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Angela Merkel: Tem mais encanto na hora da despedida

Entrou para a alta política pela mão de um chanceler tão poderoso que poucos lhe vaticinavam uma carreira pródiga e longa. Aconteceu precisamente o contrário, depois de mais de 15 anos à frente de uma Alemanha que nunca aceitou colocar em debate a sua condição de liderança da União Europeia. Arranjou inimigos por isso, mas, na hora da despedida, todos lhe reconhecem méritos que em 2005 ninguém soube antecipar.

Por certo que poucos se recordarão da jovem (mas não assim tão jovem) que, pela mão do poderoso chanceler alemão Helmut Kohl – que tinha acabado de assegurar um lugar nos livros de História que ainda não se escreveram, depois de conseguir reunificar as duas Alemanhas – debutou na política germânica e se chamava Angela Doroteia. Vinha de um lugar obscuro – a República Democrática da Alemanha, irmã gémea, empobrecida e ex-comunista da República Federal da Alemanha, mas nasceu em Hamburgo –, não sabia como gerir sensibilidades no interior belicoso da União Democrata-Cristã (CDU) e assumia o seu ar frágil como uma espécie de modo de vida modestamente luterano (o pai era clérigo). Era doutorada em Química Quântica, qualquer coisa próxima das alquimias mais furibundas e impenetráveis, e não economista, advogada ou engenheira, como era suposto. Tantos anos depois, Angela Doroteia Kasner, vertida para Angela Merkel, muito mais velha (mas não assim tão velha), anda por essa Europa a despedir-se de aliados, conhecidos e inimigos (esteve um dia destes no Kremlin com Vladimir Putin), deixando atrás de si um coro quase unânime dos encómios mais diversos, dos votos de boa reforma e do desespero de a sua partida atirar uma parte do que é a Alemanha, mas também do que a União Europeia não deixa de ser, para um lugar desconhecido.

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