A inflação acima das metas dos bancos centrais veio para ficar. Esta é a opinião da Blackrock que avisa que há mais subidas de taxas de juro a caminho para tentar controlar a inflação elevada. Mesmo assim, o caminho a percorrer ainda vai ser longo para combater a inflação que está a revelar-se bastante pegajosa.
"Os últimos seis meses deram novas provas de que nos encontramos num ao mundo de maior volatilidade macroeconómica, de mercado, num regime que origina uma série de restrições à oferta. O mundo está condicionado à volatilidade como nós a vemos, por várias restrições à oferta, o que significa que os mercados desenvolvidos já não podem produzir tanto sem provocar um aumento consequente da inflação. Acreditamos que as restrições de oferta são e serão uma característica permanente, devido a estas mega-forças presentes no mercado. Os bancos centrais têm uma tarefa muito complicada neste novo regime, já que não dispõem dos instrumentos necessários à restrição à oferta. Basicamente, os bancos centrais têm ferramentas para resolver as consequências da restrição à oferta, que é a inflação, mas o problema de base os bancos centrais não conseguem fazer muita coisa", disse o diretor de Negócios da BlackRock Portugal.
"Os bancos centrais enfrentam então este compromisso entre crescimento ou inflação: ou quer controlar a inflação, penalizando o crescimento; ou deixa a inflação correr, não penalizando o crescimento. O objetivo dos bancos centrais é controlar a inflação em níveis perto dos 2%. Achamos que há aqui um trade off complicado para os bancos centrais hoje em dia. A inflação persiste mesmo quando temos recessão já efetiva e técnica em alguns países da Europa, e na zona euro como um todo, e afetando alguns sectores nos Estados Unidos. Uma coisa não está a resolver a outra, estamos a penalizar crescimento e continuamos com inflação, quando a teoria nos diz que a inflação devia estar a baixar, e está, mas achamos que vai ser mais persistente do que se possa pensar", afirmou André Themudo.
Num encontro com jornalistas na terça-feira em Lisboa, o responsável nacional pela maior gestora de ativos do mundo, destacou: "os 3% são o novo 2%. A inflação vai estar mais perto de 3% do que de 2%".
"Descontamos duas subidas de 25 pontos pela Fed. Não prevemos cortes de taxas", afirmou, apontando que a Blackrock acredita que as taxas vão "subir mais" e "manter-se altas durante mais tempo". "A Fed não aumentou na última reunião, mas vai aumentar nas seguintes".
Na zona euro, a BlackRock acredita que a taxa de juro diretora venha a atingir um valor entre os 4,5% e os 4,75% (encontra-se nos 4,00%), podendo atingir os 4,5% no final deste ano. "A postura de Lagarde é bastante mais hawkish do que a dos EUA", mas a zona euro também está mais atrasada do que a Fed nas subidas, sinalizou.
"Não vai haver um pico [das taxas de juro], mas vamos chegar a um planalto, que vai manter-se por algum tempo", até a inflação estar controlada.
Entre as mega-forças que estão a moldar os mercados e o mundo, encontram-se o envelhecimento das populações, a fragmentação geopolítica, a inteligência artificial (IA), as alterações no sistema financeiro, a transição energética e a inovação tecnológica, segundo a análise da companhia norte-americana.
Olhando para o mercado de ações, destaca o sector tecnológico. "Nunca a tecnologia pesou tanto e vai continuar. O sector tecnológico pesa mais no S&P 500 do que pesava em 2001 quando foi o boom das tecnológicas".
O responsável destacou que a transição para uma economia carbono é uma "pressão inflacionista", pois paga-se um prémio. Sobre datas, aponta que acontecer mais cedo ou mais tarde do que o 2050, não é importante, mas sim que vai acontecer. Entre outras pressões inflacionistas, encontra-se o envelhecimento da população, e a falta de mão de obra laboral.
Para esta transição acontecer, será preciso investir 125 triliões de dólares até 2050. Até 2030, os investidores precisam de investir 4 triliões de euros por ano, mas só estão a investir 1 trilião, ficando assim aquém do necessário.
"Isto é um campo gigante de oportunidades de investimento. As empresas ficam melhor preparadas para enfrentar o futuro. As green bonds financiam-se a taxas mais baixas", exemplificou. "A BlackRock gosta de empresas que estejam melhor preparadas para a transição energética, pois serão recompensadas".
Analisando a situação de Portugal a nível macroeconómico, o responsável considera que o país "fez um bom trabalho" nos últimos anos.
Sobre estabilidade política aponta que Portugal conta com uma maioria absoluta e que as próximas eleições ainda estão longe.
"Isto são factos positivos: estabilidade política e económica", afirma André Themudo, apontando que o rácio da dívida sobre o PIB está abaixo dos 120% e que o spread em relação ao bund alemão mantem-se estável nos 100 pontos base.