Apesar da surpresa positiva no crescimento da zona euro no terceiro trimestre, a Alemanha continua numa situação difícil: o crescimento nulo evitou nova recessão técnica após a contração do segundo trimestre, mas a previsão de um avanço de 0,2% este ano parece cada vez mais distante e inalcançável. Dado o historial recente, o motor económico europeu arrisca assim um terceiro ano consecutivo de recessão, o que seria inédito.
Os dados do crescimento alemão conhecidos no final de outubro mostram novo trimestre de crescimento nulo, com a maior economia da zona euro a marcar passo novamente – um resultado já antecipado pelo mercado. Foi, ainda assim, uma melhoria em relação ao recuo de 0,2% do segundo trimestre, uma leitura que contou com uma ligeira revisão em alta em relação aos 0,3% de contração inicialmente publicados.
Em termos homólogos, o terceiro trimestre fechou com um crescimento de 0,3%, em linha com o projetado e igual aos dois trimestres anteriores.
O atual governo alemão liderado por Friedrich Merz havia revisto em alta a projeção de crescimento para este ano no início de outubro, passando de um ano estagnado para um avanço anémico de 0,2%, mas até esta performance historicamente fraca para a maior economia europeia se afigura cada vez mais complicada de alcançar. Esta é também a previsão de Bruxelas para o crescimento alemão este ano, o que, na prática, equivale a mais um ano estagnado.
Segundo os cálculos do banco ING, novo trimestre de estagnação resultaria num crescimento no final do ano de 0,2%, como projetado pelo governo, o que “manteria o tamanho da economia abaixo do nível registado no final de 2019”, antes da pandemia, o que significa que “a economia alemã continua a atrasar-se” em relação ao resto do bloco europeu.
Esta fraca prestação decorre da perda de competitividade a nível global, por um lado, mas também de tensões internas, argumenta a nota do banco neerlandês. Em termos externos, os alemães enfrentaram “um acordar bruto” no verão, ao serem confrontados com a “perda de competitividade internacional fruto de um desinvestimento de longo prazo, uma dose de arrogância e ingenuidade, e a ascensão da China como um rival sistémico”; internamente, “a discussão em torno de possíveis medidas de austeridade diminui o impacto psicológico dos estímulos orçamentais anunciados” e “a decisão do governo de passar investimentos já previstos do orçamento para fundos especiais de investimento tem trazido uma onda de contabilidade criativa”.
Na mesma linha, a análise do KPMG refere o pacote de estímulos como “um empurrão notório” à económica germânica, mas lembra riscos de longo prazo como a elevada fatura energética, os custos laborais crescentes ou a falta de mão-de-obra qualificada para defender que a situação não deverá inverter em breve.
“Estas dificuldades estruturais podem continuar a pesar nas perspetivas de crescimento de médio e longo prazo. Tal é particularmente evidente no facto de a procura externa por bens alemães estar em queda”, lê-se na nota da consultora.