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Sensei aposta no retalho de luxo

A startup de software para retalho vai também investir em novos mercados, como Espanha e Reino Unido.

Abrimos as portas de ferro de um elevador antigo na Rua Braamcamp, em Lisboa, e subimos até ao 5º andar, onde tocámos à campainha daquela que é uma das startups portuguesas na lista das 100 mais promissoras do ano para a revista “Wired UK”. Abriram-nos a porta da tecnológica e entrámos num apartamento “igual” a tantos outros – mas não foi engano. Não havia open spaces com vista panorâmica sobre a cidade nem dezenas de informáticos, programadores e engenheiros alinhados atrás de computadores, mas uma sala com televisor e sofá.

Ainda que se assemelhe a uma casa, é ali que a Sensei testa as soluções de software que desenvolve para lojas e supermercados: perspetivas 360º, por exemplo, que permitem detetar prateleiras vazias, ver o caminho dos clientes no local, perceber se os produtos expostos lhes captam a atenção, contar o fluxo de entrada e saída no estabelecimento ou ver se as suas interações se traduzem em compras. Ao percorrer a sala também estamos a ser analisados, através de video intelligence implementado nas câmaras de vigilância.

“À parte a fintech, o retalho é das áreas que está a sofrer a maior disrupção, e parte da responsabilidade é da Amazon. Hoje em dia, cada vez mais, vemos robótica e Inteligência Artificial (IA) a entrar nas lojas. É uma indústria gigante. Todos os dias toda a gente vai às lojas”, afirma ao Jornal Económico Vasco Portugal, um dos fundadores da empresa. “Uma em cada dez pessoas trabalha para o retalho, e se formos olhar para o grosso da receita 90% vem do espaço físico e não no digital. Tudo o que é roupa e produtos alimentares há uma componente emocional que se valoriza”, explica.

O projeto Sensei nasceu no seio da consultora Meta, mas enquanto organização viu colocada a primeira pedra em setembro de 2017. Joana Rafael e os seus dois sócios, Vasco e Paulo Carreira, aperceberam-se de que a tecnologia na qual se tinham especializado tinha uma grande aplicação neste segmento de atividade. Atualmente conta com uma lista de investidores que começa em Lisboa e voa até Düsseldorf e ao Colorado, está a trabalhar com uma das maiores cadeias de luxo do mundo, e prepara-se para apostar em Espanha e no Reino Unido.

“Trouxe os meus sócios para a área do retalho, onde me sentia quase como um ‘peixinho na água’ porque nasci numa família que trabalha há mais de 50 anos no retalho. Desde miúda sempre tive muito ligada a esse negócio e familiarizada com esse meio porque trabalha o verão todo nas lojas das marcas que tínhamos”, conta Joana Rafael ao semanário. Segundo a Chief Operating Officer (COO) da Sensei, o retalho está a sofrer uma grande transformação desde que que o e-commerce implodiu há cerca de uma década.

“Neste momento estamos a trabalhar com alguns mentores que trabalham com cadeias de retalho espanhola, nas quais nos têm estado a introduzir. Vamos também agora em outubro uma semana no Reino Unido para contactar com clientes e potenciais clientes, na expectativa de abrir também esses mercados”, refere a COO.

Em fevereiro, a Sensei captou um investimento pre-seed de meio milhão de euros das retalhistas portuguesa Sonae IM, através da Bright Pixel, a alemã Metro AG e do acelerador norte-americano Techstars, para investir em IA e video intelligence. Dois meses depois, foi selecionada a participar num dos maiores programas de aceleração a nível mundial, o Impact Growth.

Vasco adianta que “grande parte da aplicação desse capital tem sido no desenvolvimento do produto: utilizar a mesma tecnologia para resolver muitos outros problemas”. “O posicionamento para onde estamos a ir, uma aplicação mais ampla do produto, vai mudar o conceito de loja e a forma com o retalho físico é gerido”, diz o porta-voz da empresa que garante ter os valores de um ‘sensei’ [mestre].