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Jean-Gabriel Ganascia: "Os agentes da internet querem restringir o poder do Estado para substituí-lo"

Especialista em inteligência artificial, ciências cognitivas, filosofia computacional e ética das novas tecnologias, professor na Sorbonne, Jean-Gabriel Ganascia considera que a "Singularidade" é um mito. Diz que devemos olhar para perigos mais concretos e reais, nomeadamente a forma como o desenvolvimento tecnológico e as empresas que o promovem nos restringem a liberdade.

Cristina Bernardo

Considera a Inteligência Artificial um risco real a curto prazo, mesmo pondo de lado a ideia da "Singularidade"?
A Inteligência Artificial transforma a sociedade. Isso não constitui um risco existencial para a humanidade, hoje, pelo menos, nada nestas tecnologias sugere que haja uma mudança no status da humanidade. No entanto, poderá levar a grandes distúrbios políticos se não existir uma preparação, porque as relações sociais são alteradas, especialmente a ideia de responsabilidade. Ou seja, pode ser que um médico que não cumpra a sugestão de agentes programados com técnicas de inteligência artificial seja passível de ser processado; isso resultará inevitavelmente numa perda de liberdade e num conformismo que é muito restritivo e muito perigoso. Do mesmo modo, todas as noções elementares que constituem a malha do tecido social, como a reputação ou a confiança, são transformadas: a reputação torna-se uma questão de algoritmos; tal como a confiança também é estabelecida com algoritmos, como os da "blockchain", sem que tenhamos de recorrer a uma autoridade. E o mesmo se aplica a muitas outras noções. Essas transformações terão consequências consideráveis para a sociedade.

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