Pensei em ir de férias sem escrever mais artigos, pois os casos e casinhos já não são notícia e a comissão parlamentar à TAP pariu um rato. No entanto, a OCDE publicou recentemente um relatório onde diz que Portugal é o país europeu onde os custos salariais são os mais elevados. Sendo certo que Portugal é, também, o país onde os impostos são os mais elevados, pensei que deveria escrever o que sinto sobre a economia portuguesa e o seu contexto.
Numa conjuntura inflacionista, com a brutal subida de taxas de juro activas dos bancos e consequente desespero das famílias e das empresas em sobreviver, vejo o Governo paulatinamente a propagandear o crescimento económico, o aumento do PIB e a redução da dívida pública. Ora, é bom que se diga que este crescimento económico se deve ao sector privado malgré as políticas asnáticas deste Governo. Mais, tudo quanto depende do Governo funciona mal.
O Serviço Nacional de Saúde a colapsar, a escola pública paralisada, a justiça inexistente, a defesa ridícula, a habitação com medidas perversas ao seu fomento, a rede ferroviária a perder o momentum de aproveitar os subsídios europeus, o aeroporto a voar, as empresas públicas a serem geridas mal e porcamente e a execução orçamental (e.g. cativações e incompetência) fica sempre aquém do orçamentado.
A redução da dívida pública é apenas relativa ao crescimento do PIB, apesar da maior folga orçamental que se conhece, derivada do excesso da carga fiscal, porque aquela dívida cresce em termos absolutos.
A pergunta que se coloca é porque é que a economia cresce, as exportações aumentam e, em termos económicos, não saímos mal na fotografia? Excluindo o crescimento exponencial do turismo, sem qualquer apoio visível do Governo (antes pelo contrário, como por exemplo, o recente ataque ao alojamento local), tal é devido, em parte, à incompetência do Governo.
O sector privado da saúde cresceu inexoravelmente por causa dos problemas atávicos do SNS. Nunca o sector privado escolar cresceu como agora, face à paralisação da escola pública por força das greves dos professores.
O sector bancário apresenta resultados espectaculares, ajudado pelo crescimento das taxas de juro activas e induzido, em parte, pela descida inexplicável da taxa de juro dos certificados de depósito emitidos pelo Estado, deixando de exercer alguma pressão concorrencial sobre a banca. É caso para dizer que este Governo socialista ajuda inadvertidamente o sector privado como nenhum governo de direita o faria.
Só a construção da habitação é que não vai crescer, fruto da política cega de congelamento das rendas. Que sentido faz limitar a actualização das rendas a 2% num cenário inflacionista? Já para não falar que essa limitação se aplica inexplicavelmente a arrendamentos comerciais…
O sector exportador, maioritariamente industrial ou agropecuário, não têm qualquer apoio do Governo. A execução do PRR é ridícula e a maior parte do bolo é dedicado à administração pública. A digitalização da mesma, até à data, serviu apenas para a apresentação do cartão de cidadão como cartão contactless. Tudo pobre. É caso para dizer que esta é uma sad season…
Post scriptum: sobre o relatório da CPI sobre a TAP, basta ler as conclusões ou recomendações ao Governo que se fazem no relatório para se perceber que ficou por relatar a gestão desastrosa e danosa que este Governo fez na TAP.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.