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Corrida por oferta curta e atrativa. Como a Sonae MC pode chegar ao preço máximo da OPV

O preço das ações da Sonae MC será determinado pela procura, que os analistas antecipam ser elevada entre investidores de retalho nacionais. No entanto, poderá haver fatores que levem a um desconto nos títulos da empresa.

O preço das ações do negócio de retalho da Sonae MC poderão rondar entre os 1,40 euros e os 1,65 euros, segundo apontou a empresa nas informações divulgadas sobre a Oferta Pública de Venda (OPV) que começou esta segunda-feira. A forte atratividade esperada e a pequena percentagem disponibilizada a investidores de retalho leva os analistas a apontarem para o valor mais elevado do intervalo.

"O mercado bolsista português é pequeno e as entradas em bolsa têm sido um sucesso, com os investidores ansiosos por não perderem uma oportunidade de investimento, como foi o caso da Raize", afirmou Carla Maia Santos, senior broker da XTB, ao Jornal Económico.

Considerando o valor mais elevado do intervalo das ações, a Sonae MC poderá vir a ser a décima empresa com maior capitalização de mercado no PSI 20, ligeiramente abaixo da casa-mãe Sonae, que tem atualmente uma capitalização de mercado de 1,78 mil milhões de euros. Se as ações forem vendidas a 1,65 euros, a Sonae MC ficará acima dos CTT, que passariam para o 11º lugar do índice que conta atualmente com apenas 18 cotadas.

O valor poderá, no entanto, ainda ser revisto em alta já que será estabelecido pela procura. Numa nota de research publicada no verão, os analistas do Haitong apontavam para uma capitalização de mercado de 1,8 mil milhões de euros.

broker nota que uma OPV é sempre uma surpresa, mas também que a Sonae é uma empresa conhecida de todos os portugueses. "Diria mesmo uma empresa querida que faz parte do dia-a-dia, se não for pela utilização direta, pelo menos por encontrar a marca todos os dias na rua", afirmou Carla Maia Santos.

Preços acessíveis aos pequenos aforradores

A oferta será de até 217,36 milhões de ações ordinárias existentes no capital social da Sonae MC, SGPS, através de uma oferta pública a investidores qualificados e não qualificados em Portugal, bem como uma oferta particular internacional a certos investidores institucionais em outras jurisdições.

Dado o intervalo de preços anunciado no prospeto, o valor base da oferta situa-se entre 304 milhões e 359 milhões de euros e a avaliação da Sonae MC entre os 1,4 mil milhões de euros e os 1,65 mil milhões de euros. O valor final será definido consoante a procura de investidores nacionais e internacionais pelos títulos.

"O intervalo de preços é de fácil acesso a nível de investimentos e com 5% das ações dispersas em bolsa para os pequenos aforradores é muito provável que a procura fique acima da oferta levando o preço para o topo do escalão", disse a senior broker da XTB.

A Sonae anunciou que irá colocar até 25% do capital da Sonae MC em bolsa, sendo que apenas 5% se destinará a investidores de retalho. A equipa de research do Bankinter considera que "uma avaliação razoável" da Sonae MC será de 1.622 milhões de euros, o que implica um preço por ação de 1,62 euros.

Mercadona e procura por atratividade dão descontos

"Esta avaliação representa ainda um múltiplo EV/EBITDA’18 de 7,8x, abaixo da média de 8,5x do setor na Europa (distribuidores alimentares). Este desconto face à media do setor reflete o entorno altamente competitivo em Portugal, agravado pela entrada de novos players internacionais no país, como a cadeia espanhola Mercadona", explicou o Bankinter, que estima um crescimento anual de 2% das vendas até 2021.

Os analistas do banco sublinham que a recomendação sobre o título irá depender do preço final da colocação. Contudo, dizem esperar um desconto na ordem dos 10% face à avaliação que consideram ser razoável da empresa, com vista a oferecer potencial aos investidores que participem na OPV, o que poderá levar para a avaliação para 1,460 milhões de euros.

"O intervalo de preço é ligeiramente mais alto do que esperávamos, mas consideramos que é uma oferta de preço razoável quando comparado com os principais pares europeus", diz Francisco Veiga, portfolio manager da Orey Financial. "É muito difícil de prever e acreditamos que se o preço da colocação for feito a partir do ponto intermédio da oferta será uma operação bem sucedida".

Veiga também espera uma forte procura das ações da Sonae entre os investidores de retalho, mas menos junto de investidores institucionais. Ao retalho, a oferta será de até 50 milhões de ações e, dependendo da procura, a Sonae MC pode realocar até 25 milhões ações da oferta de retalho à institucional reduzindo ainda mais a dimensão da primeira.

Dividendos até 50% do lucro

A oferta pública irá continuar, no caso do retalho, até 17 de outubro e, no caso dos investidores institucionais até ao dia seguinte. A ações serão admitidas à negociação na Euronext Lisbon a 23 de outubro, com o ticker SONMC. A Sonae SGPS pretende manter a posição de acionista maioritária da Sonae MC e diz ser expectável que o montante de free float da Sonae MC corresponda a 21,74% ou a 25% caso a opção de over-allotment seja exercida na totalidade.

Apesar de o portfolio manager da Orey Financial considerar que a Sonae MC é atrativa por oferecer exposição a um setor defensivo, numa empresa local histórica, com características únicas, diz preferir ganhar exposição a este negócio através da Sonae SGPS.

O gestor considera, no entanto, que os dividendos poderão ser um fator de atratividade adicional. A distribuição de dividendos ainda será decidida e aprovada pela assembleia geral de acionistas, mas a Sonae MC anunciou ser da opinião de que a política de dividendos da deve ter como alvo um rácio de pagamento de aproximadamente entre 40% e 50% do lucro líquido ajustado a itens não-recorrentes.

"A avaliação, a preços de mercado, da Sonae SGPS de 1,7 mil milhões de euros quando comparada com a avaliação da Sonae MC, de 1,52 mil milhões de euros [média do intervalo de preços da oferta] fica especialmente atrativa considerando que irão dispor (no ponto intermédio da oferta) de cerca de 380 milhões de euros adicionais para possíveis dividendos", referiu Veiga, acrescentando que a diferença de avaliação entre ambas de 180 milhões de euros é o preço de mercado de todos os outros negócios do grupo que geram cerca de 1,8 mil milhões de euros de receita anual.