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Transferências milionárias são um problema no futebol? FIFA prepara uma revolução

De acordo com um relatório da FIFA, encomendado por Gianni Infantino, o presidente do organismo máximo do futebol internacional pretende introduzir alterações no mercado de transferências. Entre os vários problemas, a especulação é a grande visada. Para já, é de esperar um limite aos empréstimos.

“Está feito! Neymar, o atacante brasileiro assinou por cinco com o PSG”. Foi assim que a revista francesa “France Football” dava conta da transferência mais cara da história futebol. No dia 3 de agosto de 2017, o PSG anunciava ter batido os 222 milhões de euros da clausula de rescisão, quebrando a ligação da estrela brasileira ao FC Barcelona.

De acordo com o site "Transfermarkt", entre as épocas 2014/15 e 2018/29, gastaram-se 20.4 mil milhões de euros em compras de jogadores. A Premier League lidera destacada, com 7,86 mil milhões de euros. Seguem-se a Serie A (4,1 mil milhões), a La Liga (3,43 mil milhões), a Bundesliga (2,72 mil milhões) e, finalmente, a Ligue 1 (2,29 mil milhões) que, neste período, é a única que registou um saldo positivo entre compras e vendas. Os clubes portugueses, por seu turno, gastaram 508 milhões de euros em igual período, mas apresentaram uma balança positiva de 900 mil milhões de euros.

O presidente da FIFA, o suíço Gianni Infantino, quer alterar o caos em que se tornaram as transferências dos jogadores de futebol, noticia o “The New York Times”. Segundo a publicação norte-americana, Infantino incumbiu um comité de apresentar soluções para diversos problemas que pairam sobre o futebol, incluindo “os custos associados à contratação dos melhores jogadores”, “preocupações em torno do comportamento dos agentes dos futebolistas” e “o crescimento de histórias sobre práticas financeiras duvidosas no mercado de transferências que vale cerca de 6,5 mil milhões de dólares por ano” (tradução livre).

As propostas, elencadas no relatório “White Paper – Transfer System Reform 2018”, poderão trazer mudanças estruturais no mercado de transferências e originar “a maior revisão de sempre do mercado”, escreveu o “The New York Times”. Neste sentido, a mudança mais revolucionária poderá limitar os gastos dos clubes em transferências.

Estas alterações inserem-se na vontade do organismo máximo que rege o futebol mundial em “renovar o foco na solidariedade em vez da especulação”, como escreveram os autores do relatório da FIFA.

Uma simples análise aos preços  praticados recentemente pelos clubes de futebol permite constatar que o mercado de transferências se tornou num frenesim. O preço da transferência de Zidade, da Juventus para o Real Madrid, por 75 milhões de euros, demorou nove anos ser quebrado, quando Cristiano Ronaldo se mudou de Old Trafford para o Santiago Barnabéu, por 94 milhões de euros. Quatro anos mais tarde, novo recorde para a turma dos 'Los Blancos' depois de desembolsarem 101 milhões de euros pelo galês Gareth Bale. Em 2016, o Manchester United voltou a recrutar o médio francês Paul Pogba, por 105 milhões de euros. E, durante o verão da época 2017/18, além da transferência-recorde de Neymar, o FC Barcelona pagou por Dembélé e Coutinho, respetivamente, 120 milhões e 125 milhões.

Jogador Preço (em milhões de euros)
Neymar Jr. (2017/18) FC Barcelona - PSG 222
Kylian Mbappé (2018/19) AS Monaco - PSG 135
Philippe Coutinho (2017/18) Liverpool FC - FC Barcelona 125
Ousmane Dembélé (2017/18) Dortmund - FC Barcelona 120
Cristiano Ronaldo (2018/19) Real Madrid - Juventus 117
Paul Pogba (2016/17) Juventus - Manchester United 105
Gareth Bale (2013/14) - Tottenham - Real Madrid 101
Cristiano Ronaldo (2009/10) Manchester United - Real Madrid 94
Neymar Jr. (2013/14) Santos - FC Barcelona 88,2
Romelu Lukaku (2017/18) Everton - Manchester United 84,7
Fonte: statista

De resto, o relatório da FIFA tem planos para criar uma 'central de pagamentos' que seria responsável por processar todos os pagamentos relativos às transferências transfronteiriças, incluindo as comissões pagas aos agentes. Estas comissões poderão ainda ter um tecto máximo de 5%, incidindo sobre o salário do jogador ou sobre o valor da transferência.

Embora não seja claro a recetividade dos planos de Gianni Infantino, a FIFA também deliniou a forma de execução destas alterações ao mercado internacional de transferências. Segundo aquela publicação, o relatório propõe a utilização de um algoritmo para calcular um preço de referência para as transferências dos jogadores. A acompanhá-lo, estaria um sistema que puniria os clubes que ultrapassem aquele preço, mediante a imposição de uma coima que funcionaria como uma espécie de um imposto de luxo suportado pelos clubes comprador e vendedor.

A 'central de pagamentos' seria administrada por entidade terceira que, por sua vez, contrataria um banco comercial para gerir os pagamentos relativos às transferências. De acordo com o relatório da FIFA, este sistema traria vários benefícios, como uma maior transparência no mercado de transferências. A central, a ser aprovada, demoraria dois anos até ser implementada.

No entanto, até ao final do ano em curso, é possível que se limite o número que os clubes podem inscrever nas suas equipas e o número de futebolistas emprestados. Esta última alteração visa sobretudo combater os maiores clubes que ‘seguram’ talento ao emprestar jogadores jovens mas com potencial futebolístico.

Finalmente, o relatório FIFA vê os agentes de futebol como uma “praga” geradora de conflitos de interesse. A título de exemplo, em 2017, os agentes de futebol de todo o mundo receberam cerca de 500 milhões de dólares em comissões, o que representa um aumento de 105% em relação em dois anos.