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Boticas. Savannah procura parceiros para mina de lítio e prevê receitas anuais de 300 milhões

A companhia britânica diz que não está à venda e que não quer vender o projeto de Boticas, e está interessada em ter parceiros à bordo para desenvolver a mina, contando ter novidades até ao final do ano.

A Savannah Resources está à procura de parceiros estratégicos para a mina de lítio do Barroso em Boticas, Vila Real. Até ao final do ano, espera ter novidades sobre acordos para este projeto.

A companhia britânica - que espera produzir lítio suficiente para 500 mil veículos por ano - está "atualmente a trabalhar para criar uma lista de potenciais parceiros estratégicos". Revela que o projeto já reuniu o "interesse" de "refinadores, participantes na cadeia de valor de baterias, fabricantes de componentes, traders e mais". E adianta que está a procurar usar "parcerias comerciais como fonte de financiamento para acelerar o desenvolvimento do projeto de lítio do Barroso", disse inicialmente numa apresentação divulgada na segunda-feira.

Noutro comunicado divulgado durante a tarde de segunda-feira, a Savannah disse "não estar atualmente em processo de venda em relação ao projeto de lítio do Barroso, ou em relação à própria empresa", rejeitando este cenário.

O fundo Aethel Mining, que detém a mina de Moncorvo, é um dos interessados em comprar o projeto, conforme revelou inicialmente o Jornal Económico e depois o "Negócios". O JE pediu uma reação da Aethel Mining, co-fundada pelo empresário português Ricardo Santos Silva, ao comunicado da Savannah, mas a empresa não quis fazer comentários.

No comunicado, a Savannah disse: "A companhia tem recebido relevante interesse comercial no projetos desde há vários anos e depois do DIA e da conclusão do um novo estudo exploratório, tem havido interesse adicional da cadeia de valor do lítio. Das dezenas de inquéritos comerciais que a Savannah tem recebido, a empresa está atualmente a trabalhar num processo para fazer uma lista final de potenciais parceiros estratégicos para o projeto A Savannah está focada em identificar grupos que estão dispostos a assistir no financiamento da construção do projeto e que tragam mais-valias ou oportunidades adicionais para uma parceria de longo prazo com a Savannah".

Já na apresentação inicial, a companhia revela que tomou a "decisão estratégica de deixar 100% da produção sem colocação até ser emitida a Declaração de Impacte Ambiental (DIA)", que foi emitida no final de maio. Recorde-se que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) condicionou o projeto ao "cumprimento de determinadas condições, medidas e compensações" para "garantir que o projeto será desenvolvido de forma responsável e que os benefícios socioeconómicos serão partilhados com todas as partes interessadas", anunciou a empresa a 31 de maio. Segundo a empresa, o novo desenho para a estrada prevista evita as povoações locais.

A Savannah adianta agora que verifica-se uma "procura sem precedentes pela maior reserva de espumodena da Europa" num momento em que o mercado tem "escassez deste material crítico e estratégico".

Para 2025, a empresa espera tomar a decisão final de investimento do projeto e arrancar com a construção. Já em 2026, deverá arrancar a produção com 191 quilotoneladas por ano de concentrado de espumodena (ktpa).

O projeto fica a 145km do porto de Leixões, por onde pode exportar produto; a 180km de Estarreja, onde a Bondalti pretende instalar uma refinaria de lítio; a 500km de Setúbal, onde a Galp e a Northvolt pretendem instalar a sua refinaria.

Mais de 300 milhões de receitas por ano

A Savannah espera gerar receitas anuais de 304 milhões de dólares (285 milhões de euros), com um EBITDA de 205 milhões de dólares (192 milhões de euros), gerando um cash flow de 124 milhões de dólares (182 milhões de euros).

Para a totalidade da vida da mina, a Savannah espera receitas de 4.151 milhões de dólares (3.890 milhões de euros), um EBITDA total de 2.793 milhões de dólares (2.617 milhões de euros), num cash flow total de 1.694 milhões de dólares (1.587 milhões de euros), levando ao pagamento de 924 milhões de dólares (866 milhões de euros) em impostos e royalties.

O projeto implica um investimento inicial de 280 milhões de dólares (262 milhões de euros), incluindo 40 milhões de dólares (37 milhões de euros) em medidas sociais para a comunidade. Já o encerramento da mina vai ter custos de 102 milhões de dólares (95 milhões de euros).

Por ano, a companhia prevê extrair 1,5 milhões de quilotoneladas de minério para produzir 190 quilotoneladas de concentrado de espumodena, 400 quilotoneladas de feldspato/quartzo, usados pelas indústria de cerâmica, mas com valor comercial mais baixo (53,5 dólares por tonelada).

Em termos de preços, espera que o concentrado de espumodena (6% Li2O) recue dos atuais 2.850 dólares/tonelada para uma média de 1.597 dólares/tonelada entre 2026-2039. Já o concentrado de espumodena (5% Li20) deverá atingir em média 1.464 dólares/tonelada em média durante o mesmo período.

Por ano, a empresa britânica espera produzir 1,5 milhões de toneladas de lítio, durante 14 anos. A mineração vai ser entregue a outra empresa, com a exploração a céu aberto a ter lugar somente durante o dia.

A empresa tem uma concessão de 30 anos. Olhando para o futuro, prevê que o concurso que o Governo prevê lançar para as concessões de pesquisa de lítio possa vir a "expandir as oportunidades de exploração". No total, a empresa estima que as suas reservas atinjam as 28 milhões de toneladas, fazendo desta mina a maior da Europa em termos de espumodena.

Mercado em expansão

A Savannah argumenta na sua apresentação que a procura mundial por lítio para produzir baterias para carros elétricos vai disparar quatro vezes até 2030, com a procura na Europa a disparar 12 vezes até 2030 e 21 vezes até 2050. Atualmente, não existe produção de lítio na Europa para as baterias.

O défice global de lítio vai subir 2,5 vezes até ao final da década. Como resultado, os preços do lítio dispararam 10 vezes desde o segundo semestre de 2020 até ao final de 2022, atingindo máximos históricos.

"Os preços estabilizaram agora após uma correção no primeiro semestre de 2023, mas vão permanecer acima dos preços médios de longo prazo", segundo a empresa.

Savannah com novo CEO e português

Na segunda-feira, foi o primeiro dia de trabalho do novo presidente-executivo da Savannah Resources, o gestor português Emanuel Proença.

O primeiro CEO português da Savannah veio da Prio onde esteve durante sete anos e onde ocupava o cargo de CEO de negócios industriais. No seu currículo, conta também com sete anos na consultora Boston Consulting Group em Portugal e no Brasil, tendo sido também CEO do grupo Piedade, o terceiro maior produtor mundial de rolhas de cortiça. Conta com um mestrado em engenharia e gestão industrial pelo Instituto Superior Técnico e tem um MBA do INSEAD. O gestor também é cofundador e presidente da Associação de Bioenergia Avançada.

"Estou entusiasmado por me juntar à Savannah como CEO, para ajudar a empresa a atingir o seu objetivo de se tornar um produtor responsável de lítio em Portugal e um elemento fundamental da cadeia de valor das baterias de lítio e da mobilidade elétrica, em rápido crescimento na Europa. Estou satisfeito com a qualidade do projeto e a robustez do trabalho realizado até ao momento, mas estou ciente de que o projeto preocupa algumas partes interessadas. Por isso, no meu mandato, empenhar-me-ei em que o entendimento entre todas as partes envolvidas seja uma prioridade, à medida que aceleramos um projeto que será essencial para o desenvolvimento da região, para a capacidade de atração de valor para o país, e para a aceleração de uma transição energética responsável e muito necessária para a Europa e o mundo”, disse Emanuel Proença no comunicado divulgado na semana passada.