“A atual vindima é a mais frustrante das que presencio há 40 anos. Os pequenos é médios produtores de vinho estão muito agitados e muito revoltados com a atual situação”. Um quadro do setor em jeito de desabafo da autoria de Paulo Amorim, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (ANCEVE), para quem a situação está próxima do desespero.
Neste momento, diz em declarações ao JE, “os viticultores não estão a conseguir vender as uvas por um preço que seja adequado” à sustentação dos negócios. Segundo fontes do setor, no Douro, há muitos casos de produtores de pequena dimensão que optaram por deixar as uvas nas árvores, não fazendo as vindimas. O aumento do custo da mão-de-obra e a impossibilidade de, pagando-a, conseguir retorno financeiro desse investimento, explica a situação.
O momento é de algum modo inesperado, num contexto em que “na última década, o vinho tem tido uma história de sucesso, com as exportações a aumentarem em valor”. Mas – e apesar do seu contributo para o PIB – a fileira enfrenta desafios significativos, face à quebra e alterações dos padrões de consumo, à instabilidade do contexto internacional, à dificuldade em conseguir aumentar o valor-acrescentado, à deficiente remuneração dos viticultores, aos apelos constantes às destilações de crise e aos negócios por elas proporcionados, ao controle relativo ao trânsito de vinhos, às reclamações sobre as deficiências da fiscalização, à problemática em redor do arranque de vinhas, ao futuro do Programa VITIS e às importações de vinho a granel de baixo preço, que desvirtuam o mercado. Esta análise do setor, da responsabilidade da ANCEV, é partilhada por vários operadores, entre eles a Confederação Nacional da Agricultura que, em declarações recentes ao JE, traçava um quadro igualmente sombrio.
A ANCEVE recorda ainda que o setor regista colheitas cada vez mais imprevisíveis devido às alterações climáticas e qie alguns especialistas vêm alertando para a possibilidade de uma crise vitivinícola sem precedentes. O setor vitivinícola deve assim adaptar-se a estas novas realidades “e o enquadramento político deve acompanhar essa transição, desta forma se assegurando a continuidade do caminho de sucesso”. Isto num contexto, diz ainda Paulo Amorim, em que a anterior ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, “foi um desastre” para o setor.
É neste quadro que a ANCEVE decidiu, “face ao momento de grande incerteza que o setor atravessa”, organizar uma conferência na tarde deste dia 19 de setembro, na Aula Magna da Universidade Portucalense, no Porto, que pretende ser “um fórum de debate de todas estas questões, de onde deverão também sair algumas soluções”.
Entre as presenças, destaque a realização de uma mesa redonda, em dois painéis sucessivos, com os presidentes da Viniportugal (Frederico Falcão), do IVDP – Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (Gilberto Igrejas), da Andovi e da CVR Lisboa (Francisco Toscano Rico), da CVRVV – Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (Dora Simões), da CVR Alentejana (Francisco Mateus), da CVR Beira Interior (Rodolfo Baldaia de Queirós), João Rebelo (Professor Universitário / UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Vice-Presidente da EUAWE – European Association of Wine Economists), o produtor Anselmo Mendes, António Sucena Cláudio (Forum Unidos pela Vinha de Portugal) e a Subinspetora-Geral da ASAE – Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, Filipa Melo de Vasconcelos.
Apesar das dificuldades de agenda dos membros do Governo – com sucessivos acontecimentos a serem cancelados devido às emergências causadas pelas centenas de incêndios que grassam em todo o território, o encerramento deverá estar a cargo do ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes.