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Banca portuguesa foi a que mais reduziu exposição à Rússia desde o início da guerra

Em resposta aos apelos dos reguladores, os bancos portugueses diminuíram em 94% a sua exposição à Rússia desde que esta invadiu a Ucrânia, para apenas oito milhões de euros contabilizados no último trimestre do ano passado.

O sector financeiro global fez um esforço de redução da sua exposição à Rússia depois de o país ter invadido a Ucrânia em fevereiro de 2022, respondendo ao apelo de várias entidades, nomeadamente do Banco Central Europeu (BCE), mas a banca portuguesa foi a que mais “encolheu” a exposição, diminuindo-a em mais de 140 milhões de euros e passando a ter apenas oito milhões de euros no final do ano passado.

“A crise na Ucrânia, que começou no início de 2022, levou bancos internacionais a reduzir acentuadamente, em aproximadamente metade, a sua exposição média à Rússia”, afirma Eric Dor, diretor de estudos económicos da escola francesa IESEG, num novo estudo sobre a exposição do sector financeiro à Rússia, a que o Jornal Económico teve acesso. 

O estudo da IESEG mostra que entre o quarto trimestre de 2021 e o quarto trimestre de 2023, a exposição de bancos estrangeiros a entidades localizadas na Rússia recuou 49,8% quando o cálculo é feito em euros. Neste período, o montante reduziu-se de 106,7 mil milhões de euros, para 53,6 mil milhões de euros. No caso de este cálculo ser feito em dólares, então a redução é de mais de metade: a exposição diminuiu em 51,3%, com o montante a recuar de 121,3 mil milhões para 59,1 mil milhões de dólares. 

Portugal era um dos países com menor exposição à Rússia, mas foi, segundo os mesmos cálculos, quem mais reduziu ao longo deste período. No quarto trimestre de 2021, os bancos portugueses tinham 151 milhões de euros em exposição a entidades no país liderado por Vladimir Putin. Esse montante já era apenas de oito milhões de euros no último trimestre do ano passado, o que traduz uma redução de 94,61% nos últimos dois anos. 

Enquanto o BCP afirmou, em 2022, que a sua exposição era “imaterial”, a Caixa Geral de Depósitos indicou que a exposição direta à Rússia era de aproximadamente quatro milhões de euros em créditos. Já o Novobanco tinha créditos de cinco milhões de euros a entidades da Rússia e no seu balanço contabilizava obrigações de cerca de 43 milhões.

Em França, os bancos - que tinham uma exposição superior a 23 mil milhões de euros - também foram dos que mais reduziram, diminuindo em 86% para pouco mais de três mil milhões de euros. Já as instituições financeiras suíças diminuíram em 82%, passando de 3,5 mil milhões de euros no quarto trimestre de 2021 para 617 milhões de euros. 

Por outro lado, os bancos na Alemanha “encolheram” a exposição em cerca de 40%, com o montante a cair para 3,8 mil milhões de euros no final do ano passado. Para Itália não há dados recentes, sabendo-se apenas que tinha uma exposição superior a 21 mil milhões de euros no final de 2021.

Grandes bancos ainda mantêm subsidiárias

Já os bancos na Áustria reduziram menos, diminuindo 23,42% para 12,4 mil milhões de euros no quarto trimestre de 2023. “Isto deve-se ao facto de ainda haver uma forte presença da subsidiária do Raiffeisen Bank International na Rússia”, afirma Eric Dor, notando que esta entidade “é uma fonte de lucros que pesam muito na rentabilidade do banco porque excedem todos os lucros obtidos noutros países”. Não podem, porém, “ser transferidos para a Áustria, ficando, por isso, bloqueados na Rússia”. 

De acordo com o diretor de estudos, “abandonar as suas atividades na Rússia será muito dispendioso para o Raiffeisen Bank International”, pois “perderia esses lucros e a venda da subsidiária seria certamente feita com um grande desconto”. No mês passado, o banco anunciou que o BCE, enquanto supervisor bancário, estaria preparado para obrigá-lo a reduzir a sua exposição à Rússia em 65% até 2026. Do lado dos EUA, as autoridades já ameaçaram banir o banco do seu sistema financeiro devido às suas atividades no país.

No verão do ano passado, Andrea Enria pedia, enquanto presidente do Conselho de Supervisão do BCE, para os bancos europeus presentes na Rússia saírem rapidamente. “Penso que é importante que os bancos continuem muito concentrados em reduzir ainda mais as suas exposições e, idealmente, em sair do mercado o mais rapidamente possível“, disse. Apesar disso, além do Raiffeisen Bank International, os principais bancos europeus mantêm subsidiárias na Rússia, nomeadamente os italianos Unicredit e Intesa Sanpaolo, o húngaro OTP, os alemães Commerzbank e Deutsche Bank e o ING nos Países Baixos.