Os empresários portugueses têm mostrado uma resistência notável face às dificuldades e uma postura responsável ao aumentarem salários apesar da subida de custos, considera o presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), que pede mais atenção e apoios face a esta situação. O alto endividamento aumenta a probabilidade de insolvências, que subiram 14% no ano passado, pelo que a AEP reitera o alerta para as consequências da inação governativa.
O Banco Central Europeu (BCE) lançou o alerta quanto ao impacto da dinâmica salarial na economia da zona euro, mostrando-se confiante que os aumentos salariais sejam absorvidos pelas margens de lucro das empresas, sob pena de se agravar a pressão nos preços e os juros tenham de permanecer elevados durante mais tempo. Perante isto, Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, fala ao JE num sector responsável que tem resistido bem às dificuldades que têm surgido.
“A resiliência do tecido empresarial português é notória e constitui uma forte motivação para o trabalho diário da AEP”, começa por referir, mas argumentando que, “hoje, ser empresário é cada vez mais difícil”. Isto devido à incerteza que reina na economia global, um clima que se segue a um período de disparo nos custos das empresas em que, apesar dos constrangimentos, os empresários conseguiram preservar os postos de trabalho.
“As empresas nacionais têm vindo a adotar uma posição bastante responsável no contexto da economia portuguesa, visto que, apesar dos aumentos dos custos de financiamento, das matérias-primas e dos produtos acabados, aliados à redução das encomendas, face a uma conjuntura adversa a nível nacional e internacional, conseguiram preservar o emprego - tal como demonstram os dados mais recentes - e ainda melhoraram significativamente os salários dos trabalhadores”, destaca o representante da AEP.
Recorde-se que nos três primeiros trimestres de 2023 os salários no sector privado aumentaram em média mais do que os da função pública, com 6,3% de aumento homólogo em setembro face a 5,5% para os trabalhadores do Estado.
“Há, no entanto, riscos ascendentes e mais reais para a concretização do objetivo do BCE e, consequentemente, para a diminuição dos custos de financiamento sentidos pelas empresas, com o escalar dos conflitos no Médio Oriente, cujas consequências já se refletem nos custos de transporte marítimo das mercadorias das empresas portuguesas” e num “atraso no prazo de entrega”, reitera Luís Miguel Ribeiro.
Como tal, a associação lembra a importância de apoiar as empresas neste período, à semelhança do que ocorreu em alturas recentes – por exemplo, com as linhas de crédito durante a pandemia.
“Perante este clima de imprevisibilidade, cabe às políticas públicas serem capazes de oferecer uma resposta eficiente, nomeadamente a criação de medidas que mitiguem estes efeitos negativos na atividade das empresas”, defende, recordando que “o crédito bancário é uma das principais fontes de financiamento do investimento e, também, das necessidades de tesouraria” das empresas.
“A AEP já veio defender publicamente o aumento dos limites à dedutibilidade dos gastos de financiamento – que atualmente se encontra em apenas um milhão de euros, Artigo 67.º do Código do IRC -, sendo que poderia ser uma medida de aplicação temporária”, sugere o presidente da associação. “Adicionalmente, num período de maior restritividade financeira, espera-se que o Banco Português de Fomento demonstre alguma flexibilidade e apoie de forma decisiva a capitalização do tecido empresarial, impulsionando investimentos estratégicos para a economia portuguesa”, completa.