É um dia como os outros em frente aos Armazéns do Chiado. Talvez a única coisa que se estranhe seja o calor de final de tarde. O sol incide na roupa com intensidade. As pessoas passam e confundem-se umas com as outras. Depois de um olhar atento – como quem espera por alguém –, a multidão apressada em mais um dia de trabalho contrasta com os turistas, mas há uma pessoa que se sobressai: caminha pausadamente, com casaco de pele, óculos escuros, anel no mindinho esquerdo, rosto e cabelo meticulosamente cuidados, que não denunciam os anos que já viveu. É António Calvário, e mesmo que ninguém o reconheça naquela confusão, há algo de inconfundível no artista que representou Portugal pela primeira vez no Festival Europeu da Canção, em 1964.