Começar um texto por uma citação pode irritar até o leitor mais complacente. Mas vamos correr esse risco para introduzir uma app que agora chega ao território nacional, a “Explorial”, que convoca os visitantes que gostam de aprender divertindo-se, em família, com amigos ou colegas, numa lógica de jogo a pé e em grupo.
E aqui está ela, a citação: “Turistas não sabem onde estiveram; viajantes não sabem para onde irão”. O autor é Paul Theroux, escritor norte-americano e inveterado viajante. Mas Theroux terá, eventualmente, deixado de fora o “visitante”, nacional ou estrangeiro, que não sendo simples turistas, também não ambiciona ser viajante.
As escapadelas, os fins de semana prolongados ou uma estada mais longa, mas que não permite fazer tudo numa cidade, pode ter a palma da mão como a nossa melhor amiga. Traduzindo. Com um smartphone e ligação à Net, poderá descarregar a app Explorial – disponível para Apple e IOS – e dedicar-se a explorar os percursos sugeridos. Em Portugal, a Explorial já tem experiências para Braga, Cascais, Coimbra, Évora, Lisboa, Óbidos, Porto e Sintra. Tem uma lógica de quizz, ou gaming, em que aposta no trabalho em equipa. Embora também lance desafios individuais para aumentar a pontuação.
Como assim, pontuação? Para estimular o envolvimento de todos os que estão a explorar o percurso disponível. Não há tempo limite para a “prova”. A ideia é contemplar, descobrir, aprender um pouco sobre determinados locais e apimentar a experiência pondo à prova os conhecimentos de cada um e de todos. Lembre-se que o mais importante é desfrutar do passeio e, à boleia, levar mais conhecimento consigo.
Pronto para começar? Os "visitantes-jogadores Explorial" conhecem os locais através de introduções sobre o contexto histórico e cultural das localizações. Em seguida as respostas irão facultar-lhes mais informações sobre o local, como crenças, histórias, hábitos locais, lendas, etc..
Presente em 15 países, com 93 rotas, o Jornal Económico foi convidado a participar num dos percursos por Lisboa, que parte da Praça dos Restauradores, passa pelo Largo do Carmo e termina no Terreiro do Paço. Mesmo para quem pensa que conhece bem a cidade, vai perceber que muito lhe escapa. Como é sabido, os detalhes fazem a diferença, e é em detalhes históricos, arquitetónicos, da cultura popular e erudita, que este gaming se faz. Se tiver de ordenar quatro cidades – Lisboa, Atenas, Londres e Roma – pela sua antiguidade, será que vai acertar?
Como é apanágio dizer-se, o saber não ocupa lugar. E foi essa vontade de conhecer uma cidade numa lógica de self-guided tour com amigos, que tudo começou. A Explorial é uma startup e nasceu na Suíça. Dois amigos criaram o conceito e dois empresários – um português e alemão – apostaram nele. André Jacques, Country Manager para Portugal e Espanha, em declarações exclusivas ao Jornal Económico (JE), explica que “o projeto está há cerca de dois anos em prova de conceito e, neste momento, encontra-se devidamente testado, dado estarmos praticamente presentes em todo o mundo. Por ora, temos uma centena de tours em todo o mundo, nove em Portugal, e o objetivo é crescer”.
O objetivo de trazer o projeto para Portugal vai mais longe, como explica ao JE. “É o sítio ideal para construirmos a nossa estrutura, i.e., a globalização da marca vai ser feita a partir de Portugal. Estamos nesta fase a transferir tudo o que já foi feito e a construir a equipa cá para conseguirmos, a partir de Portugal, fazer crescer a marca em todo o mundo”.
Isso significa que o país é estratégico para a Explorial? “Significa que tem muitas vantagens. Desde logo, o mercado em si é um mercado de experiências muito multifacetado. Há muito turismo, seja de grande cidade, seja de pequena cidade em Portugal. É muito interessante para testar, para mais sendo um mercado que abarca tantas realidades e com um público transversal, ou seja, é um test bed ideal. O objetivo é que a sede passe a ser em Portugal, pois há um conjunto de fatores que nos permite encontrar aqui talento muito capacitado e, acima de tudo, muito interessado neste tipo de coisas. Gostam de pensar mundo, ver mundo”, realça o responsável.
O JE ficou também a saber que, atualmente, a equipa tem quatro pessoas e que estão em fase de recrutamento para crescer até sete pessoas, nesta fase. Com um escritório no Porto e dois postos de trabalho em Arouca, no centro do país, a aposta passa também por gerar emprego em territórios de baixa densidade e, não menos importante, por “aceder a fundos estruturais, dado o investimento ser da empresa, tudo com capitais próprios, para acelerar a escala do projeto”.
Quisemos saber se existe algum elemento diferenciador, relativamente às outras apps no mercado. “O desenho foi pensado para explorar o percurso ponto a ponto, e cada ponto tem informação sobre o local, o essencial, ou seja, um breve contexto, como três a quatro desafios naquele ponto, que são feitos em equipa e também individualmente. Estimular a visita com um pouco de competição, para que todos participem, mas com boa disposição. Digamos que é um «compromisso» para levarem o jogo até ao final, estarem atentos e reter alguma informação. Esta camada de jogo pretende envolver todas as pessoas que estão no tour”.
Destaca ainda a adesão que a app tem tido junto de empresas, numa lógica de team building. Testemunhos não faltam na social wall existente no site da Explorial, onde os “exploradores” postam as fotos que quiserem do seu tour, que também tem tido feedback positivo junto de escolas e diversas entidades públicas. Os desafios não são apenas os que estão previstos para os percursos, também se colocam ao nível da expansão da marca.
Passamos novamente a palavra a André Jacques para saber qual o maior desafio para a expansão da Explorial. “O maior desafio é sermos os mais rápidos a crescer. Não somos a única proposta deste género [no mercado], há propostas adjacentes, há os tours gratuitos… Temos 50 mil downloads da aplicação, nem todos convertidos em experiências, mas já estamos prestes a atingir as 100 mil experiências. O bilhete anda nos 7 euros em Portugal, e um dos aspetos importantes para quem investe num projeto desta natureza é perceber que há receitas recorrentes e relativamente estáveis. E estamos a chegar aí, de uma forma bastante distribuída e não concentrada neste ou naquele destino. Temos isso em Portugal, e noutros países, e isso dá-nos a segurança de que é possível investir. Por muito que se faça, alavancado por financiamentos de vária ordem, em grande medida os capitais próprios têm de entrar aqui, o que implica um elevado grau de segurança. É onde estamos agora”, sublinha André Jacques.
É com base nessa “segurança” que a Explorial desenvolveu um conceito global, aplicável em todo o lado e para públicos muito distintos, abarcando visitantes nacionais e estrangeiros. A app não está desenhada apenas para quem vem de “fora”, seja qual for o país. Daí a pergunta: quais as metas a atingir a partir de Portugal?
“Nós apresentamos 100 experiências – ou melhor, vamos chegar à centena em Londres, que vai estar disponível muito em breve – e queremos chegar às 2.000”. Em quanto tempo? “Três anos. Há muito espaço para crescer na Europa; a América do Norte é um território muito interessante, por ser muito vasto, e apesar de ter muita oferta neste terreno, nenhuma ganhou verdadeiramente escala. Daí querermos crescer nestes dois mercados, porque serão eles que depois vão alavancar todos os outros. E é a partir de Portugal que vamos trilhar esse caminho”, reforça o Country Manager. Até porque, a principal meta é, diz-nos, tornarem-se “uma referência no mercado global”.