O clima aqueceu e Pedro Nuno Santos não gostou de ouvir Luís Montenegro dizer num comício que para o líder do PS ser primeiro-ministro precisava de ter “estabilidade emocional”. O verniz estalou e ao 10.º dia de campanha o secretário-geral socialista começou a manhã a atacar o líder da AD, a quem exigiu respeito, considerando “lamentável” o “ataque” que lhe foi feito.
“Os políticos têm de se respeitar mais”, atirou o candidato do PS, que, nesta terça-feira, andou em campanha por Sintra e Lisboa e que terá ao seu lado na caravana o ainda ministro das Finanças, Fernando Medina. “Eu só lamento”, reagiu ainda Pedro Nuno Santos, que instou Luís Montenegro a explicar ao país onde pretende “cortar” caso as suas previsões macroeconómicas, que classificou “de irrealistas”, não se concretizem.
“O que é que acontece se aquelas previsões de crescimento, que não estão confirmadas por nenhuma organização internacional, não se confirmarem? Onde é que eles vão cortar? Esta é uma resposta que os líderes da AD vão ter de dar aos portugueses: se não atingirmos aquela taxa de crescimento que está no cenário macroeconómico, onde é que cortam?", pressionou, não tendo ainda obtido resposta de Luís Montenegro.
Mas se Luís Montenegro conseguiu incomodar Pedro Nuno Santos ao questionar a sua “estabilidade emocional” por andar a “meter medo às pessoas”, André Ventura, aparentemente, não terá conseguido incomodar o líder da AD ao voltar a afirmar que reuniu com sociais-democratas que desejam uma aliança entre a AD e o Chega.
Mas, mais uma vez, André Ventura se recusou a citar com que sociais-democratas terá reunido, deixando todas as possibilidades no ar e também a ideia de que a sua estratégia passa por pressionar os líderes da Aliança Democrática, que têm deixado de lado André Ventura num eventual cenário de negociações pós-eleitorais. Questionado pelos jornalistas, Luís Montenegro tentou ao máximo desvalorizar o presidente do Chega (recorde-se que a AD fez do PS o seu adversário): “Não participo no recreio”, começou por dizer, afirmando ainda: “Aqueles que passam a vida ou a falar de nós ou a falar de coisas que ninguém sabe de onde vêm estão a dar um sinal aos eleitores: não contem connosco para resolver os vossos problemas”.
Luís Montenegro, que passou o dia em Aveiro, o seu distrito, e que terá esta noite a seu lado num comício um peso-pesado de antigas alianças democráticas – Paulo Portas -, aproveitou a ocasião para lançar novo ataque ao PS, desta vez incluindo o Chega, acusando os dois de fazerem uma campanha de “casinhos” e “episódios”.
"Olhamos hoje para o PS e olhamos para o Chega e confundem-se muito um com o outro porque um e outro só falam de pequenas coisas, não falam dos verdadeiros problemas que importunam a vida das portuguesas e dos portugueses", atirou, acusando PS e Chega de estarem mais preocupados em criar “pequenas polémicas”. André Ventura fala apenas em “forças vivas” do PSD e os jornalistas quiseram saber se estava a referir-se a Miguel Relvas ou ao histórico Ângelo Correia, mas o líder do Chega nunca revelou.
A insinuação de Ventura (já é a segunda vez que diz que alguém do PSD lhe garantiu uma aliança à direita) acabou por chegar à caravana dos outros partidos. Paulo Raimundo, líder da CDU, acusou o presidente do Chega de estar a “marimbar-se” para os problemas das pessoas e que apenas quer “chegar ao poder a todo o custo”.
Já Mariana Mortágua, coordenadora do BE, acusou André Ventura de só não revelar uma coisa: quem são os financiadores do Chega.
Pedro Nuno Santos, que na primeira semana todos os dias acenava com o “papão” de uma possível aliança entre a AD e o Chega após as eleições, desta vez disse que não queria comentar.