O mercado prepara-se para novo corte de juros diretores na zona euro esta quinta-feira, novamente de 25 pontos base (p.b.) após o arranque da normalização da política monetária em junho e a decisão de manter tudo inalterado em julho. A inflação dá sinais claros de estar a acalmar e os medos de recessão, embora fundados, não parecem dominar a tomada de decisão do Banco Central Europeu (BCE), pelo que a reunião de setembro deve resultar numa descida menos intensa do que os investidores chegaram a antecipar.
Com os juros diretores entre 3,75% e 4,5%, o BCE deve voltar a descer taxas esta quinta-feira, dada a descida sustentada do indicador de preços nos últimos meses. Do pico de 10,6%, a inflação recuou até 2,2% na leitura mais recente, em agosto, um valor que fica praticamente em linha com o objetivo de médio-prazo do banco central, ou seja, em torno de 2%.
Na mesma linha, o indicador core, que descarta as categorias mais voláteis (a energia e os bens alimentares não-transformados), mostra um alívio da pressão inflacionista, dando mais margem de manobra aos decisores de política monetária para cortar juros.
Martin Wolburg, economista sénior na Generali AM, lembra “a série de dados macro mais fracos que chegaram a alimentar expectativas de mercado de um BCE mais ativo”, uma situação que o analista suspeita não se irá confirmar. A recessão não é o cenário base da instituição financeira, pelo que a expectativa é que a presidente Lagarde “sinalize mais cortes”, com descidas trimestrais a constituírem o percurso mais provável.
Felix Feather, economista sénior da Abrdn, concorda com a projeção, embora alertando que os responsáveis do BCE “não estão satisfeitos com a forma como as pressões inflacionistas domésticas se estão a desenrolar”, um dos focos do banco central nos últimos trimestres.
Recorde-se que a ferramenta recentemente desenhada pelos técnicos do BCE para monitorizar as negociações salariais na zona euro abrandou de 4,74% no primeiro trimestre para 3,55% no segundo, sendo que figuras de relevo como Philip Lane, o economista chefe do banco central, projetou que o indicador continue a desacelerar.
Perante uma incerteza ainda considerável, os analistas da Ebury, embora concordando quanto à projeção para o rumo dos juros, duvidam que haja um sinal claro quanto à política monetária para lá de setembro, preferindo o BCE manter uma abordagem dependente dos dados. Ainda assim, a reunião de setembro trará uma atualização das projeções macro, algo que tem sempre potencial para dar pistas quanto ao futuro próximo.
O BCE reúne na semana antes da reunião de setembro da Reserva Federal, para quando o mercado espera o arranque da normalização de juros, estando mesmo dividido entre um corte de 25 p.b. e 50 p.b.. Por outro lado, em Inglaterra, a redução dos juros já arrancou em agosto, com as taxas diretoras atualmente em 5% após um corte de 25 p.b..
Na mesma linha, Canadá, Dinamarca, Suécia e Suíça já arrancaram com as reduções de taxas, enquanto o Japão é a economia que mais destoa, tendo subido taxas pela segunda vez este ano na reunião de julho, isto depois de 14 anos sem mexidas.