António Varela, ex-administrador do Banco de Portugal, deverá ser proposto para a presidência do conselho geral e de supervisão (CGS) da Caixa Central do Crédito Agrícola Mútuo, o equivalente a chairman da instituição, no triénio 2019-2021, apurou o Jornal Económico. Por sua vez, Licínio Pina será proposto para mais um mandato como presidente do conselho de administração executivo (CEO), na assembleia geral marcada para 25 de maio.
A lista dos órgãos sociais para o próximo mandato deverá ser conhecida esta semana, cumprindo as novas regras para a nomeação dos elementos do conselho geral e de supervisão, que entraram em vigor com a revisão dos estatutos que teve lugar no mês passado. Essa alteração, realizada sob a alçada do Banco de Portugal, obriga a que a maioria dos membros do CGS passem a ser independentes das 80 caixas de crédito agrícola que compõem aquele que é o sétimo maior banco em Portugal.
O supervisor terá a última palavra sobre todos os nomes propostos, no âmbito do processo de verificação de idoneidade (fit & proper) previsto na lei. Um dos primeiros nomes que serão avaliados pelo supervisor é o de António Varela, que foi, ele próprio, administrador do Banco de Portugal com o pelouro da supervisão prudencial, entre 2014 e 2016.
Varela foi nomeado para o cargo por Maria Luís Albuquerque e, durante dois anos, geriu dossiers sensíveis como o da reestruturação do Montepio, sendo visto como potencial sucessor do governador Carlos Costa. Porém, a sua posição enfraqueceu a partir de 2015, com o surgimento de várias polémicas, como a que resultou do facto de ser detentor de ações. Entretanto, a relação com o governador tornou-se tensa e, em março de 2016, António Varela pediu a demissão, por discordar da estratégia e dos métodos de gestão seguidos pelo supervisor.
Além do BdP, António Varela tem no currículo passagens pela banca de investimento da UBS, pela Cimpor e pelo Banif, como administrador não-executivo indicado pelo Estado (2013/2014). A resolução do Banif, aplicada em 2015, terá sido, de resto, um dos pontos de discórdia entre Varela e Carlos Costa.
O Jornal Económico tentou obter esclarecimentos junto do Crédito Agrícola, mas fonte oficial não quis comentar.
Conselho Geral e de Supervisão passa a ter maioria de membros independentes
No Crédito Agrícola, Varela deverá presidir a um conselho que tem funções de supervisão sobre a gestão do banco. Ao contrário da maioria dos bancos em Portugal, o Crédito Agrícola utiliza o modelo de governação dualista, composto por um conselho geral e de supervisão, conselho de administração executivo e revisor oficial de contas.
No conselho geral estão representadas atualmente nove caixas de crédito agrícola mútuo. No entanto, por orientação do Banco de Portugal, os estatutos do banco foram alterados em fevereiro, estipulando que, a partir do próximo triénio, cinco dos nove elementos do conselho passem a ser gestores independentes, sem qualquer ligação às caixas associadas.
A Caixa Central de Crédito Agrícola é responsável pela coordenação e supervisão das 80 Caixas de Crédito Agrícola Mútuo e é liderada por Licínio Pina desde 2013, há dois mandatos. O gestor trabalha no banco há mais de 30 anos, sendo o seu lugar de origem a Caixa de Crédito Agrícola da Serra da Estrela.
O Crédito Agrícola tem cerca de 650 agências, o que significa que tem a maior rede de balcões em Portugal. O grupo tem previsto fundir nos próximos anos 20 caixas, passando das atuais 80 para 60, justificando com a pouca rentabilidade e eficiência de algumas e ainda com a necessidade de cumprir exigências regulamentares que só são possíveis com caixas de maior escala.
Os resultados de 2018 ainda não são conhecidos, sabendo-se apenas que no primeiro semestre teve lucros de 64,2 milhões de euros. Já em 2017 obteve 150 milhões de euros de lucro.