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BCP com menos crédito, menos receitas, mais custos, mas com forte capital

Em Portugal é que a redução da atividade se nota mais. O crédito caiu 3,8% para 38,4 mil milhões de euros, ou seja, menos 1,53 mil milhões. A carteira de crédito "performing" recuou 3,5% para 37,3 mil milhões de euros, ou seja, menos 1,34 mil milhões de euros.

O BCP apresentou as suas contas do primeiro trimestre e, numa primeira análise, o que se vê? Vê-se que o banco está a sofrer com a redução da procura de crédito. O presidente executivo do Millennium BCP explicou, na conferência de imprensa dos resultados do primeiro trimestre, que este ciclo da política monetária é restritivo e por isso há um arrefecimento da procura, que era expectável.

Mas Miguel Maya acredita na descida das taxas de juro pelo BCE mais cedo do que o esperado e que, por isso, este "ciclo vai-se inverter".

O  CEO diz que o BCP está "preparadíssimo" para fazer crescer a carteira de crédito do banco quando esse ciclo chegar e remete para o rácio de transformação de depósitos em crédito, que se situou em 68,3% em 31 de março de 2024.

Paralelamente, o CEO do BCP conta com a garantia pública para viabilizar crédito à habitação que deverá dirigir-se a jovens até aos 35 anos para fazer subir a procura de crédito à habitação. A iniciativa faz parte da nova estratégia para a habitação, denominada Construir Portugal, mas ainda não são conhecidos os detalhes.

O BCP revelou no primeiro trimestre uma carteira de crédito bruta de 56.822 milhões de euros, em termos consolidados, 0,8% abaixo do ano passado. Com o crédito a empresas a cair 7,2% (para 21.776 milhões).

Em Portugal é que a redução da atividade se nota mais. O crédito caiu 3,8% para 38.409 milhões de euros, ou seja, menos 1,53 mil milhões. A carteira de crédito "performing" recuou 3,5% para 37,3 mil milhões de euros, ou seja, menos 1,34 mil milhões de euros.

O crédito à habitação cai ligeiramente em relação ao ano passado enquanto o crédito ao consumo, tem uma evolução positiva.

A queda do crédito à habitação e a aposta da banca no crédito ao consumo para compensar parece ser cada vez mais o retrato da banca e que em parte foi traçado pelas restrições impostas pelo Banco de Portugal ao crédito, ao nível das medidas macroprudenciais. Nomeadamente os limites ao rácio LTV - Loan to Value (valor do empréstimo face ao valor do imóvel), ao DSTI - debt service-to-income (taxa de esforço) e à maturidade (duração do empréstimo).

O tema da habitação "é um tema sério" e "há carência de habitação em Portugal", defendeu o CEO do banco.  É um problema do lado da oferta (de casas) e do lado da procura, frisou o banqueiro, que elogiou o facto de se estar a reconhecer o problema de a maioria dos jovens não ter os 10% dos fundos próprios para poderem dar de entrada numa casa, e de isso estar a condicionar o mercado do crédito à habitação. Pelo que Miguel Maya considera positiva a medida de o Estado ajudar os jovens a contratar crédito habitação.

A garantia pública para viabilizar o crédito à habitação de jovens vai ficar sujeita a limites de rendimentos dos beneficiários e dos preços dos imóveis.

"É muito positivo é para a sociedade", disse o banqueiro sobre a garantia pública para viabilizar crédito à habitação que deverá dirigir-se a jovens até aos 35 anos e ficará sujeita a um teto máximo de rendimentos dos beneficiários e de preço do imóvel adquirido.

'Quo vadis' BCP?

Para onde caminha o BCP? No primeiro trimestre, os lucros subiram graças à redução das imparidades e provisões, fruto da melhoria da qualidade da carteira de crédito. Os lucros consolidados do banco tiveram ajuda da redução das imparidades e provisões. O mesmo aconteceu em Portugal. A evolução do perfil de risco da carteira de crédito permitiu uma redução das dotações para a imparidade do crédito (líquida de recuperações), nomeadamente na atividade em Portugal.

O rácio de NPE (Non Performing Exposure), vulgarmente conhecido como malparado, melhorou para 3,4%, abaixo dos 3,8% um ano antes (em Portugal desceu de 3,2% para 2,8%).

O banco destacou a redução continuada de ativos não produtivos, face a março de 2023, uma redução de 223 milhões em NPE, de 60 milhões em imóveis recebidos por recuperação (para 158 milhões) e de 43 milhões em fundos de reestruturação para 373 milhões, ou seja, uma redução de 10,3%.

O banco prepara um novo plano estratégico a apresentar no terceiro trimestre, mas para já, no primeiro trimestre do ano o produto bancário cai 13,1%, apesar da (ainda) positiva evolução da receita de margem financeira (+4,8%), e do ligeiro aumento da receita de comissões (+0,5%).

O resultado operacional core do Grupo BCP ascendeu a 584,6 milhões de euros no primeiro trimestre de 2024, ou seja -1,2% do que o alcançado no trimestre homólogo do ano anterior, por causa da subida dos custos superior (+14,7%) à subida das receitas. Em Portugal os custos também subiram 5,5% para 154,6 milhões.

O rácio de eficiência (cost-to-income), apesar de estar num bom nível, piorou de 31% para 35% no consolidado e em Portugal de 21% para 29%. Ainda assim, melhor do que o plano estratégico, em curso, previa.

A rentabilidade está num nível alto, com o ROE a ascender a 15%, mas está em trajetória decrescente (basta ver que na mesma altura no ano passado era 17%).

O reforço significativo dos rácios de capital é uma das boas notícias do trimestre. O rácio de capital CET1 de 16,0% e o rácio de capital total de 20,5%, corresponde respetivamente a um aumento de 246 pb e 255 pb face ao período homólogo, evidenciando a forte capacidade de geração orgânica de capital.

O banco vai distribuir dividendos até porque "a melhor a forma de proteger o banco [de OPAs] é remunerar os acionistas".