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Banca portuguesa vai manter performance sólida em 2025

Banca : Os bancos portugueses estão em forma e a tendência irá manter-se no próximo ano, acreditam os especialistas. A forte capitalização e o crédito malparado em níveis baixos poderá levar a uma estratégia de maior predisposição para o financiamento da economia nacional.

Os cinco maiores bancos a operar em Portugal tiveram um lucro agregado de 3915,7 milhões de euros entre janeiro e setembro, um aumento de 19% face ao mesmo período de 2023. E deverá terminar o ano com lucros históricos em Portugal, que podem ascender a cinco mil milhões de euros no agregado dos principais bancos. “Espera-se que a banca portuguesa mantenha performance sólida após os aumentos significativos do lucro que se espera verificar em 2025. A manutenção de um bom desempenho da economia portuguesa aliado à baixa das taxas de juros, mas que se manterão estruturalmente altas, face ao longuíssimo período de taxas baixas, irá não só permitir à banca portuguesa recuperar volume de carteira de crédito, mas a um preço melhor, com reflexo na margem de lucro. A banca continua bem capitalizada e com um baixo nível de NPLs que não se prevê que aumente dado o contexto de queda das taxas de juro e desempenho da economia nacional”, diz Gonçalo dos Reis Martins, sócio das áreas de Bancário e Financeiro e de Mercados de Capitais da PLMJ, ao Jornal Económico.


De grande relevo para o setor, o especialista sublinha “o esperado IPO do Novo Banco”, previsto para se concretizar em 2025. “Continuaremos a assistir a um foco forte nos financiamentos com componente ESG”, acrescenta. Nuno Castelão, responsável pela área de prática de Bancário, Financeiro e Mercado de Capitais da Antas da Cunha Ecija, partilha da mesma opinião. “As perspetivas para os bancos nacionais são muito positivas, no seguimento dos excelentes resultados recentemente apresentados pela banca portuguesa e em particular pelos “big five” (CGD, BCP, Santander Totta, Novo Banco e BPI). Os bancos portugueses estão bem capitalizados e o crédito malparado (Non Performing Loans) está em níveis muito baixos. Mesmo a nível europeu a banca está genericamente em boa forma, como é demonstrado pelo facto do BCE não ir aumentar os requisitos de fundos próprios dos bancos europeus. Antevejo que a combinação de uma boa capitalização dos bancos com um novo ciclo de redução das Euribor, leve a banca a adotar uma estratégia de maior predisposição para o financiamento da economia nacional (projetos, empresas e famílias)”, afirma ao JE. Para este responsável pela área de prática de Bancário, Financeiro e Mercado de Capitais da Antas da Cunha Ecija, este novo ciclo de reduções da Euribor “é simultaneamente uma oportunidade e um desafio para a banca nacional porque irá provocar uma compressão das margens. Recorde-se que o nível elevado das taxas de juro (elevado face ao histórico recente) suportou os lucros dos bancos nos últimos dois anos. Por isso é de esperar que os lucros da banca em 2025 sejam menores”.


Nuno Castelão avisa também que “se houver um aumento significativo do financiamento bancário à economia nacional, necessariamente haverá mais emissões de obrigações, quer seniores, quer instrumentos de capital para reforço de fundos próprios. Antevejo assim um mercado de capitais mais aquecido em 2025, até porque continuaremos a ver os grandes corporate a emitir obrigações”.


Já António Payan Martins, sócio de bancário e financeiro da CMS Portugal, salienta que o principal desafio para 2025 é a incerteza, que só vai clarificar-se ao longo do ano “quando houver maior visibilidade sobre a política económica, comercial e financeira dos Estados Unidos sob a presidência Trump”. No quadro europeu, antevê o especialista ao JE, as eleições na Alemanha e a situação política em França vão também ser determinantes.

Competitividade e regulação
Para o responsável pela área de prática de Bancário, Financeiro e Mercado de Capitais da Antas da Cunha Ecija, Nuno Castelão, a economia portuguesa “é pequena e os acionistas dos bancos nacionais não vão querer ver uma redução significativa dos seus dividendos, por isso 2025 deverá assistir a um aumento da concorrência entre os bancos na concessão de crédito aos melhores projetos e às empresas mais sólidas”. E isso irá estender-se ao financiamento às famílias, o que contribuirá para um aumento do consumo, em benefício da economia.


Num contexto de aumento da concorrência, avança o especialista, “é necessário ser mais engenhoso e pensar fora da caixa, ou pelo menos apostar no que é mais palatável, por isso deveremos ver mais produtos bancários ligados a fatores de sustentabilidade e ESG, com o risco de haver algum green washing. Também deverá haver um aumento do investimento no digital e em ferramentas de IA”.


Já António Payan Martins destaca o desafio da concentração e da escala, por um lado, e a digitalização dos serviços “que vão ser essenciais para a competitividade e relevância dos bancos, num cenário que se antecipa de continuada baixa dos juros diretores”.


Ao nível da regulação, Gonçalo dos Reis Martins, sócio das áreas de Bancário e Financeiro e de Mercados de Capitais da PLMJ, lembra que o Banco de Portugal lançou em outubro passado a consulta pública de um projeto de aviso sobre a constituição de reserva contra cíclica de fundos próprios a qual propõe que seja estabelecida em 0,75% e entrará em vigor no final deste ano o CRR III. “Tendo em conta a alteração do regime fiscal dos fundos de crédito ocorrida este ano, espera-se que 2025 venha a ser um ano em que este tipo de fundos, constituídos em Portugal, comecem verdadeiramente a conceder crédito a uma faixa do mercado normalmente não coberta pela banca nacional”, afirma.


A nível europeu os desafios são enormes, aponta António Payan Martins. “O aprofundamento da União do Mercado de Capitais e a melhoria do acesso a financiamento por parte das empresas da UE são prioritários e existe uma forte expectativa quanto ao novo mandato da próxima Comissão Europeia”, explica o sócio de Bancário e Financeiro da CMS Portugal. Sobre as perspetivas ao nível regulação, Nuno Castelão deixa uma questão. “Será desta que o Código da Atividade Bancária verá a luz do dia?”.