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Abrandamento do crescimento salarial dá argumentos às ‘pombas’ do BCE para corte de juros em abril

Com o foco do banco central colocado no mercado laboral, os dados do último trimestre de 2023 serão recebidos com agrado, ao mostrar um abrandamento claro da dinâmica salarial. Ainda assim, tal deve ser insuficiente para assegurar cortes antes de junho.

O crescimento salarial na zona euro abrandou significativamente no final do ano passado, dando argumentos aos membros mais conservadores do Banco Central Europeu (BCE) para advogarem por cortes já na próxima reunião, em abril. Estes dados têm sido colocados no topo das prioridades na avaliação do BCE quanto ao arranque da normalização da política monetária, mas o mercado continua inclinado para mexidas só após a divulgação dos números do primeiro trimestre.

Os custos do trabalho na zona euro cresceram 3,2% em termos homólogos no quarto trimestre, um abrandamento claro em relação aos 5,2% do trimestre anterior. Estes ganhos dividiram-se entre 3,1% de avanço no salário horário e 4,2% em outros custos, sendo que a Pantheon Macro apontava a um valor mais elevado, sobretudo depois de se saber que o custo unitário do trabalho havia subido 4,6% e a compensação por empregado 5,8%.

O mercado laboral tem assumido uma importância crescente na dinâmica de inflação na zona euro e, por arrasto, na política monetária. Com o impacto da crise energética já incorporado, o receio de efeitos de segunda ordem tem sido o principal impedimento a um corte de juros já no arranque de 2024, particularmente dada a fragilidade demonstrada pela atividade.

Estes dados são, portanto, mais um argumento a favor das ‘pombas’ no BCE, que têm advogado cortes ainda antes da reunião de junho. A evidência de que o crescimento salarial está a abrandar é clara, mas os comentários recentes de vários governadores de bancos centrais do bloco euro colocam dúvidas quanto à probabilidade de um corte já na próxima reunião.

Luis de Guindos, vice-presidente do banco, reiterou na semana anterior os “riscos” que os salários continuavam a constituir apesar do recuo recente da inflação; antes havia sido o economista chefe do organismo, Phillip Lane, a alertar para as consequências negativas de cortes antes do tempo, argumentando que “teremos um panorama mais nítido” em junho.

Como tal, “as ‘pombas’ do BCE irão ver este relatório como uma prova a sustentar o seu argumento de que o BCE deveria começar a cortar taxas no próximo mês, mas essas esperanças devem ser afastadas por números da inflação em março ainda demasiado quentes”, projeta a Pantheon.