Skip to main content

"Recrutamento para grupos terroristas faz-se muito mais dentro da comunidade do que online”, diz Adam Hadley

Responsável da Tech Against Terrorism explica que as gigantes tecnológicas "estão a fazer um bom trabalho" a combater a propaganda terrorista, residindo o maior desafio "nas pequenas plataformas".

A disseminação de mensagens terroristas através da internet é um dos grandes desafios atuais e combatê-la tornou-se a missão da “Tech Against Terrorism”. A iniciativa desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2017, pretende apoiar empresas de tecnologias de modo a impedir que estas sejam utilizadas ou exploradas por grupos terroristas.

Em entrevista ao Jornal Económico, à margem da Web Summit, que decorre até quinta-feira, dia 8, em Lisboa, o diretor de projeto da Tech Against Teerrorism, Adam Hadley, explicou que a organização apoia empresas de todas as dimensões e de vários ramos da tecnologia, tais como social media, encriptação, fintech ou e-commerce. No entanto, salienta que devido à capacidade das grandes empresas em desenvolver estratégias de combate a esta ameaça, se concentra, sobretudo, “em pequenas plataformas que estão a ser cada vez mais utilizadas” por grupos terroristas.

“Existe imenso conteúdo terrorista na internet, mas as gigantes tecnológicas estão a fazer um bom trabalho a combatê-lo. O problema é a exploração das pequenas plataformas por esta propaganda, numa ação que se mantém muito resiliente. O desafio é como responder a esse desafio. É mais desafiante combater [esta ameaça] porque estão espalhadas pelo mundo e os conteúdos muito trabalhados”, explicou Hadley.

A organização que conta com o apoio do Facebook, Microsoft, Google e Telefonica, e faz ainda parte do Global Internet Forum to Counter Terrorism (GIFCT), coloca a defesa e respeito pelos direitos humanos no xadrez do mundo tecnológico. É neste sentido que aposta num trabalho global no qual promovem aquelas que consideram as melhores práticas dentro da indústria, nomeadamente directrizes, workshops práticos e recomendações de políticas, diz.

Adam Hadley defende uma abordagem mais “sistémica” de combate a esta ameaça, através da cooperação entre empresas e governos. Questionado sobre qual deve ser o limite do Estado na regulação desta área, o especialista considerou que “muitos dos objetivos para a regulação que são discutidos acabam por se focar na área errada da internet”.

“A regulação precisa de ser pensada numa forma que possa ser transparente, porque a internet é global. Nem todas as sociedades, nem todos os governos partilham os valores europeus da liberdade de expressão. E há outras partes do mundo que não partilham estes valores”, reconhece.

A responsabilidade da comunicação social

Depois de ter lançado no último ano a Knowledge Sharing Plattaform, que reúne ferramentas ao serviço de startups e pequenas empresas, este ano a Tech Against Terrorism aposta na Rede de Ciência de Dados, para dotar as empresas de “mais e melhor ferramentas”.
“Estrategicamente o objetivo dos grupos terroristas sempre foi afetar o ambiente político, com a intenção de aumentar a securitização da sociedade para provocar os políticos a agir neste enquadramento, para provocar os países a entrar numa guerra. Do ponto de vista operacional, está mais relacionado com a comunicação do dia-a-dia, em partilhar comunicação sobre os ataques levados a cabo”, explica Hadley.

O responsável da Tech Against Terrorism sublinha que “a internet como qualquer tecnologia pode ser utilizada para o bem ou para o mal e alguns casos é utilizada para o mal, exactamente por terroristas”.

“O objetivo é ter um impacto político na sociedade e para isso precisa dos mainstream media. A propaganda do ISIS é extremamente gráfica, é violenta, e essa mesma propaganda conseguiu ser transmitida nos noticiários. Portanto, este debate também tem que ser sobre como os media precisam de ter uma maior responsabilidade sobre o que é publicado, o que decidem publicar”, defende.

Hadley salienta ainda que a produção de propaganda pelo ISIS “diminuiu drasticamente nos últimos sete anos”, mas “em termos de técnica e metodologia estão muito mais fortes”, o que terá consequência no futuro.

“Quando uma versão ISIS 2.0 se tornar em ISIS 3.0, o que irá acontecer, terão uma propaganda muito mais eficaz”, acrescenta, ainda que reconheça que já o processo de recrutamento para grupos terroristas se faz “muito mais no mundo real, através de contacto directo e não tanto pela internet. Faz-se muito mais dentro da comunidade do que online”. No entanto, salienta a permeabilidade de indivíduos marginalizados pela sociedade ou que se sentem excluídos a estas mensagens.

"Isto aplica-se a um vasto número de pessoas vulneráveis na sociedade, porque a propaganda tem a capacidade de o fazer”. Exemplifica com o caso das campanhas de desinformação, “que não têm necessariamente a ver com violência, extremismo ou terrorismo”, para ilustrar o argumento que existem pessoas mais permeáveis a determinada mensagem.