O Irão lançou mais de 200 drones explosivos, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos contra Israel na noite de sábado, a grande maioria intercetados, segundo o Exército israelita.
O ataque surgiu depois de um bombardeamento ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, no dia 1 de abril, que matou sete membros da Guarda Revolucionária e seis cidadãos sírios, aumentando as tensões entre Teerão e Telavive, já marcadas nos últimos tempos pela ofensiva de Israel na Faixa de Gaza.
Este foi um primeiro ataque direto em território israelita que alimentou o receio de um conflito regional mais vasto. Mas os analistas contactados pelo Jornal Económico não esperam um impacto avassalador nos mercados. Tudo porque este ataque era esperado e Israel foi alertada, provavelmente para se defender de modo a não haver uma escalada perigosa do conflito no Médio Oriente. Ainda assim, as análises apontam que a maior subida deverá verificar-se nos futuros do petróleo.
Os preços do petróleo deverão subir na segunda-feira, após o ataque do Irão a Israel no fim de semana, disseram os analistas este domingo. No entanto novas subidas do preço do petróleo irão depender da forma como Israel e o Ocidente decidirem retaliar.
Isso mesmo defende o economista António Nogueira Leite. Em declarações ao Jornal Económico, diz que o impacto nos mercados “vai depender de haver ou não resposta israelita, mas penso que em qualquer dos casos haverá uma tendência para a subida dos preços das commodities, nomeadamente petróleo”.
“A evolução no terreno, ainda incerta, condicionará a dimensão do sentido final do impacto”, acrescenta.
Por outro lado, Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, defende que “de acordo com as atuais notícias, é provável que os mercados financeiros não sejam substancialmente afetados na abertura desta segunda-feira, tendo em conta que o ataque do Irão a Israel não provocou danos significativos, não existindo registo de mortos, nem notícias de prejuízos relevantes em bases militares ou civis israelitas”.
“Cerca de 99% dos drones e mísseis foram intercetados pela defesa anti-aérea israelita”, lembra o economista.
Sendo assim, acrescenta, “uma resposta de Israel a este ataque iraniano de ontem pode ser travada, tendo também em conta a oposição dos EUA a qualquer retaliação por parte de Israel, evitando deste modo a escalada do conflito local entre Israel e o Hamas, a um indesejável conflito regional mais amplo no Médio Oriente”.
“Adicionalmente, o Irão parece isolado, não tendo existido nenhum país a suportar o seu ataque de ontem, corroborando um eventual evitamento de uma escalada”, refere Paulo Rosa.
“Entretanto, as criptomoedas, dos poucos ativos financeiros que negoceiam durante o fim de semana, sendo transacionados fora de bolsa, reagiram em forte baixa na noite de sábado, tendo a Bitcoin desvalorizado 8% e o Ethereum descido 10%, mas, no entanto, já recuperaram”, diz o economista do Banco Carregosa que acrescenta que “as cripomoedas são ativos de risco, corroborando a sua queda uma maior aversão ao risco”.
Paulo Rosa considera ainda que “uma eventual escalada do conflito, mas não provável, impulsionaria a cotação do petróleo, o dólar norte-americano e os preços dos ativos de refúgio como o ouro e as obrigações soberanas, contribuindo também para uma postura de maior risk-off, penalizando ações e obrigações com risco de crédito”.
Por sua vez Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, lembra que “o ataque iraniano não foi propriamente uma surpresa. O Irão já tinha avisado que o iria fazer e até tinha quase data e hora marcada. O Irão também deu horas para Israel e aliados prepararem a interseção dos misseis e drones enviados”.
Ou seja, defende Filipe Garcia, “o ataque do Irão parece ter sido, ao mesmo tempo, uma retaliação à ação de Israel em Damasco, mas também com as características de quem não pretende escalar mais o conflito. Nesse sentido, será a resposta, se existir, de Israel que irá ditar se a situação irá ou não escalar”.
Portanto, o economista da IMF sublinha que “o mercado já estava à espera deste ataque, tendo na semana passada feito subir o ouro, petróleo e o dólar”.
“Ainda assim é de esperar que, abertura dos mercados, o petróleo, ouro e dólar reforcem os ganhos, mas de forma moderada para já”, antevê Filipe Garcia.
“O mercado também deverá fazer a leitura que as características do ataque do Irão são mais consistentes com a necessidade de fazer algo do que propriamente para infligir danos e mortes em Israel”, pelo que “será a reação de Israel a determinar se o conflito escalar mais ou não”.
Também Filipe Garcia salienta que no “único” mercado aberto à hora dos ataques – o das criptomoedas – a reação foi de queda relevante (a bitcoin chegou a estar a perder 8%), com uma recuperação ligeira a seguir.
A preocupação de uma resposta do Irão ao ataque ao complexo da sua embaixada em Damasco apoiou o petróleo na semana passada e ajudou a enviar o petróleo Brent na sexta-feira para 92,18 dólares por barril, o valor mais alto desde outubro. O petróleo fechou nesse dia com uma subida de 71 cêntimos, em 90,45 dólares, enquanto os futuros do petróleo bruto West Texas Intermediate dos EUA subiram 64 cêntimos, para 85,66 dólares
Os futuros do petróleo bruto subiram na sexta-feira, com relatos de que Israel está a preparar-se para um ataque direto do Irão no fim de semana, que veio a confirmar-se, e que é apelidado já de maior escalada de tensões no Médio Oriente desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro passado.
A escalada do conflito entre o Irão e Israel forçará os traders de petróleo a reavaliar o prémio de risco geopolítico que necessitam de aplicar num mercado onde os fundamentos rigorosos da oferta e da procura já levaram os preços acima dos 90 dólares por barril, de acordo com a Bloomberg.