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Alemanha à beira de fechar 2023 com nova recessão e austeridade pode vir aí

O terceiro trimestre foi de crescimento negativo, tanto em cadeia, como em termos homólogos, e a ligeira subida da confiança em outubro e novembro será insuficiente para inverter a tendência. Com um buraco de 60 mil milhões no orçamento para 2024, Berlim talvez se veja obrigada a impor austeridade.

A Alemanha arrisca cada vez mais fechar o ano em recessão técnica, marcando a primeira vez desde o início do século que a maior economia da zona euro regista dois anos seguidos de crescimento negativo. A confiança dos agentes até melhorou, mas marginalmente e menos do que o esperado, de acordo com os dados divulgados no mesmo dia que foi confirmado novo recuo do PIB no terceiro trimestre. Com 60 mil milhões de euros de buraco no orçamento para 2024 e sem perspetivas de melhoria da economia, Berlim pode ver-se obrigada a cortar subsídios e subir impostos.

O produto alemão caiu 0,1% em cadeia no terceiro trimestre, o que se traduz num recuo de 0,4% em termos homólogos, e os sinais de inversão são escassos. O alívio do lado dos preços nos últimos meses não correspondeu a um aumento expressivo do consumo privado, que se mantém fraco, e o investimento global recuou 1,1%, motivado sobretudo pela componente de inventários.

Esta tendência deve agravar-se nos próximos meses à medida que se materializam os efeitos da subida dos juros na economia real, projetam os analistas da Pantheon Macro, sobretudo dada a expectativa de mais correções nos inventários olhando para vários inquéritos privados de mercado como os índices de gestores de compras (PMI).

Por outro lado, a confiança até melhorou marginalmente em novembro, embora longe do suficiente para deixar antever mudanças significativas nos gastos das famílias ou das empresas. O índice Ifo subiu em novembro para 87,3, depois de registar 86,9 no mês anterior, uma subida que nem igualou as projeções de mercado apontando a 87,5.

Decompondo o índice, a avaliação da situação atual melhorou 0,2 pontos até 89,4, enquanto as expectativas de curto prazo quanto ao ambiente de negócios subiram 0,4 pontos para 85,2. Foi o segundo mês consecutivo de melhorias do indicador, ainda que ténues, permitindo apenas igualar o valor registado em julho.

As empresas alemãs parecem assim menos pessimistas quanto ao futuro próximo, avaliando pela subida da perceção quanto ao ambiente de negócios, um pouco em linha com os PMI revelados no dia anterior. O indicador privado subiu mais do que o esperado no caso alemão, embora permaneça claramente em terreno de contração nas três componentes.

O índice composto subiu de 45,9 para 47,1, acima dos esperados 46,5, com melhorias nos sectores industrial e dos serviços: o primeiro viu o seu subíndice subir de 40,8 para 42,3, melhor do que a projeção de 41,2, enquanto o segundo subiu de 48,2 para 48,7, mais do que a expectativa de 48,5.

Do lado do crescimento, é difícil esperar algo que não uma recessão técnica, ainda que pouco profunda, com novo recuo do produto no último trimestre. O banco ING considera mesmo que o risco de uma recessão no total do ano que se aproxima do fecho é cada vez maior, sendo que a situação do lado económico é agravada por uma incerteza política nova em torno do Orçamento do Estado.

Depois da decisão pelo Constitucional quanto à ilegalidade das transferências de fundos pandémicos para a emergência climática, bem como da sua contabilidade nos anos da contração da dívida, em vez de aquando da sua aplicação, o Governo alemão enfrenta agora um buraco de 60 mil milhões de euros no orçamento para 2024, levantando sérias questões quanto ao futuro político e económico do país.

Recorde-se que a Constituição alemã impões um limite ao défice de 0,35% do PIB por ano, levando o país a apresentar historicamente uma disciplina orçamental acima da média. No entanto, estes limites foram suspensos durante os últimos anos a propósito da emergência pandémica, com Berlim a ver-se agora impedidos de os utilizar no investimento na transição climática.

O país arrisca assim a ter de impor austeridade, cortando subsídios e subindo impostos, um cenário particularmente surpreendente dados os níveis reduzidos de dívida (66,1% em 2022, quase igual aos 66,5% de média entre 1995 e 2022), sublinha a análise do ING.