerar estratégias de recrutamento e retenção para todas as faixas etárias, incluindo as mais velhas. Finalmente, há que abraçar as oportunidades de negócio que a longevidade traz – adultos mais velhos representam o segmento de consumo que mais cresce a nível mundial, pelo que criar espaços inclusivos, produtos e serviços é essencial para o crescimento.

Como terá a economia nacional de se adaptar a esta realidade?

Portugal e outros países têm de colocar a longevidade saudável no centro das suas estratégias nacionais. O objetivo deve ser criar as condições certas para que as pessoas vivam com qualidade o máximo de anos possível, reduzindo o fardo para o sistema de saúde de pessoas doentes. Ao mesmo tempo, estes países devem criar estratégias inclusivas para todas as idades que atualizem o paradigma instalado, conferindo acessibilidade aos transportes, a espaços públicos e privados. Incentivos nacionais para alterar casas e regras de construção devem ser orientadas para a inclusão e acessibilidade.

Que importância teve a dinâmica demográfica portuguesa na decisão de investir no país?

Caso Portugal não consiga adaptar os programas sociais atuais à nova realidade demográfica, criará um atraso para a economia e abrandará o crescimento. É, portanto, razoável assumir que o investimento estrangeiro será afetado negativamente – os investidores privilegiam locais em crescimento, não em declínio. Apesar de ter abrandado para 2,3% em 2023, o investimento direto estrangeiro ficou bastante acima da média da zona euro, de 0,7%. Projetando para a frente, o FMI espera um crescimento de 1,5% e 1,9% este ano e no próximo, respetivamente, contra 1,2% e 1,3% para a zona euro.

À medida que as pessoas trabalham até mais tarde, haverá cada vez mais convivência entre gerações muito diferentes nos locais de trabalho. Que medidas deve uma empresa ter em linha de conta para maximizar a harmonia e eficiência destes grupos distintos de trabalhadores?

As empresas têm de reconsiderar as suas estratégias de diversidade e inclusão para corresponder às necessidades de uma nova era se quiserem aumentar a eficiência operacional, aumentar competitividade, alargar o seu apelo aos consumidores de todas as idades e capacidades e construir resistência de longo prazo. É preciso alavancar desenhos inclusivos para melhorar recrutamentos e retenções (como flexibilidade nos horários, nos esquemas de compensação e benefícios, e na conceção dos locais de trabalho); facilitar a colaboração e comunicação Intergeracional (construindo ativamente equipas intergeracionais, encorajando as mentorias não-tradicionais ou mútuas e construindo pontes entre gerações); e promover gestores com noção da nova demografia dos locais de trabalho (estendendo respeito e apreço a trabalhadores mais velhos, dando segurança psicológico e encorajando sinceridade entre trabalhadores de diferentes faixas etárias, pensando ‘fora da caixa’ para recrutar, reter e manter envolvidos empregados com mais anos de trabalho.