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Como o "Efeito Ronaldo" influencia a receita de um clube

A DBRS considera que Cristiano Ronaldo, dentro e fora de campo, é um caso paradigmática, naquilo que são os jogadores de classe mundial que dão mais sucesso financeiro aos clubes, do que desportivo. Para a Juventus, "a contratação de Ronaldo é claramente um passo para ajudar o clube a atingir o próximo nível comercial", lê-se no documento da agência de notação financeira canadiana.

"Se Cristiano Ronaldo fosse um clube, a sua receita seria maior do que a de muitos clubes que ele vai defrontar na Serie A, nesta temporada". É assim a agência de notação financeira DBSR avalia o que considera ser o "Efeito Ronaldo", no recém-publicado relatório "Para lá do Efeito Ronaldo: A mudança no panorama comercial do futebol europeu" , a que o Jornal Económico teve acesso.

No comentário da DBRS há um capitulo dedicado aos chamados marquee players - atletas de classe mundial altamente rentáveis para os clubes mais ricos - em que o caso de Cristiano Ronaldo é paradigmático. Isto é, quando o português trocou o Real Madrid pela Juventus, numa transferência que rendeu 112 milhões de euros aos merengues, em julho deste anoo que estavam em causa era para os italianos de Turim era muito mais do que os atributos e influência desportiva de CR7 - tratava-se, também, de uma questão comercial.

O madeirense tem 332 milhões de seguidores nas redes sociais e a sua página de Facebook é a mais seguida atualmente, o que leva a DBRS a considerar que Cristiano Ronaldo tem, em si mesmo, a dimensão de um clube de futebol dos tempos modernos. Quando o futebolista português chegou ao Real Madrid em 2009, o clube espanhol estava comercialmente avaliado em 401 milhões de euros, sendo que em 2016 o seu valor comercial era de 620 milhões de euros. Mas, segundo a norte-americana "Forbes", o 'Real de Ronaldo' cresceu, "notavelmente", de 1,35 mil milhões de euros para 3,48 mil milhões de euros. Agora, a equipa de Turim quer ganhar pela mesma receita, cujo denominador comum é Cristiano Ronaldo.

Fonte: DBRS e 'Deloitte Money League reports'. Os anos analisados de Cristiano Ronaldo no Real Madrid estão assinalados a vermelho.

Mas, como se explica que Cristiano Ronaldo tenha uma influência tão grande no valor comercial e na acumulação de receita de um clube? Patrocínios é a resposta. Recuperando a frase da DBRS no início do artigo, grande parte da receita de Cristiano Ronaldo "provém de uma série de patrocinadores internacionais que os clubes desejam atrair para si, também".

A título de exemplo da importância dos patrocinadores para os clubes, em Itália, a Juventus é o clube que atualmente domina o futebol, mas, contrariamente ao sucesso desportivo, é o Inter de Milão que obtém maior receita de fontes comerciais. Isto porque a equipa de Milão é detida pelos chineses da Suning.

Para a Juventus, "a contratação de Ronaldo é claramente um passo para ajudar o clube a atingir o próximo nível comercial", lê-se no documento da agência de notação financeira canadiana.  Prova disso está o impacto da chegada de Ronaldo a Turim, após a assinatura do contrato com a Juventus. Nesse mês, a conhecida vechia signora tornou-se o clube de futebol com mais interações (trendy) na rede social Twitter, somando, então, um milhão de novos seguidores em tempo recorde. No Youtube, das 3,07 milhões de visualizações que os conteúdos da Juventus tinham registado antes da chegada de CR7, em junho, registaram mais de 36,3 milhões de visualizações. Hoje esse valor é superior a 235 milhões de visualizações.

"A Juventus pertence à mesma família [os Agnelli] que controla a Fiat Chrysler, que, por si só, tem um conjunto de patrocinadores associados, mas sobretudo [patrocinadores] italianos. A contratação do atleta mais rentável do mundo atrairá novos patrocinadores e ajudará a Juventus a entrar em novos mercados internacionais", conclui a DBRS naquilo que teoriza como "Efeito Ronaldo".

Neymar segue o 'livro' de Ronaldo

O brasileiro Neymar, a referência da seleção brasileira e dos franceses do Paris-Saint Germain (PSG), é o fenómeno 'desportivo-comercial' que mais se assemelha ao que a DBRS chama de "Efeito Ronaldo", dentro do futebol. O brasileiro protagonizou a transferência mais cara da história do futebol, quando, em agosto de 2017, saiu do Barcelona para o clube parisiense por 222 milhões de euros.

O objetivo do clube detido pela Oryx Qatar Sports Investments, cujo o CEO é o Nasser Al-Khelaïfi - considerado pelo "L'Equipe" o homem mais poderoso do futebol francês, é o mesmo que a Juventus tem perante Ronaldo: "procurar receita comercial de outras fontes". E Neymar encaixa, segundo a agência canadiana, na estratégia do PSG.

A maior parte das receitas de Neymar têm origem nas marcas que o brasileiro dá a cara e, ainda, por todo o buzz que gera nas redes sociais. O número dez da seleção brasileira tem mais seguidores nas redes sociais do que o PSG e do que a Nike, o principal patrocinador de Neymar. De facto, desde a chegada de Neymar ao Parc des Princes - o estádio do PSG -, o principal clube da 'cidade luz' viu o seu buzz nas redes sociais crescer em 30% e as suas vendas de merchandising aumentaram 78%.

Mais a influência desportiva e comercial de Neymar ajudou - salienta a DBRS - o PSG a firmar dois novos patrocínios com a Unibet e Renault, respetivamente, "no valor de milhões de euros por ano. E na Ásia, o PSG conseguiu uma parceria de três anos e meio com a agência chinesa de propaganda desportiva, a Deports, "para explorar a crescente popularidade do clube no continente", graças a Neymar.

A DBRS lembra, ainda, que um atleta pode sempre lesionar-se e, por isso, é um risco um clube "não deve colocar todos os ovos na mesma cesta". Contudo, "jogadores como Neymar e Ronaldo podem valer a Liga dos Campeões e isso cria oportunidades comerciais extraordinárias".