Ao terceiro dia de campanha oficial, as caravanas dos vários partidos continuaram na estrada por vários distritos, mas o maior foco mediático concentrou-se na sede do PSD, em Lisboa, para o almoço de comemoração dos 51 anos do partido, que juntou os ex-líderes. Manuela Ferreira Leite e Rui Rio falaram à entrada aos jornalistas, mas seria, porém, a "pequena reflexão" de Pedro Passos Coelho sobre a necessidade de reformismo a marcar o dia político.
O antigo primeiro-ministro salientou a importância da estabilidade política, mas frisou que apenas isso não é suficiente. "É preciso que exista, verdadeiramente, um espírito reformista que possa estar ao serviço dessa estabilidade", disse, sem nunca responder se a Aliança Democrática (AD) ou Luís Montenegro têm essas características.
Apesar das tentativas dos jornalistas, Pedro Passos Coelho, que não vai "intervir no desenrolar da campanha eleitoral" nem comentar temas da ordem do dia, não foi além da reflexão sobre a necessidade de reformismo e de atenção à incerteza mundial. "O resto deixo para o líder do PSD, para a campanha eleitoral e para os portugueses que vão ter de ponderar o que fazer nos próximos anos", declarou, apenas.
Luís Montenegro assinalou depois que encarou o pedido de reformismo de Pedro Passos Coelho como uma sugestão e um contributo, assinalando estar "muito entrosado" com o antigo primeiro-ministro no objetivo reformista. E, surfando a onda das declarações de Passos, aproveitou para criticar o principal adversário político, que acusou de ter uma visão e ambição "frouxa".
"O PS só se preocupa com a gestão do dia-a-dia e apresenta uma ambição muito frouxa, que vai deixar tudo na mesma. Queremos dar garantias de que não vamos tornar a ter eleições. Contribuiremos com as nossas ideias, propostas, equipas e liderança para, no fim, podermos dizer que o país está num bom caminho e tem condições para juntar à estabilidade económica e financeira a política", afirmou o líder da AD ao início da tarde.
Nessas mesmas declarações, depois do menu na São Caetano à Lapa, o presidente do PSD disse que os portugueses "estão fartos de eleições" e mostrou-se confiante num reforço do resultado de 2024, sem, no entanto, verbalizar um pedido de maioria absoluta. "Os portugueses estão fartos de eleições, querem resolver o problema do Governo para quatro anos e, portanto, terão de optar", disse, completando ainda: "Aceitarei o juízo dos portugueses e tenho a certeza de que o juízo dos portugueses vai ser o de reforçar esta maioria".
Ambição frouxa? Montenegro deixa economia a "andar para trás"
Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, reagiria às acusações sobre ambição pouco depois, durante uma ação de campanha no Entroncamento, com comboios como pano de fundo. O líder do PS criticou o primeiro-ministro em funções por falar em ambição quando deixa a "economia portuguesa a andar para trás". "Aquilo que sabemos é que o mais certo é ter de rever o crescimento económico para 2025 em baixa", afirmou.
"Luís Montenegro não pode falar de ambição; não está a transformar o país, está a travar a economia nacional", acrescentou, virando depois as declarações para as oficinas do Entroncamento - uma "empresa muito importante para o país" que tem "trabalhadores que fazem magia todos os dias" com comboios com 40 anos como novos, depois de serem transformados.
"É preciso apoiar não só a CP como o investimento ferroviário pelo impacto que ele também tem na nossa indústria", defendeu, confessando sentir "muitas" saudades deste tipo de visitas que fazia quando era ministro da área. Ocasião para puxar dos galões: "Fizemos um trabalho muito importante; reabrimos uma oficina gigante em Guifões, recuperamos material que estava encostado a apodrecer, compramos carruagens que renovamos, queremos continuar esse trabalho que, na minha opinião, foi travado."
Sobre estabilidade, Pedro Nuno Santos voltou a repetir que a AD não consegue oferecer estabilidade política: "Ouço ex-líderes e o atual líder do PSD falarem em estabilidade, mas quem é que foi a principal fonte de instabilidade política dos últimos meses? A instabilidade política dos últimos dois meses deve-se a Luís Montenegro."
De manhã, confrontado com a eventualidade de ter também os ex-líderes socialistas a apoiar a sua campanha, Pedro Nuno Santos disse que o "PS dá ao mundo os grandes líderes", referindo-se a António Costa, presidente do Conselho Europeu, e a António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, razão pela qual não participam na campanha eleitoral. "O PS tem muitos militantes, dirigentes e antigos líderes a participar na campanha; não há nenhuma questão com isso. Olhe, eu até agradeço que esses antigos líderes participem na campanha do PSD, porque fica mais claro o que é a natureza do PSD nesta campanha", declarou Pedro Nuno Santos.
AD não teve "ímpeto reformista"
O líder da Iniciativa Liberal escutou a "pequena reflexão" do antigo primeiro-ministro e, diretamente de Mangualde (Viseu), garantiu que o partido que lidera terá "ímpeto reformista", entendendo que as palavras de Pedro Passos Coelho têm como alvo a própria coligação PSD/CDS, que "não trouxe a mudança necessária ao país".
"Parece-me muito relevante que Passos Coelho identifique duas questões que são fundamentais. Por um lado, a questão da estabilidade e, por outro lado, a do reformismo, que são precisamente duas questões em que a AD falhou", afirmou.
Para Rui Rocha, a AD falhou na estabilidade "na medida em que conduziu o país a uma situação de eleições legislativas, de crise política" e, ao longo da legislatura, "falhou também do ponto de vista das medidas reformistas". "Portanto, parece-me que esse alerta de Pedro Passos Coelho é um alerta muito justo e que se dirige a quem nesta legislatura não conseguiu entregar nenhuma destas duas questões ao país", referiu, garantindo que a capacidade reformista é "precisamente a marca" dos liberais.
Mariana madrugou e Raimundo confiante no regresso do PEV
E por falar em transportes e mobilidade, o Bloco de Esquerda começou o terceiro dia de campanha oficial a madrugar nos autocarros da Carris, no concelho da Amadora, para alertar para o papel das trabalhadoras domésticas e defender direitos para os trabalhadores por turnos. "Para um país onde se ouve falar tanto de meritocracia, ninguém me convence que alguém tem mais mérito na sociedade portuguesa do que uma mulher que se levanta às quatro e meia da manhã e apanha três autocarros para limpar três casas ou três instituições e volta a casa às nove da noite para cuidar dos seus filhos. Esta certamente será a mulher com mais mérito da economia portuguesa", defendeu Mariana Mortágua.
Em Sines, o porta-voz do Livre, Rui Tavares, considerou que o almoço dos ex-líderes do PSD mostra "as várias facetas da Direita" que alterna entre a austeridade, a arrogância e as forças de bloqueio. Criticando cada um dos antigos presidentes social-democratas, o historiador referiu que, em Portugal, está em competição interna entre o "Montenegrismo" do PSD, o "motosserismo" da IL e as "políticas do medo" do Chega. Rui Tavares afirmou também que uma eventual maioria entre a AD e os liberais "é para ir mais longe do que a Troika".
Já Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, aproveitou uma ação de campanha na Lagoa de Albufeira, em Sesimbra, para apontar ao regresso de Os Verdes ao Parlamento, acompanhado de Heloísa Apolónia, ex-deputada e número três no distrito de Setúbal.
Para o líder dos comunistas, essa possibilidade não é "uma fezada", mostrando-se convencido e com "muita confiança" de que "é possível" isso acontecer no círculo de Setúbal, com a eleição de Heloísa Apolónia, apesar de nas últimas eleições a CDU ter elegido apenas um parlamentar naquele distrito.
Antes, Raimundo já tinha comentado que o almoço na São Caetano à Lapa seria com uma ementa que "cheira a Troika, com Bruxelas e Alemanha presentes e o aperto da crise financeira representado na 'sopinha rala'".