O presidente dos EUA, Joe Biden, ladeado pela vice-presidente Kamala Harris e pelo secretário de Estado Antony Blinken, explicou publicamente alguns pormenores do acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. "É uma tarde muito boa porque finalmente posso anunciar que foi alcançado um acordo de cessar-fogo." "A primeira fase durará seis semanas e inclui um cessar-fogo total e completo, a retirada das forças israelitas de todas as áreas povoadas de Gaza e a libertação de vários reféns mantidos pelo Hamas, incluindo mulheres, idosos e feridos. E tenho orgulho de dizer que os americanos farão parte dessa libertação de reféns na primeira fase."
"Durante as próximas seis semanas, Israel negociará os arranjos necessários para chegar à fase dois, que é um fim permanente da guerra. Deixem-me dizer novamente, um fim permanente da guerra." "O caminho para esse acordo não foi fácil. Trabalhei em política externa durante décadas. Esta é uma das negociações mais difíceis que já vivi", referiu ainda Biden.
"Não havia outra maneira de terminar esta guerra senão com um acordo de reféns. Este acordo foi desenvolvido e negociado sob minha administração, mas os seus termos serão implementados em grande parte pela próxima administração. E nestes últimos dias, temos falado como a equipa que se segue, liderada por Donald Trump."
Biden salientou que o acordo segue “a estrutura exata que propus em maio”, não dando assim grande margem para que Donald Trump possa reivindicar qualquer percentagem, por mínima que seja, do que está estipulado. De qualquer modo, é um acordo tardio, não só porque podia ter poupado muitas vidas que se perderam nos escombros de Gaza, mas também – numa ótica mais caseira e a acreditar-se no entendimento de vários analistas – podia ter impedido (se conseguido em outubro) que os democratas averbassem uma pesada derrota nas eleições presidenciais de 5 de novembro passado. De facto, várias vozes disseram repetidamente que um acordo para Gaza seria a prova de que a administração Biden ainda tinha rédea sobre a política internacional. Um ou outro – o cessar-fogo ou a paz na Ucrânia – podiam ter mudado tudo. Mas não aconteceu.
"Este acordo teria que ser implementado pela próxima equipa. Disse à minha equipa para coordenar de perto com a equipa que está a chegar para garantir que todos estamos a falar com uma só voz, porque é isso que os presidentes americanos fazem", disse Joe Biden.
"Hoje, depois de muitos meses de diplomacia intensiva dos Estados Unidos, juntamente com o Egito e o Qatar, Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo. Este acordo interromperá os combates em Gaza, aumentará a assistência humanitária muito necessária aos civis palestinianos e reunirá os reféns com as suas famílias após mais de 15 meses em cativeiro. Estabeleci os contornos precisos deste plano em 31 de maio de 2024, após o que foi aprovado por unanimidade pelo Conselho de Segurança da ONU. É o resultado não apenas da extrema pressão que o Hamas tem sofrido e da equação regional alterada após um cessar-fogo no Líbano e o enfraquecimento do Irão – mas também da obstinada e meticulosa diplomacia norte-americana”, afirmou ainda.
Também o primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores do Qatar, o xeque Mohammed bin Abdulrahman al Thani, expôs os detalhes do acordo em conferência de imprensa em Doha, capital do emirado. Al Thani disse que o acordo entrará em vigor em 19 de janeiro, mas que os esforços do Qatar, Egito e Estados Unidos vão continuar para garantir que Israel e o Hamas passem às etapas posteriores. A primeira fase do acordo inclui o aumento do fluxo de ajuda humanitária em toda a Faixa de Gaza, a libertação de 33 reféns e o regresso de várias dezenas de prisioneiros das prisões israelitas.
O Silêncio de Netanyahu
Mas ainda falta uma votação no gabinete israelita liderado por Benjamin Netanyahu. Convém não esquecer que os extremistas políticos e os ortodoxos religiosos que fazem parte do governo rejeitam à partida qualquer acordo, seja ele qual for, desde que do outro lado esteja o grupo Hamas.
Ou seja, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu terá muito trabalho pela frente para garantir que o governo vai votar o acordo favoravelmente. Até porque, se os radicais na coligação forem confrontados com uma votação e souberem que a vão perder (se votarem ‘não’), podem demitir-se de imediato – tentando assim bloquear todo o processo. Talvez seja essa a explicação para o facto de, segundo a imprensa israelita, Benjamin Netanyahu não fazer qualquer declaração oficial sobre o acordo – tendo o seu gabinete informado que o primeiro-ministro só falará depois da votação.
Sabendo destas dificuldades, o presidente israelita, Isaac Herzog (oriundo do partido Likud, como Netanyahu), pediu publicamente ao governo que aprove o acordo de cessar-fogo quando for submetido a votação. Num discurso ao país a partir da sua residência oficial, Herzog afirmou que apoia “o primeiro-ministro e a equipa de negociação nos seus esforços para chegar a um acordo”. O gabinete de segurança e o gabinete do executivo, que vão votar o acordo esta quinta-feira, devem aprová-lo “para trazer os nossos filhos e filhas para casa”, disse Herzog.