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André Ventura acusa Rui Rio do "maior roubo de identidade na história do PSD"

O vereador de Loures assume que pode liderar um pedido de congresso destitutivo e assegura que numa semana consegue 2.500 assinaturas para provocar a destituição do líder do PSD. Mas decisão só será tomada após a aprovação do OE/2019. Até lá, Ventura pretende promover consensos internos por considerar que atitudes de Rio representam “uma revolução” da identidade do PSD.

André Ventura, vereador da câmara de Loures e militante do PSD, quer um congresso extraordinário para clarificar a identidade do partido e reclamar a eventual destituição do seu actual líder. Em causa está o desconforto interno que posições sucessivas de Rui Rio têm gerado no maior partido da oposição como o convite aos críticos a saírem do PSD até a aproximação a medidas propostas pela BE como a designada taxa Robles. Na próxima semana, reúne-se com Rio, num encontro onde irá reclamar a procura de consensos internos e o abandono da lógica de confronto.

São precisas 2.500 assinaturas para provocar a destituição do líder do PSD, e André Ventura, o polémico ex-candidato a Loures, diz que consegue - em apenas uma semana. Mas remete decisão de congresso destitutivo para dezembro após a aprovação do Orçamento do Estado de 2019.

“Caso Rio e a sua direção se mantenham inamovíveis em relação a estes factores, não há outra hipótese senão ouvir novamente os militantes naquilo que me parece ser o maior roubo de identidade na história do PSD”, avançou ao Jornal Económico André Ventura, que apoiou Santana Lopes nas diretas.

Este responsável explica que o objectivo passa por “ clarificar em que águas é que este partido e o centro-direita português querem viver: se ser uma cópia disfarçada do PS ou uma autêntica alternativa situada no espectro do centro-direita português”. E aponta as baterias para um eventual congresso extraordinário: “é para isso que servirá o congresso extraordinário, que certamente muitos militantes históricos, dirigentes nacionais e locais não deixarão de apoiar para defender a identidade do PSD.

Esta posição de André Ventura surge depois de nesta terça-feira, 18 de setembro, em declarações ao jornal i, ter admitido que numa semana temas 2.500 assinaturas “para realizar um congresso, se necessário“, manifestando a vontade de ser o rosto daquele que seria o primeiro movimento formal com vista à destituição de Rui Rio da liderança do PSD.

Ao Jornal Económico, André Ventura realça que “há plena consciência de que este deveria ser um tempo de unidade e esforços comuns para atingir os objetivos eleitorais e políticos dos desafios que se aproximam”.

O vereador de Loures deixa ainda um alerta: “ignorar o que se tem passado, nomeadamente com as atitudes do atual líder do PSD, é permitir que o partido se continue a afundar e a perder identidade ao longo dos próximos meses, chegando já as eleições europeias de maio sem qualquer hipótese de vencer...pior, com um cenário de transferência de votos para outros partidos inédito na história da democracia em Portugal.

 

Aatitudes de Rio alvo de discórdia e desconforto

Fontes sociais democratas consideram esta iniciativa como uma espécie de “congresso de identidade do PSD” depois de episódios sucessivos que envolveram o seu actual líder, mas tal como André Ventura remetem a decisão e apoio a esta iniciativa para dezembro após a aprovação, ou não, do OE/2019.

No centro da discórdia e desconforto interno entre militantes, e até deputados do PSD, estão as recentes declarações de Rui Rio a convidarem os seus críticos internos e saírem do Partido, chegando mesmo a sinalizar que os que discordam “estruturalmente” da sua liderança tentam “destruir o partido” enquanto é líder.

Entre os episódios protagonizados por Rui Rio que são do desagrado de alguns militantes do PSD está ainda a recente defesa pela chamada taxa Robles, tendo o líder dos social democratas chegado a defender a medida proposta pelo BE para travar a especulação imobiliária ao afirmar  que ela “até não é má” e que não rejeita liminarmente. Uma posição que não foi bem acolhida internamente por militantes e deputados do PSD .

Depois de o PS ter rejeitado no início da semana passada qualquer apoio à ideia bloquista, Rio veio a público dizer que a medida “não é tão disparatada”.  "Não estou a dizer que somos favoráveis àquilo que possa vir a ser proposto pelo Bloco de Esquerda, agora não rejeito liminarmente, não é assim uma coisa tão disparatada", afirmou o líder social-democrata.

No seu espaço de comentário na SIC aos domingos, Marques Mendes já considerou estas declarações um "tiro no pé".

Já depois do Conselho Nacional do PSD, onde o seu líder passou a mensagem de que por princípio o partido não pode ser contra uma medida só por ser proposta pela extrema esquerda,  Rui Rio insistiu que é preciso refletir sobre a questão da especulação imobiliária e admitiu que o PSD vá a jogo com uma proposta própria.

O PSD não vai deixar morrer o tema e, em sede de Orçamento do Estado para 2019, deverá apresentar uma proposta que diferencie a tributação das mais valias em função do período de detenção. Segundo esta ideia de Rio, "quem vende uma casa ao fim de dez anos teria uma taxa, quem vende ao fim de 20 ou 30 anos se calhar não pagaria nada, e quem anda a comprar e vender pagaria bastante porque anda a inflacionar o preço do mercado". O líder do PSD salientou estar a falar de diferenciar a taxa do IRS já existente sobre mais-valias e não "de uma nova taxa".

 

Congresso de identidade só é decidido em dezembro

Para já, as declarações do vereador da câmara de Loures não passam de mera intenção.

Ventura não revela se há outros nomes dentro do PSD que apoiem esta iniciativa e diz que será em dezembro que tomará uma decisão efetiva de ir ou não contra Rui Rio. O sentido de voto dos social democratas na proposta de lei do 0E/19 pesará nesta decisão. Mas não será o único factor que levará à marcação de um congresso destitutivo. Pesam também as posições que Rui Rio poderá vir a definir ao nível interno.

Fonte social democrata explica aqui que estas posições passam  quer a nível de um compromisso de deixar o confronto com os seus críticos e procurar restabelecer consensos a nível interno, fortalecendo o partido no sentido de orientar os seus esforços para ganhar as eleições legislativas de 2019. E também por  “não se contentar com uma possível aliança com o PS caso o PCP e o BE não viabilizem o OE/2019” e precipitem eleições legislativas antecipadas como já sinalizou o Presidente da República caso o próximo OE seja chumbado.

André Ventura  aguarda, assim, a posição de Rui Rio no debate do Orçamento do Estado para 2019, que se vai passar entre outubro e final de novembro e qual será a posição do PSD na viabilização do  Orçamento de Estado para 2019, receando os seus críticos que uma eventual abstenção signifique um apoio ao PS. Um cenário que colocaria o PSD a dar um sinal de estar disposto a fazer alianças com o PS, em caso de derrota nas próximas legislativas, deitando por terra a ambição de ser governo .

 

Ventura encontra-se com Rio na próxima semana

Na próxima semana, o vereador de Loures irá encontrar-se com o líder do PSD; esta reunião foi agendada depois de Rio ter afirmado, no programa Bloco Central da “TSF”, que quem “discorda estruturalmente” da linha seguida pelo partido deve seguir o exemplo de Santana Lopes e sair.

“Espero reunir com Rui Rio na próxima semana - porque essa foi a garantia que me foi dada - e perceber se há ou não um esforço de promover consensos e objetivos comuns. Ou se a lógica de confronto vai continuar...com ameaças às distritais e aos candidatos autárquicos do partido, com  convites para abandonar o PSD e com a revolução de identidade que parece querer aproximar o PSD do Bloco de Esquerda”, afirmou André Ventura ao Jornal Económico, realçando que “a discussão e a posição do partido no próximo orçamento de Estado terá, obviamente, também uma grande importância”.

André Ventura, apesar de assumir que pode “liderar um pedido de congresso destitutivo”, afasta, contudo, o interesse em assumir o controlo do partido no futuro.

“Tenho dito que o dr. Luís Montenegro é a única solução e não pode virar as costas ao PSD nesta altura”, disse ao “i”.

Em janeiro, apenas duas semanas depois de Rui Rio ter vencido as eleições diretas contra Santana Lopes, já André Ventura dizia que não acreditava que Rui Rio devolvesse as vitórias ao PSD, e anunciava uma pré-candidatura às próximas diretas. “Rui Rio vai manter o PSD neste círculo de enorme proximidade ao PS e ao politicamente correto. Duvido muito – Deus queira que esteja errado – que nos leve à vitória [nas legislativas] em 2019”, dizia na altura à revista Sábado.