O tom parece provocatório, mas não é. A voz forte de Pedro Marques Lopes, 50 anos, soa do outro lado da linha telefónica. “Podemos fazer no 25 de Abril, a desfilar na Avenida da Liberdade”. Dou uma gargalhada, mas ele não desarma. “Estou a falar a sério”, volta à carga. “Sim, se não te importas, parece-me ótimo”, respondo-lhe. “Se não me importo? Não sei se é uma surpresa para ti, mas eu todos os anos participo no desfile do 25 de Abril. Todos os anos. De cravo ao peito e tudo”, explica. A ideia fica logo ali aprovada. Ainda por cima para esta edição, “entalada” entre o 25 de Abril e o 1 de Maio, dois dias históricos e de forte manifestação popular. A conversa telefónica ainda deriva, durante uns minutos, para as dietas e para a perda de peso que ambos conseguimos no último ano. Quase a desligar, volta o tom provocador. “O que era giro era, ainda antes de irmos para a Avenida, bebermos um café no bar do Ritz”, desafia. O contraste é precioso e muito tentador. “É o meu lado burguês”, confessa entre gargalhadas. O burguês do povo, como haveríamos de ver cinco dias mais tarde.