O ataque com tinta verde de um ativista pelas alterações climáticas contra Luís Montenegro à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), na FIL, em Lisboa, e as palavras do dirigente do CDS Paulo Núncio sobre a repetição de um referendo ao aborto agitaram o 4º dia oficial da campanha eleitoral para as eleições de 10 de março. E se para os analistas em Ciência Política contactados pelo JE o primeiro caso é “um incidente” usual em campanhas ou um momento “que beneficia” Luís Montenegro, porque desperta “empatia e compaixão” do eleitorado, o segundo foi “um erro” que trouxe um “mau momento” para o dia da AD.
O "erro" de Núncio acabou por ser um pouco abafado pela tinta verde a escorrer da cabeça e das costas do líder da AD quando este se preparava para visitar a BTL, numa ação de campanha que acabou por ser interrompida. Montenegro foi levado para o carro, para sair do local, enquanto a PSP detinha o ativista. A imagem de Montenegro a falar aos jornalistas manchado de tinta verde na cara, cabelo, costas e na camisa branca correu o país e marcou definitivamente o dia, com todos os partidos, da esquerda à direita, a virem condenar o ataque.
O próprio Presidente da República acabaria por falar, considerando que este tipo de protestos com tinta dos ativistas estavam a “perder eficácia”. António Costa, ainda primeiro-ministro, viu-se obrigado a vir a terreiro garantir que já falou com a PSP para que os candidatos às eleições de 10 de março tenham segurança pessoal.
“Devia ter cavalgado a onda”
Para a politóloga Paula do Espírito Santo, o ataque a Luís Montenegro com a tinta verde “beneficia” a campanha da AD porque faz as pessoas sentirem “empatia” pelo sucedido. Mas a analista política considera, em declarações ao JE, que a estrutura de comunicação da AD “não soube aproveitar” o momento ao retirar de imediato o candidato do local. Ou seja, a analista considera que Luís Montenegro devia ter entrado na BTL e continuado a sua ação de campanha, falando com as pessoas, mesmo com a cara pintada de verde, porque mostrava “coragem”, marcaria todo o dia da campanha e “abafava” a campanha de todos os seus adversários. “Podia até dizer que esta era a sua marca para o governo, que se o tentassem deitar abaixo, seguiria”, entende a professora de Ciência Política do ISCSP, para quem se Montenegro tivesse continuado a ação teria despertado no eleitorado mais “empatia” e “sensação de injustiça” a seu favor.
Luís Montenegro optou por não prosseguir a ação de campanha, disse que preferia ter “conversado” com o ativista do clima, que estava na campanha para apresentar as suas propostas e que não lhe interessava saber se o movimento ativista tinha ou não a intervenção de partidos. Abandonou o local manchado de tinta, aparentemente tranquilo. A sua imagem com a cara pintada de verde correu o país e galgou fronteiras. O que acaba, segundos os dois politólogos ouvidos pelo JE, por beneficiar a AD porque puxa a atenção para a sua campanha e gera “empatia”.
"Apenas um incidente"
Já o politólogo José Adelino Maltez desvalorizou o momento, apontando que foi apenas “um incidente”, que ocorrem em muitas campanhas. Ao JE, o analista político diz que gostava de ver uma “campanha mais humanizada” e menos “profissionalizada”, em que os candidatos “estão muito fechados na propaganda” e se mostram pouco como seres humanos e a sua personalidade.
O JE procurou saber junto de fonte da caravana da AD a razão pela qual o líder decidiu interromper a ação depois de ser atacado com a tinta. Fonte do gabinete de comunicação disse que Montenegro ainda “tentou seguir com a ação, chegando a falar com pessoas, mas tornou-se impossível”.
Ao JE, Nuno Melo, líder da AD e que seguia naquele momento mesmo ao lado de Luís Montenegro, explicou o porquê: “Tornou-se incómodo, a tinta escorria-lhe pelas costas abaixo e pelo colarinho, era uma questão de conforto”.
Numa conferência, Paulo Núncio, número dois do CDS para as legislativas, disse que para alterar a legislação do aborto seria necessário um novo referendo, uma declaração que incendiou também o 4º dia da campanha. E que obrigou a duas respostas: Nuno Melo disse que o tema do aborto não estava na agenda da coligação da AD e Luís Montenegro rematou que a questão do aborto é um assunto resolvida há 17 anos. Desta forma, o líder da AD acabou por matar um assunto que já estava a ser cavalgado pela oposição, que acusava a AD de querer limitar e recuar nos direitos das mulheres e voltar ao passado. “Foi um erro”, considerou Paula do Espirito Santo numa análise às palavras de Paulo Núnci