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"Não há ‘bolha’ imobiliária, há é falta de produto", afirma André Jordan

O empresário luso-brasileiro falou em entrevista ao Jornal Económico à margem do Prémio André Jordan, e aos 85 anos continua a pensar em projetos alternativos para o setor imobiliário.

"Não há ‘bolha’ imobiliária, há é falta de produto e se continuar a não aparecer produto suficiente para atender os vários setores do mercado pode haver alguma preocupação nesse sentido". É deste modo que André Jordan olha para o panorama do imobiliário português, apontando a "falta de planeamento em geral", e de "de coesão entre os promotores" na promoção do setor.

O empresário luso-brasileiro marcou presença no "Prémio André Jordan" na passada quinta-feira, 6 de dezembro, que premiou Teses de Doutoramento/Artigos Científicos ligados ao imobiliário, e em entrevista ao Jornal Económico, olhou para o passado e projetou o futuro, apontando ainda falhas ao Governo no processo relativo ao Alojamento Local.

Como olha para o atual panorama do mercado imobiliário em Portugal?

Tem tido uma evolução extraordinária desde que comecei a trabalhar há 48 anos em Portugal. Em todos os sentidos: da arquitetura, da construção, do planeamento e do urbanismo, apesar de que durante este período também houve muitas coisas más, basta olhar para a periferia de Lisboa, que deixaram-na destruir com a falta de planeamento. Também há muitas coisas boas, como o ter atraído o mercado externo, que é bastante importante para a nossa economia e isso provocou um upgrade e uma qualificação da nova construção que hoje está ao nível das melhores do mundo.

Com quase 50 anos de carreira em Portugal, ainda lhe falta fazer algo nesta área?

Aos 85 anos é muito temerário dizer que ainda vou fazer mais alguma coisa, mas vou, enquanto tiver as possibilidades e as condições físicas e materiais para continuar. Estou a pensar em projetos alternativos, numa evolução do tipo de oferta em projetos mais micro e menos grandiosos. O Belas Clube de Campo (na zona de Sintra) é um projeto a longo prazo, como a foi a Quinta do Lago (Algarve) e Vilamoura que continuam em evolução 50 anos depois. No almoço de Natal (do André Jordan Group) costumo sempre dizer que “nós somos os construtores das catedrais. Colocamos a pedra, sabemos que ela vai lá ficar, mas não vemos a obra pronta”. Tenho tido a sorte de ver a obra muito pronta. Mesmo o Belas Clube de Campo que teve grandes atrasos por razões políticas e de mercado, mas está muito adiantado de tal forma que voltei a morar lá novamente com dois dos meus filhos.

Algum desses projetos poderá surgir em 2019?

Não. Estamos a estudar essas alternativas. É preciso muito cuidado e um planeamento muito seguro, acho que a grande falha do nosso mercado é a falta de planeamento em geral, a falta de coesão entre os promotores para promover o destino e o setor. É tudo muito individualizado o que faz com que não exista uma presença promocional forte, que só um conjunto empresarial pode trazer. Não há grandes empresas. Há boas empresas e importantes, mas não há empresas dominantes no mercado. Esta é uma área onde temos de nos juntar melhor, apesar de haver algumas organizações como a APPII (Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários), que reúne as pessoas, mas não há programas conjuntos de promoção.

Considera que existe a chamada ‘bolha’ imobiliária ou é apenas o mercado a funcionar?

Costumo brincar e dizer que a bolha são borbulhas. Os altos preços que se alcançaram são muito poucos. Diria que entre 40 a 100 casos acima de oito a dez mil euros por metro quadrado. Não há ‘bolha’ imobiliária, há é falta de produto e se continuar a não aparecer produto suficiente para atender os vários setores do mercado pode haver alguma preocupação nesse sentido. Nunca houve especulação no mercado português. O que chamo de especulação é comprar para revender rapidamente, isso é que é especulação. O resto é investimento, que pode ser mal feito se tiverem pago em demasia à pessoa, mas não é especulação. Curiosamente, a aparente especulação que houve foi de um homem que combatia a especulação, o vereador do Bloco de Esquerda [Ricardo Robles] que afinal investiu para especular.

Como analisa todo o processo relativo ao alojamento local?

Penso que houve uma falha do anterior Governo não ter promovido reuniões entre as partes interessadas para criar uma regulamentação que atenda os interesses das várias partes: os proprietários, os residentes, dos promotores de alojamento local. Porque entenderam uma política liberal de “deixa correr que o mercado organiza-se”. Isso não aconteceu e agora é mais difícil, mas está a acontecer felizmente. Se fosse consultado, diria que o alojamento local tem que ter as mesmas regulamentações que a hotelaria e haver uma política de impostos também igual.