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Autoeuropa em risco de parar a produção já esta semana

A partir de ontem, dia 3 de dezembro, três armadores internacionais, a McAndrews, a Tarros, e a Arkas, deixaram de escalar o porto de Setúbal, desviando os contentores maioritariamente para os portos espanhóis de Vigo e de Santander e provocando uma quebra de 70% nas cargas contentorizadas do porto sadino.

A Autoeuropa está em risco de parar a produção, de forma parcial ou mesmo total, durante a presente semana, apurou o Jornal Económico junto de diversas fontes ligadas ao processo.

Esta decisão terá de ser tomada em função do insucesso, ocorrido na passada sexta-feira, dia 30 de novembro, do processo negocial entre estivadores do SEAL - Sindicato de Estiva e Atividades Logísticas e operadores do porto de Setúbal, mediado pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.

Com o Governo fora do processo e as posições a manterem-se irredutíveis por parte do SEAL e dos operadores portuários, resta pouca margem de manobra à multinacional alemã senão suspender a produção.

Neste momento, o porto de Setúbal está praticamente parado, asseguraram diversas fontes contactadas pelo Jornal Económico.

"A partir de hoje [ontem], o porto de Setúbal vai perder 70% das suas cargas em contentores. Três armadores, a McAndrews, Tarros e Arkas, decidiram deixar de escalar o porto de Setúbal porque não querem suportar mais custos acrescidos. E foram para portos espanhóis, maioritariamente para os portos de Vigo e de Santander", revelou ao Jornal Económico, Diogo Marecos, administrador da Operestiva, uma das duas empresas fornecedores dos operadores de terminais portuários em Setúbal.

Segundo os dados fornecidos pela AMT - Autoridade da Mobilidade e dos Transportes,  no mês de dezembro do ano passado, o porto de Setúbal movimentou 12.211 TEU (medida padrão equivalente a contentores com 20 pés de comprimento).

Se estes três armadores não regressarem ao porto de Setúbal, estaremos a falar de uma 'fuga' de cerca de 8.550 TEU neste mês de dezembro, por comparação com o mês homólogo de 2017. Ou do 'desaparecimento' de de mais de 106 mil TEU num ano, tendo conta os dados do ano passado. Isto, se não houver mais debandadas de armadores internacionais do porto de Setúbal.

No caso da fabricante alemã de automóveis, a situação está a atingir todos os limites possíveis. A fabricar ao ritmo de mais de 800 automóveis T-Roc por dia, os espaços de armazenamento de viaturas novas está a esgotar-se, uma vez que, como não há operação de navios, não há escoamento dos carros.

A alternativa encontrada de exportar os T-Roc pelo porto de Leixões não chega para as encomendas, além de que comporta custos acrescidos que retiram rentabilidade à produção da Autoeuropa.

Contactada pelo Jornal Económico fonte oficial da Autoeuropa remeteu para o comunicado da empresa difundido há cerca de duas semanas, no qual, sublinhava que "a única alternativa a Setúbal, é Setúbal", porque as "outras soluções encontradas não garantem o escoamento da totalidade da produção diária".

É precisamente esta realidade que torna incontornável a paragem da produção da Autoeuropa se a movimentação de navios no porto de Setúbal não for retomada nas próximas horas.

A produzir a uma razão de mais 850 T-Roc por dia, sem poder escoar pelo porto de Setúbal, as soluções alternativas de parquear os carros nos terminais do porto e, em recursos complementar, na base aérea do Montijo estão a esgotar os seus limites físicos, uma vez que a situação de paralisação da estiva em Setúbal.

O escoamento para o porto de Leixões e a operação, há cerca de uma semana e meia, de um navio no terminal privativo da Autoeuropa são ou foram paliativos que não solucionam o problema geral provocado pela inflexibilidade de posições entre os operadores portuários e o SEAL.

Também a The Navigator Company está a optar pela exportação de pasta e papel por outros portos nacionais, igualmente com sobrecustos, em tempo e dinheiro.

Aliás, segundo diversas fontes do setor, os dados ainda não divulgados das últimas semanas apontam para um aumento das mercadorias movimentadas nos portos de Sines, Leixões, Aveiro e Figueira da Foz, em benefício das mercadorias desviadas dos portos de Setúbal e de Lisboa, que se encontra em situação de conflito laboral há mais meses.

Desde sexta-feira passada, em que Ana Paula Vitorino, em comunicado, criticou a intransigência da posição da direção do SEAL no processo negocial que, assim, fracassou, "não houve evolução alguma", de acordo com Diogo Marecos.

O administrador da Operestiva estranha que, no âmbito do processo negocial ocorrido na semana passada, "o sindicato [SEAL] não tenha aceitado uma única alínea que propusemos".

Sobre o cenário de suspensão da laboração da Autoeuropa, Diogo Marecos critica que "cerca de 150 pessoas [estivadores do SEAL] que ganham cerca de dois mil euros por mês quando fazem trabalho extraordinário estejam a colocar em risco seis mil postos de trabalho [na fabricante de automóveis]".

Este responsável denuncia ainda que nos últimos dias tem havido situações de ameaças e vandalização de viaturas de estivadores que aceitaram as condições propostas de contratação de trabalho por parte da Operestiva, assegurando que já foram alvo de queixas apresentadas à PSP - Polícia de Segurança Pública e que estão a ser investigadas pela PJ - Polícia Judiciária.