Por certo que poucos se recordarão da jovem (mas não assim tão jovem) que, pela mão do poderoso chanceler alemão Helmut Kohl – que tinha acabado de assegurar um lugar nos livros de História que ainda não se escreveram, depois de conseguir reunificar as duas Alemanhas – debutou na política germânica e se chamava Angela Doroteia. Vinha de um lugar obscuro – a República Democrática da Alemanha, irmã gémea, empobrecida e ex-comunista da República Federal da Alemanha, mas nasceu em Hamburgo –, não sabia como gerir sensibilidades no interior belicoso da União Democrata-Cristã (CDU) e assumia o seu ar frágil como uma espécie de modo de vida modestamente luterano (o pai era clérigo). Era doutorada em Química Quântica, qualquer coisa próxima das alquimias mais furibundas e impenetráveis, e não economista, advogada ou engenheira, como era suposto. Tantos anos depois, Angela Doroteia Kasner, vertida para Angela Merkel, muito mais velha (mas não assim tão velha), anda por essa Europa a despedir-se de aliados, conhecidos e inimigos (esteve um dia destes no Kremlin com Vladimir Putin), deixando atrás de si um coro quase unânime dos encómios mais diversos, dos votos de boa reforma e do desespero de a sua partida atirar uma parte do que é a Alemanha, mas também do que a União Europeia não deixa de ser, para um lugar desconhecido.